Eventos • 25 Jul 2018
Eventos • 30 Ago 2018
Ferrari 166MM de 1950 regressa a Portugal após décadas para o Caramulo Motorfestival
O primeiro Ferrari a entrar em Portugal, em 1950, e que se encontra fora do país há mais de meio século, está de volta para participar no Caramulo Motorfestival. O Ferrari 166MM Barchetta Touring de 1950, e que ostenta o chassis #0056 M, vai ser assim a grande estrela, a par com o Ferrari 500 Mondial de 1955, do maior festival motorizado em Portugal.
Para a organização do Caramulo Motorfestival, “este é um regresso há muito aguardado e que finalmente vai acontecer, tratando-se de um momento de grandes dimensões a nível histórico e até emotivo. Poder ver este automóvel de volta em solo nacional, e no Caramulo, não vai deixar ninguém indiferente.”
O Ferrari, que pertence agora à família sul-africana Van Zyl, regressa a Portugal para participar na Rampa Histórica do Caramulo.
A história do primeiro Ferrari a entrar em Portugal
A história deste raro, magnífico, icónico e lendário automóvel, em particular este exemplar com “Carrozzeria Touring” *3451*, começa no dia 10 de Junho de 1950, quando João A. Gaspar, importador e agente representante da Ferrari em Portugal, no seu belo salão de exposição, situado na Rua Passos Manuel, 225, na cidade do Porto, recebe um Ferrari 166 MM Barchetta Touring, com o chassis *0056 M*, de azul escuro metalizado, e equipado com dois faróis de nevoeiro na dianteira e acabamento interior de competição, para entregar a José Barbot.
Ficou registado com a matrícula PN-12-81, pela Direcção Geral de Viação do Porto.
Logo no mesmo ano, em 15 de Setembro, José Júlio Marinho adquire o Ferrari a José Barbot.
O Ferrari iniciou, a sua extensa participação em competições em Portugal, no I Grande Prémio de Portugal, em 17-Junho-1951, realizado na Boavista, Porto, conduzido por Guilherme Guimarães, sob o pseudónimo de “G. Searamiug”, com o #6, na porta. Qualificou-se em 10° lugar entre 29 participantes. Todavia terminaria a corrida precocemente completando apenas 4 voltas.
De seguida correu no X Circuito Internacional de Vila Real, conduzido novamente por Guilherme Guimarães, como “G. Searamiug”, com o #19. Obteve o 8° lugar na grelha entre 17 concorrentes, e foi forçado a desistir cedo da corrida na sequência de um pequeno acidente, em 15 de Julho de 1951.
Logo no dia seguinte, o 166 MM, correu no Festival Nocturno no Estádio Lima Porto, pelas mãos de Piero Carini, emprestado por G. Guimarães, com o #14. Conseguiu o 2° lugar da geral, tendo Giovanni Bracco sido o vencedor.
Participou no II Grande Prémio de Portugal, no Porto (Boavista) conduzido, de novo, por Guilherme Guimarães, desta vez sob o nome de “G. F. Oliveira”, com o #15, em 22 de Junho de 1952. Entre 22 rivais qualificou-se em 12° lugar da grelha, terminando a prova em 8° da geral, a cinco voltas do vencedor, Eugenio Castelotti.
Seguiu-se a corrida do XI Circuito Internacional de Vila Real, em 6 de Julho, pelas mãos de Guilherme Guimarães, com o #11, desta vez sob o seu próprio nome. Ficou em 10° lugar da grelha entre 20 pilotos, acabando a prova em 5° da geral, com três voltas de atraso para o vencedor, Casimiro de Oliveira.
Guilherme Guimarães levou o Ferrari a competir na Rampa da Penha, em Guimarães, com o #27 e obteve o 1° lugar na Classe II, em 27 do mesmo mês.
Seguiu-se a participação no III Circuito de Vila do Conde, com mais um pódio, novamente com Guilherme Guimarães ao volante, apresentado como “G. F. Oliveira”, #15, finalizando no 3° lugar da geral, a cinco voltas do vencedor Casimiro de Oliveira, que conduziu um 225 S Spider Vignale (#0180 ET) no fim de Agosto.
Voltou a correr no IV Circuito de Vila do Conde, #7, mas Guilherme Guimarães viu-se forçado a desistir. O vencedor foi Vasco Sameiro num 225 S Spider Vignale, numa prova, que decorreu em 27 de setembro de 1952, em que curiosamente participaram os 6 Ferrari de competição existentes em Portugal, isto é, o 225 S de D. Fernando Mascarenhas, o 340 America de José Nogueira Pinto, o 166 MM Barchetta de José Soares Cabral e o 225 S de Casimiro de Oliveira, que abandonou na segunda volta da prova.
O mítico Ferrari, ostentando o #10, inscrito no Grande Prémio Jubileu ACP, em Monsanto, qualificou-se em antepenúltimo lugar da grelha entre 19 participantes mas não chegou a partir para a prova, que teve lugar em 26 de Julho de 1953.
Obteve mais um 1° lugar do pódio, na Classe S2, com Guilherme Guimarães, no Trial de Velocidade do Porto (Km de Arranque e 500 m Lançados, em Pedras Rubras), no fim do referido ano.
Passados dois meses, o Ferrari 166 MM foi registado em nome de José Ferreira da Silva, residente em Anadia, e em 26 de Julho participa nos treinos do V Grande Prémio de Portugal, no Porto (Boavista), com o #23, mas não chegou a iniciar a corrida.
Durante o ano de 1956, o “0056 M” ficou guardado em Lisboa, na oficina Palma, Morgado & Cª Lda. juntamente com o primeiro 166 MM Touring Barchetta, registado em Portugal (chassis #0040 M), e de um 225 S Vignale Spider (#0200 ED).
O 166 MM foi vendido ao ATCA (Automóvel e Touring Clube de Angola) conjuntamente com o 225 S Spider Vignale, de D. Fernando Mascarenhas, #0200 ED, ambos com o objectivo de serem utilizados em competição, por condutores escolhidos pelo clube angolano, isto já no ano de 1957.
O #0056 M, conduzido por Maximino Morais Correia, participou no I Grande Prémio de Angola, em Setembro de 1957, mas não estabeleceu um tempo que lhe permitisse iniciar a corrida, em consequência de uma série de problemas mecânicos, mas em Setembro do ano seguinte corria a II Taça da Cidade de Luanda, onde terminou num 6° lugar da geral.
O clube ATCA escolhe, desta vez, Sebastião Borges Gouveia para participar, quer no III Grande Prémio de Leopoldville, no Congo Belga, #8, desistindo durante a corrida, quer no III Grande Prémio de Angola, qualificando-se em 21° entre 24 rivais e terminando em 16° e último da geral, a 19 voltas do vencedor, Curt Lincoln, provas que decorreram em Setembro de 1959.
Na prova seguinte a escolha recaiu sobre João Alves, que conduziu o 166 MM, agora equipado com o motor de 2.715 cc, do Spider Vignale #0200 ED, na Taça da Cidade de Lourenço Marques, Moçambique, #4 na Classe B, em Julho de 1960, terminando na 7ª posição da geral na prova, ganha por Syd van der Vyer.
No mesmo ano, o clube ATCA vende o “0056 M” a António Lopes Rodrigues que o regista em Moçambique, ficando com a matrícula MLM-14-66, e de seguida participa na Rampa da Polana, Lourenço Marques, aparecendo com a carroçaria pintada de branco, e também na “Formule Libre and Sports Car”, no Circuito Internacional de Lourenço Marques, #23, equipado com um motor BMW 327 de 6 cilindros (*39065).
Nova mudança de proprietário com Hugh Gearing, de Joanesburgo, África do Sul, a adquirir o Ferrari a António L. Rodrigues, e fica com a respectiva matrícula sul-africana, em Agosto de 1963. Acrescentou duas entradas de ar no capô e aberturas atrás das rodas traseiras.
Dez anos depois, Hugh Gearing vende-o a Robert van Zyl, (o actual proprietário) também de Joanesburgo, juntamente com o motor do 225 S, chassis #0200 ED, que mais tarde instalou.
Procedeu à decapagem da carroçaria, retirando 12 camadas de tinta e repintando-o de vermelho e tapando as entradas de ar atrás das rodas traseiras.
Robert van Zyl encomenda, em 1995, à DK Engineering a colocação no Ferrari de dois pára-brisas individuais.
Robert e Geerie van Zyl participam na Histórica Mille Miglia, com o Ferrari a ostentando o #294, na prova que devorreu de 9 a 12 de Maio de 1996.
No ano seguinte, Robert marca presença no encontro promovido pelo Clube Ferrari de África do Sul, na celebração do 50° Aniversário da Ferrari, na pista de Kyalami.
Robert e Patricia van Zyl conduzem o Ferrari, novamente na Histórica Mille Miglia, em Maio de 2004, #265, e, assim como, em Maio de 2011, com o #172.
Desta vez é Geerie van Zyl que participa com o 166 MM, no Troféu “Freddie March Memorial”, integrado no célebre “Goodwood Revival Meeting”, em 17 Setembro.
Na sua última aparição pública, o mítico Ferrari surgiu, mais uma vez, na “Mille Miglia” de 18 de Maio de 2017, conduzido por Robert e Patrícia van Zyl, ostentando o #214.
Como última nota, de referir que a designação 166MM do lendário Ferrari, deve-se ao seguinte facto de ter 166 cc por cilindro (2000 cc num V12 ) enquanto que o MM, é alusivo à vitória na corrida histórica da Mille Miglia, do seu antecessor Ferrari 166 Sport. Relativamente ao nome Barchetta, é a designação de um pequeno barco, em italiano, que serviu de inspiração para a forma da carroçaria.
Texto escrito por Abílio Santos para o Jornal dos Clássicos baseado na investigação do historiador automóvel Carlos Guerra.
Em 1967 o Ferrari 166 ainda estava em Portugal e estava no museu do Caramulo, cumprimentos