Competição • 02 Mai 2017
Sobre o Mini, o original, já se escreveu muito, já se comentou muito mais do que isso e também já vimos muita coisa. Existem Minis de tudo quanto é forma e feitio, e não há cantinho do mundo onde a presença do Mini não seja uma realidade. O Mini já foi estrela de cinema, automóvel do dia-a-dia, automóvel de “pop stars”, membro das forças armadas e policiais, automóvel de competição e objeto de culto.
Muitas variantes sobre o modelo, destacamos as versões de luxo Wolseley Hornet e Riley Elf, versão carrinha Morris Mini Traveller, Austin Mini Countryman, Mini Van, versão TT o Mini Moke, versão Pick-up de seu nome Mini Pick-up, são os modelos mais conhecidos. O Mini é grande em tudo. Na competição, na sua época destacaram-se em várias modalidades, desde os rallies, passando pelas perícias e gincanas, chegando à velocidade. Numa só palavra: Icónico.
Para escrever sobre o Mini, não podemos ignorar que terá sido também por causa da História no “capítulo 1956 – Crise do Suez”, que originou escassez de petróleo nessa época, que a BMC lançou o projeto de um automóvel para transportar quatro passageiros, pequeno, não mais que 3 metros de comprimento e com consumos baixos. Com um período de gestação de três anos, em 1959 o Mini viu a luz do dia com o arranque da sua comercialização. Rapidamente se tornou um sucesso e a sua popularidade alcançou níveis fantásticos.
John Cooper não foi excepção e foi apanhado pela minimania da época e em conjunto com o seu pai Charles Cooper, proprietários da Cooper Car Company empresa que corria com os seus automóveis na F1, tendo contabilizado inúmeras vitórias com pilotos de referência tais como Jack Brabham, Stirling Moss, Maurice Trintignant e Bruce McLaren. O sucesso do Mini não passou despercebido à Cooper, e começaram a trabalhar e desenvolver o pequeno Hercules que se tornou um vencedor a nível mundial tanto nos rallies como nas provas de velocidade.
O nome Cooper ficou para sempre associado ao Mini. Portugal não foi exceção, recordamos os pilotos dessa época, onde pilotos como José Lampreia, Manuel Gião, Alfredo César Torres, Francisco Romãozinho, Posser de Andrade, Manuel Bacelar, Carlos Edmond Santos, Raposo de Magalhães, Hipólito Pires, Colaço Marques, Salema Garção, Espirito Santo, Honorato Filipe, Miguel Correia, Rui Souto, Mercedes Geraldes e tantos outros de norte a sul do país mostraram as suas capacidades ao volante dos seus Minis.
Nessa época, destacaram-se alguns preparadores que acompanharam alguns dos nomes antes referidos, tais como Jaime Nunes Rodrigues e o seu braço direito Emanuel Paixão e Mário de Jesus.
Hoje apresentamos um Mini muito especial, o Mini de grupo 5 da PR Miniracing, equipa liderada por Paulo Ramalho que em conjunto com o seu irmão Rui Ramalho, Campeão Absoluto do Campeonato Nacional de Montanha 2017, disputam o Campeonato de Portugal de Montanha 2018, respetivamente ao volante de um Osella PA21 S Evo e Osella PA2000 Evo2.
Geralmente há um momento decisivo nos projetos a longo prazo, como é o caso do Mini da PR Miniracing, esse momento é, ou neste caso foi a aquisição do Mini. Nada como colocar o Paulo Ramalho na “pole position”, como quem diz na primeira pessoa para responder à nossa curiosidade.
Paulo, qual o motivo da escolha e se por acaso há alguma história que levou à aquisição?
“O motivo é simples… aprendi a conduzir com 9 anos no Mini 1000 do meu Avô, automóvel esse, guardado em estado de concurso e que se junta a mais alguns na nossa coleção. Como tal, aos 17 anos (Agosto de 1991) e como presente de entrada no Ensino Superior, o meu Avô deu-me a escolher um automóvel dentro de um determinado orçamento e a minha escolha não podia ser outra… Mini Cooper. Foi efetivamente uma escolha emocional e não sensata, mas da qual não me arrependo de forma alguma.”
Em termos de “pedigree” o que se pode dizer deste Mini?
É um Mini Cooper, com motor de 1.380 cc, carburador Webber 45 DCOE, preparado em Inglaterra pela M.E.D. – Engineering Services e Swiftune. O chassis tem preparação e desenvolvimento efetuado pela PR Miniracing. A caixa de velocidades é “close ratio”, de 5 velocidades, dentado recto, “quick shift”, com autoblocante, preparada pela Jack Knight. O resultado desta equação é uma potência de 129,2 CV às 7.600 R.P.M., com um binário de 128 NM às 6.370 R.P.M, uma potência específica de 93,62 CV / litro. A relação peso/potência é de 4,57 Kg/CV, para um peso de 590 Kg. O órgão mais potente, os travões, à frente discos ventilados / pinças KAD 4 pistões; trás discos / pinças KAD 2 pistões. Performance em pista temos os seguintes valores de referência de velocidade máxima, 180,45 KM/H às 7.930 R.P.M. (5ª v. raport Montanha) e 198,04 KM/H às 7.930 R.P.M. (5ª v. raport circuitos).
Sob o ponto de vista técnico, o vosso Mini Grupo 5, o que se pode destacar?
A utilização de uma caixa de 5 velocidades Jack Knight e respectivo autoblocante, que obriga a algumas horas de ginásio para trabalhar os músculos dos braços, discos de travão ventilados à frente e discos atrás, montados em braços de alumínio para respetiva redução de peso, disponibilidade para utilizar relações curtas ou longas, face ao traçado em que se vai participar, são os aspetos técnicos que destacaria, para além de um motor bem preparado com boa performance de binário e potência.
Qual a prova em que pilotou o Mini, que melhores recordações deixou?
Os Circuitos citadinos de Vila do Conde, Boavista e Vila Real pelo desafio constante, volta após volta, os Circuitos do Estoril e a participação no Circuito de Portimão aquando da sua inauguração. Em termos de Rampas destaco a Rampa da Serra da Estrela e da Falperra.
O Mini tem sido partilhado pelos irmãos Paulo e Rui Ramalho, ambos com um histórico invejável nas classificações das provas e campeonatos em que têm participado. Sempre que o Rui pilotou, qual a principal preocupação do diretor de equipa Paulo Ramalho?
As primeiras provas em que o utilizou, foram efetivamente por mim encaradas com bastante expectativa e nervosismo, como ainda o é agora, tendo dado instruções específicas diretamente ao Rui para não arriscar, dado que se poderia magoar e causar danos irreversíveis no Mini Cooper GP5, contudo, de nada adiantou, uma vez que desde logo começou apresentar um andamento bastante rápido e constante, realizando excelentes tempos para meu espanto e satisfação. É caso para dizer que “irmão mais velho sofre”.
O Mini, seja qual fosse a versão, sempre se destacou pela rapidez, o Grupo 5 não é excepção. Na vossa opinião e considerando os traçados das provas disputadas em Portugal, qual o traçado em que o Mini revela naturalmente todo a sua potencialidade?
Na realidade em todos os traçados sinuosos. No que se refere a Rampas destacaria Murça, Penha, Arrábida, Serra da Estrela e Cerveira. No que se refere a Circuitos indicaria Braga, em que a velocidade de ponta não tem uma importância capital. No caso do nosso Mini, poderemos montar uma opção de caixa que ultrapassa a mítica barreira dos 200 Km/h, contudo, nos traçados com longas retas, não é suficiente para ombrear com automóveis com melhor aerodinâmica e que atingem com facilidade velocidades na ordem dos 230 Km/h.
A pergunta de resposta difícil: O melhor e o pior do Mini?
O melhor: relação peso/potência, agilidade acima da média em traçados sinuosos, gozo proporcionado na sua pilotagem, mecânica autodidata e de custo acessível com diversas alternativas no mercado Inglês. Pior: velocidade de ponta limitada.
Sobre o futuro, o Mini continuará a participar nas competições, ou assumiu um estatuto especial dentro da vossa equipa?
O nosso Mini Cooper GP5 está de momento guardado na nossa garagem como símbolo e origem da nossa Equipa e como tal a sua venda nunca será uma possibilidade. “Nasceu” nas minhas mãos com as diversas alterações e evoluções que fui efetuando ao longo de diversos anos e como tal será sempre o automóvel especial da Equipa, mais de qualquer outro que tenha já utilizado ou venha ainda a ser comprado. Para já, dada a nossa participação a full-time no Campeonato de Montanha com os nossos dois Osella’s, não se prevê no imediato a sua utilização, contudo, encontra-se totalmente preparado e mantido para qualquer eventualidade imediata que possa surgir.
Percebemos que para falarmos deste Mini, teremos sempre que falar dos seus pilotos, que com muito trabalho, organização e perseverança, mantendo sempre uma atitude positiva mesmo perante as adversidades, têm demonstrado que os resultados aparecem.
Sobre este Mini, fica o nosso grande obrigado ao Paulo e ao Rui Ramalho que como habitualmente, disponibilizaram todo o seu tempo para nos esclarecer e ensinar.
O Mini da PR Miniracing, tal como a equipa e os seus pilotos, constituem património do desporto automóvel em Portugal, sem dúvida um exemplo de referência desde a linha de partida.
Fotos: Pedro Ferreira, Foto GTI e Paulo Braga.