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Por Fernando Diniz
Miki Biasion esteve em Portugal, no âmbito da promoção do Estoril Classics Week 2018, evento único no mundo, que ocorrerá no início de Outubro deste ano.
O piloto italiano faz parte do clube restrito de pilotos que competiram ao volante dos Lancias 037 e Delta S4. Campeão do Mundo de ralis em 1988 e 1989, vencedor do Rali de Portugal em 1988, 1989 e 1990, sempre ao volante de um Lancia.
Naturalmente simpático, objetivo no discurso, tivemos a oportunidade de ter uma conversa rápida e ligeira em discurso direto com Miki Biasion sobre o motivo da sua vinda a Portugal, sobre clássicos, o presente e futuro.
Acerca do Estoril Classics Week, o que pensa sobre este tipo de iniciativas?
Sou um entusiasta deste tipo de eventos, porque dão a oportunidade aos mais novos para perceberem o desenvolvimento da tecnologia, do “design” dos automóveis, das motas e ainda é uma excelente oportunidade do ponto de vista da competição, de exibição dos automóveis de competição do passado, o que torna muito interessante para nós pilotos que temos a oportunidade de conduzir novamente os automóveis que utilizámos nas competições.
De uma forma mais abrangente, procurando referências no passado, não perdendo o futuro de vista continuou…
Penso que o desporto automóvel, nesta altura não está a seguir o melhor caminho, a sociedade e o mundo estão a mudar. As competições elétricas são o futuro, mas o cheiro dos pneus, o barulho dos motores é algo que são a alma e o coração do desporto automóvel.
Por diversas razões, os automóveis clássicos têm muita procura. Além da componente de negócio, procura-se preservar o passado. Será que as gerações mais novas vão perceber os passos que a indústria e a tecnologia deram?
Penso que no passado as marcas conseguiam, especialmente nos ralis, uma quantidade enorme de informação para desenvolver e aplicar nas linhas de produção dos carros do dia-a-dia. Penso que na F1 é muito no limite, e muitas soluções da F1 são impossíveis de implementar na produção de automóveis. No meu ponto de vista, nos ralis os engenheiros obtêm muitas ideias novas, com potencial enorme de desenvolvimento e aplicação para os automóveis do futuro.
Comparando com os anos 80, os automóveis de ralis evoluíram muito, principalmente na eletrónica, suspensões e travões. O que pensa disto?
A tecnologia dos amortecedores, das suspensões, dos pneus, progrediu imenso. No passado o mais importante para os engenheiros era desenvolver a maior potência possível. Atualmente, os automóveis apesar de serem menos potentes, são mais rápidos que os antigos grupo B. Quero dizer que os carros agora são muito mais rápidos entre curvas e mesmo a curvar, pelo que penso que houve um grande desenvolvimento sob o ponto de vista das suspensões e da tração. A única coisa que não gosto nos automóveis atuais é que parecem todos iguais, com as soluções de asas e spoilers torna-se difícil perceber a marca do carro, temos que verificar na frente se tem o símbolo da marca do fabricante, porque ao procurarem as melhores soluções aerodinâmicas, tornaram os automóveis quase todos muito semelhantes. No passado havia uma grande diferença entre Ford, Audi, Lancia e Peugeot, eram muito diferentes.
Naturalmente, já a alguma distância da parte ativa da carreira de piloto, quisemos saber se pudesse recomeçar tudo de novo, o que alterava?
Estou orgulhoso da minha carreira, tive muita sorte em ter tido a oportunidade de ser um piloto de ralis profissional e competitivo nos anos em que os ralis eram muito populares, penso que conduzi os automóveis de competição mais fantásticos de sempre, os grupos B, que eram muito perigosos mas também muito potentes, numa época em que o público vibrava com a passagem dos pilotos.
Faz parte de um grupo especial de pilotos de ralis, os que venceram o Campeonato do Mundo. O que faz a diferença?
Penso que no passado era mais difícil ganhar um campeonato, porque no princípio de cada campeonato éramos dez ou doze pilotos com capacidade para vencer. Nos últimos 15 anos temos visto que apenas dois ou três pilotos têm capacidade para lutar pelo campeonato, um ganhou 10 vezes e outro ganhou 5 vezes, e de alguma forma tirou o interesse ao campeonato do mundo. Porquê? No passado o campeonato era muito mais competitivo entre muitos pilotos.
Miki, sempre foi muito rápido, para quem via parecia tudo muito simples. Sempre que mudava de automóvel, sentia dificuldade em adaptar o seu estilo de condução?
Cada vez que guiava pela primeira vez um automóvel de ralis ou o 1º protótipo, eu ganhei. Ganhei com o Delta 4WD, com Integrale, e o 16Valvulas, isso porque antes de conduzir em prova, testava e desenvolvia o automóvel até achar que era competitivo, e é essa a razão porque geralmente ganhava na estreia de um automóvel.
Um piloto de ralis tem de ter sempre um bom navegador. Tiziano Siviero foi sempre o seu navegador. A confiança, é a palavra-chave?
Eu e o Tiziano, estudámos juntos na mesma escola, em primeiro lugar tornámo-nos bons amigos, depois começamos a correr juntos, continuámos juntos na competição como profissionais, o feeling entre nós foi sempre muito bom. Tanto eu como o Tiziano fizemos provas com outros navegadores e pilotos, mas somos como irmãos. Ainda hoje após tantos anos estamos sempre em contacto, por isso a confiança é uma palavra-chave.
Sobre Portugal, alguma recordação forte que gostasse de referenciar?
Tenho imensas recordações. Ganhei muitas vezes. Mas uma das melhores recordações em competição, penso que foi em Portugal 1984 em que vim sozinho, sem a equipa de fábrica da Lancia, porque o “team manager” não, foi em 1985, o “team manager” disse que não eramos competitivos com o 037 em terra, contra o Peugeot e o Audi. Em conjunto com o JollyClub, decidimos participar no rali e acabámos no segundo lugar, entre o Salonen e o Walter Röhrll. Esta foi uma das minhas grandes satisfações em Portugal.
Sobre o futuro, com a velocidade com que tudo está a acontecer, será que os ralis vão manter o mesmo interesse?
Os ralis perderam muita popularidade no início dos anos 2000, em especial porque era sempre o mesmo vencedor e não havia muitas marcas envolvidas no campeonato. Agora com as novas regras desde o ano passado, os automóveis de rali voltaram a ser muito rápidos, com menos eletrónica, são mais espetaculares, há mais pilotos competitivos, há muitos carros diferentes, mais marcas competitivas, não há só um carro que lidere da primeira à última prova do campeonato, o que torna possível aumentar o número de candidatos à liderança e vitória do campeonato. Atualmente as regras estão no bom caminho, e por isso a popularidade dos ralis está a aumentar novamente.
Miki, estamos a chegar ao final desta nossa conversa, gostava de deixar uma mensagem para o futuro, para a geração seguinte?
É importante olhar para o futuro e para o desenvolvimento dos automóveis. Tem de haver um casamento entre os automóveis e o ambiente e têm que ser cada vez mais seguros, mas também é muito importante não esquecer o passado, porque sem história, não há futuro. Espero que as pessoas venham, apreciem e divirtam-se neste tipo de eventos como o Estoril Classics Week, porque podem comparar o passado, podem apreciar o presente mas podem pensar no que será importante para o futuro.
Para terminar, quando se está no “topo” a popularidade é grande e todos percebemos o que isso significa para os pilotos. Agora, não estando no ativo, a popularidade é menor. Como é que gere esta situação?
Eu disse que a grande diferença é que quando eu fui campeão do mundo de ralis havia revistas e algumas estações de televisão. Agora com as redes sociais, a internet, Facebook, Instagram, com todo esse género de comunicações, eu divirto-me muito mais do que no passado. Em Itália em especial, porque após me ter sagrado campeão do mundo de ralis mais nenhum italiano se sagrou campeão do mundo. As pessoas ainda se lembram de mim muito bem, e com as redes sociais, eu tenho todos os dias imensos contactos com os fãs, organizo também eventos para os clássicos, por isso acho que ainda tenho muita gente que continua a gostar de mim.
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