Arquivos • 06 Jun 2012

Sergio Marchionne, um autêntico self-made man e executivo de grande sucesso, com estilo informal muito próprio, nunca largando o seu “pullover”, uma personalidade distinta, destacou-se por via da transformação quase milagrosa que operou nas empresas por onde passou, sendo até chamado de “Steve Jobs” ou o salvador dos automóveis.
Sergio Marchionne nasceu, em 17 de Junho de 1952, em Chieti, na região de Abruzzo perto do Mar Adriatico, Itália.
Filho de um “carabinieri” emigrou jovem, aos 13 anos, para o Canadá com a família.
Fez uma boa formação escolar, no Canadá, no St. Michael’s College até ao ensino superior, e licenciou-se em Direito na Escola de Direito de Osgoode Hall, da Universidade de York, Toronto. Bacharelato em Comércio, pela Universidade de Toronto.
Obteve um diploma em Filosofia e um Mestrado em Administração de Empresas (MBA), na Universidade de Windsor.
Carreira Profissional Notável
O seu trajeto profissional passou pelo Canadá, Suíça e Itália.
De 1983 a 1985, Marchionne trabalhou como contabilista na Deloitte Touche.
De 1985 a 1988, começa como contabilista e passa a Director de Desenvolvimento de Negócios, no Grupo Lawson Mardon, em Toronto.
Foi nomeado Vice-Presidente Executivo na Glenex Industries, de 1989 a 1990.
De 1990 a 1992 passou a ser o CFO (Chief Financial Officer) na Aklands, Ltd.
Já de 1992 até 1994 foi CFO, no Grupo Lawson Mardon e também responsável pelo desenvolvimento dos departamentos jurídico e comercial.
A partir de 1994 até 2000, com a aquisição do Grupo Lawson pela Alousuisse Lonza, (Algroup) Marchionne mudou-se para Zurique, onde rapidamente passou a ser o respectivo CEO.
De 2000 a 2002 Marchionne tornou-se CEO e posteriormente presidente do Grupo Lonza, originária da separação da Algroup.
A partir de 2002, Marchionne foi nomeado CEO do Grupo SGS de Genebra, uma das líderes mundiais em serviços de certificação, inspecção e verificação, com perto de 50 mil funcionários, sob a alçada da família Agnelli. Em dois anos, sob a sua gestão conseguiu excelentes resultados dando-lhe fama e prestígio nos circuitos económicos e financeiros internacionais.
Este sucesso fez com que o presidente do grupo Umberto Agnelli o convidasse para integrar o conselho de administração da Fiat, em 2003.
Desempenho no Relançamento da Fiat
A capacidade de gerir empresas em situação deficitária e converte-las rapidamente em lucrativas, era precisamente aquilo que a marca italiana precisava.
Em 2003, a Fiat era um Império à beira do colapso, consequência de má gestão de vários anos e cuja cotação na bolsa atingia valores mínimos históricos. O império Agnelli, além do ramo automóvel, também tinha investido no fabrico de tractores e máquinas agrícolas, seguros, banca e energia.
A morte de Umberto Agnelli, com 69 anos, e o facto de Giuseppe Morchio, CEO do grupo na altura, se ter demitido em virtude de não ter sido nomeado presidente do Grupo, em detrimento de Luca di Montezemolo, da Ferrari, abriram caminho para que Marchionne passasse a ser o CEO da Fiat, em Junho de 2004, mais cedo do que o previsto.
A tarefa de Marchionne, que não tinha experiência no mundo automóvel e era o quinto CEO do Grupo em dois anos, na recuperação da Fiat para voltar a obter lucros, era um grande desafio. Mas em apenas dois anos, Marchionne transformou uma empresa moribunda com 6 mil milhões de prejuízo, numa empresa revitalizada a apresentar lucros e bem cotada na bolsa.
O Acordo com a General Motors
Um dos momentos importantes para a recuperação da Fiat foi o accionamento duma cláusula do acordo entre a Fiat e a General Motors, celebrado em 2000, que tinha passado para as mãos da GM 20% do capital da Fiat a troco de 2,4 mil milhões de dólares. Essa cláusula previa que se a Fiat pretendesse vender a sua divisão automóvel a GM teria que a comprar.
Marchionne utilizou essa cláusula para forçar uma indemnização por parte da GM, que já se debatia com graves problemas financeiros próprios, e não pretendia adquirir uma divisão auto deficitária.
Nesta negociação, que durou largos meses, Marchionne revelou mais uma vez, a sua inteligência, sagacidade e enorme talento negocial e conseguiu com que a GM pagasse 2 mil milhões de dólares à Fiat, para não ter de a comprar, colocando um ponto final numa parceria que durava há cinco anos.
“Anexar” o poder da Fiat Auto
Depois da genial “cartada” com a GM, Marchionne, que viu a sua influência e importância ainda mais reforçada, junto da família Agnelli, demitiu Herber Demel, CEO da Fiat Auto, ao argumentar que a divisão da Fiat Auto tinha sido a única divisão do Grupo a registar perdas financeiras em 2004. Deste modo, Sergio Marchionne passou a ser o CEO do grupo Fiat e da Fiat Auto.
Ao ser alvo de muitas críticas da imprensa e dos analistas económicos, Marchionne apresentou, em 2005, um plano estratégico gigante com a duração de cinco anos, para implementar a recuperação da Fiat, perante uma vasta audiência de jornalistas, e naturalmente dos representantes do capital do Grupo Fiat.
Esse plano ambicioso consistia no lançamento de 20 automóveis novos até 2008, e o investimento de 11,8 mil milhões de dólares para tornar lucrativas as marcas do Grupo italiano.
Iriam surgir novos automóveis da Lancia e íamos assistir à reedição do clássico 500, em 2007, a ser produzido na Polónia, com enorme sucesso até aos dias de hoje. Para apaziguar as críticas internas anunciou que não encerraria nenhuma fábrica em Itália.
A aquisição da Chrysler
Depois de uma aliança breve com a Daimler sem resultados positivos, a Chrysler encontrava-se numa grave situação financeira em 2008, agravada pela crise financeira global a nivel do comércio e indústria.
A General Motors viu-se forçada a solicitar ao tesouro norte-americano um resgate financeiro mas o Presidente dos EUA, Barack Obama, dado o avultado valor em questão e o receio de que a Ford também fizesse o mesmo pedido, recusou a ajuda. Além disso, para os cofres americanos, era menos dispendioso suportar o impacto social.
Marchionne, por um lado, pretendia aumentar escala comercial e entrar livremente no gigante mercado americano, bastante atractivo. Por outro lado, com a sua fama em alta, como recuperador e salvador de empresas, acreditava que podia “ressuscitar” a Chrysler e assim formar um grupo com enorme e forte poderio a marcar presença em ambos os continentes.
Após a Chrysler declarar falência, a Fiat comprou 20% do capital da empresa americana, em Abril de 2009, permitindo à Chrysler manter-se viva, continuando em actividade, e assim receber nova tecnologia, novos motores e plataformas da Fiat, permitindo-lhe lançar novos modelos.
Daqui resultou uma situação em que ambos ficaram a ganhar, aquilo que os norte-americanos designam de “win win”.
Em 2012, a Fiat aumentou a sua participação no capital da Chrysler atingindo 58,5%, e dois anos mais tarde comprou o restante capital, que era pertença do sindicato dos trabalhadores, e assim formou em 2014 a Fiat Chrysler Automobiles – FCA.
Em relação à Ferrari, Marchionne substituiu Luca Di Montezemolo, em Setembro de 2014, como presidente, e apesar de a tornar numa empresa independente, em 2016, Marchionne era o seu CEO, ficando sob o seu controle.
Derradeiro Acto Público
Em Junho deste ano, Sergio Marchionne apresentou o plano da nova estratégia da FCA até 2020, revelando que o foco incidiria nas marcas Alfa Romeo, Jeep e Maserati, e a colocação do Grupo no caminho da ofensiva eléctrica.
Anunciou também que a FCA tinha eliminado a sua dívida industrial, o que parecia impossível de alcançar tamanha façanha.
Ladeado por Jonh Elkann, seu sucessor e neto do presidente da FCA, Gianni Agnelli, as últimas palavras públicas de Sergio Marchionne foram “Emergir do pântano das dívidas representa uma mudança fundamental na imagem da empresa!”
Sergio Marchionne faleceu na passada Quarta-feira, dia 25 de Julho de 2018, em Zurique, Suíça, com 66 anos.