Clássicos • 14 Out 2019

O meu fascínio pelos automóveis começou cedo, ao conviver com cópias do Autosport e miniaturas da Burago do meu pai, que, no entanto, nada fez para me influenciar.
Mas foi inevitável e, com cinco anos de idade, respondia decididamente à típica questão “o que queres ser quando fores grande?”: – Quero ser mecânico.
Essa convicção foi-se mantendo, embora só mais tarde se viess a tornar absolutamente clara para mim.
Por algum motivo, que me é alheio, sempre tive um fascínio pelos automóveis clássicos e guardo comigo os dias em que um tio mais afastado regressava de férias dos EUA, e tirava da garagem o seu Ford Escort mk1 e me levava a dar umas voltas pela rua. Ainda hoje tenho presente o toque do vinil preto ressequido do tablier e do cheiro a gasolina queimada proveniente de um carro a carburadores.
Uns anos mais tarde, inspirado por uma tarde de corridas nas ruas do Porto, decidi que queria ir visitar a oficina que construía aqueles Alfa Romeo Sprint fabulosos do campeonato nacional 1300.
A entrada naquele pavilhão antigo com reclames da BP, já desgastados pelo tempo, marcou-me de uma forma muito especial. Pela primeira vez vi uma mão cheia de Alfa Romeo Bertone coupé, um Detomaso Pantera e um carro muito estranho e belo que, mais tarde, viria a descobrir no Gran Turismo ser um raro Alfa Romeo Giulia Sprint Speciale.
Todo aquele cenário me parecia fantástico e, no final dessa visita, dei por mim sentado numa Giulia de competição, entre tubos e um tablier de alcântara a dizer para mim mesmo “é isto, é isto que eu quero fazer, é isto que eu vou fazer”!
Viria, uns anos mais tarde, a laborar nesse mesmo lugar fantástico, ainda que por um curto espaço de tempo que, no entanto, me trouxe uma visão abrangente sobre os aspectos mecânicos de tempos idos, e sobre a arte que é a modificação da afinação de um automóvel.
Seguindo o percurso por mim delineado, ingressei em Engenharia Mecânica Automóvel e, não achando o bastante, decidi que precisava de um projeto interessante.
Um budget muito limitado barrava as minhas intenções de adquirir um belíssimo coupé italiano da série 105 e, quando nada de interessante aparecia, a máxima “tu não encontras um Alfa Romeo antigo, ele encontra-te a ti” fez das suas.
Apesar de ter passado ao lado da minha lista de opções, acabava de me tornar proprietário do automóvel “culpado” por toda esta jornada. Um Alfasud Sprint Veloce 1.5 muito original embora com alguns “podres” superficiais. Não era um projeto difícil, bastava reparar a chapa e montar tudo novamente.
Após um verão maravilhoso a somar quilómetros no odómetro depressa pensei que isso não seria o suficiente, “- isto tem muito potencial” – pensei.
O que começou então por ser apenas um upgrade de suspensão acabou por ser uma tarefa complexa de melhoria e aprimoramento envolvendo todos os meus conhecimentos de engenharia mecânica da “velha escola”, competição, arte e design.
Tendo obtido resultados que me satisfizeram imenso, senti que era tempo de dar o passo em frente e cumprir a promessa que havia feito naquela bela berlina cinzenta.
Ei-la fruto de muito esforço, muita resiliência e, acima de tudo, muita paixão, apresento-vos a Alma – Mecânica, uma oficina dedicada aos amantes da condução pura e da engenharia bela.
Parabéns! Uma tia minha tinha um exactamente igual. Lembro-me especialmente que tinha de ser bem ‘puxado’ de vez em quando para não desafinar.