Eventos • 06 Nov 2012
O desafio era simples: ir de Lisboa a Gouveia de Caterham 275 nas cores do Team Lotus, no dia 2 de Dezembro.
Era obrigatório não ter a capota, escolher estradas nacionais (excepto um troço na A23, para poupar algum tempo) e atravessar a Serra da Estrela. A apresentação oficial do 10º Aniversário do Museu da Miniatura Automóvel estava marcada para as 11 horas, com a tolerância de alguns minutos.
O percurso que cumpria os requisitos determinava 5h30 de viagem, com 30 minutos para reabastecer piloto e máquina. Felizmente, não havia chuva. A hora de saída ficou estabelecida às 5h00. O termómetro do telemóvel assinalava quatro graus e a noite estava muito calma.
Para o frio que ia enfrentar preparei-me de uma forma que me pareceu adequada. Três camadas de roupa térmica acima da cintura, dois pares de meias, umas luvas (levei dois pares, para descobrir qual seria o mais eficiente), casaco e gorro.
Fiz também um chá, que levei num termo. Contava que o motor 1.6 do Caterham também aquecesse um pouco o habitáculo. Arranquei rumo a Alverca, onde apanhei a nacional 10, que me levaria à ponte de Vila Franca de Xira.
Na véspera tinha preparado o Caterham para a viagem, com o pequeno depósito de gasolina atestado. A viagem não era um sprint, era um desafio de resistência e ritmo. Acertei a pressão dos pneus de acordo, com 2.8 bar à frente e 2.6 atrás. As especificações de fábrica ditavam 2.5 nas quatro rodas. O resultado foi um comportamento menos “solto” de traseira, menos divertido mas bastante mais seguro para a tarefa em mãos.
Este exemplar, propriedade da Caterham Cars Portugal, tem uma excelente especificação para a estrada, com bancos confortáveis, pelo que não fiquei preocupado com o estado das minhas costas no final da viagem.
Num Caterham ficamos sempre bem encaixados e a posição de condução é perfeita, embora eu talvez preferisse um volante um bocadinho maior. O problema é o espaço. Com um volante maior, ainda ficava menos disponível para os meus braços!
O Caterham rasgou a noite, nas estradas desertas até à ponte e eu estava encantado com a visão do capô longo e os faróis cromados lá à frente. Mas depois de passar a ponte, começou o frio a sério. Havia geada, que se formava em cima do Caterham e de mim, o que indicava temperaturas próximas dos zero graus.
Rapidamente descobri que devia ter trazido umas calças para a neve e que nenhum dos dois pares de luvas eram adequados. Infelizmente, não dava para acumular.
Passeio ao largo de Coruche, segui para Mora e subi para Montargil, desafiando o frio do Alto Alentejo com determinação e uma boa ajuda do chá quentinho. O motor do Caterham não contribui para aquecer o habitáculo, pelo que comecei também a sentir bastante frio nos pés.
O ventilador com que o carro estava equipado não trazia ar quente para o interior, apenas o ar frio do exterior que, francamente, já tinha à minha volta em quantidade… A atenção necessária para não me perder, juntamente com a presença de alguns pesados, limitou o ritmo de progressão, que deverá ter sido de cerca de 80 km/h.
A estrada praticamente não tinha iluminação e descobri uma característica curiosa no Caterham: sempre que ligava os máximos, uma luz azul no tablier acendia com tal intensidade, que me encadeava a mim!
Depois de Ponte de Sôr, fui apanhar a N118, passando pelo Vale de Gaviões, onde fiz a primeira paragem. O chá tinha acabado e estavam apenas 2º C. Eram 7h15 e o Sol já ameaçava nascer.
Segui rumo à Atalaia e depois, mais à frente, virei para a Barragem do Fratel, onde apanhei a A23, que me permitiu melhorar substancialmente a velocidade média.
O frio continuava a ser uma constante, sobretudo nas mãos e nos pés, mas precisava de chegar rapidamente a Belmonte, para reabastecer o Caterham, que tem uma autonomia a rondar os 320-350 quilómetros. Além disso, também precisava de aquecer um bocadinho.
Cheguei à estação de serviço de Belmonte às 9h00. Estavam 0º C! Em toda a viagem foi o local mais frio. O funcionário que me atendeu disse que, duas horas antes, estavam -9º C. Estive quase 10 minutos a aquecer-me junto ao escape do Caterham, antes de arrancar para a pastelaria Saribela, a única em Belmonte. Aí estive 25 minutos a tomar o pequeno almoço e a descongelar.
Manteigas era o próximo ponto de passagem. Cheguei lá através da maravilhosa estrada N232, sobretudo o troço que começa em Valhelhas. É de tal modo formidável que, se não tivesse uma missão para cumprir, tinha voltado atrás, para a fazer mais duas vezes.
Em Manteigas comecei a subir, ainda pela N232, até chegar a uma bifurcação, em que optei por explorar a passagem pelo Folgosinho e a Senhora Assedasse. Acabei por descobrir mais uma estrada gloriosa, perfeita para o Caterham e que me levou até Gouveia.
A vista é extraordinária, apesar da enorme devastação desta área nos incêndios deste ano.
Cheguei ao Museu da Miniatura com cinco minutos de atraso e tive o previlégio de ser recebido pelo Presidente de Câmara de Gouveia, Luis Tadeu e pelo Director do Museu da Miniatura, Fernando Taborda, bem como por cerca de uma centena de entusiastas que se reuniram para celebrar o 10ª Aniversário do Museu.
Foram acompanhando a minha viagem através da Facebook e receberam-me com muito carinho e entusiasmo.
Estacionei o Caterham na Praça do Município e uma parte da missão estava concluída.
Dez anos do Museu da Miniatura Automóvel
A cerimónia de abertura das comemorações foi muito interessante, com Fernando Taborda e Luis Tadeu em grande destaque, os dois vultos maiores deste interessante projecto.
Foi apresentada a intenção de ter novas instalações, maiores, para o Museu e foram entregues prémios aos vários coleccionadores que têm contribuído para a variedade dos modelos expostos.
Na visita à nova colecção do Museu, gostei particularmente dos modelos de F1 à escala 1/18. A Fórmula 1 foi mesmo o tema em grande destaque neste 10º Aniversário.
Após o almoço, deu-se a habitual tertúlia temática que, este ano, contou com a presença de três pilotos portugueses que participaram na Fórmula 1: Pedro Matos Chaves, Pedro Lamy e Rodrigo Gallego (F1 Histórica).
Participaram também os jornalistas José Miguel Barros e António Catarino. Eu estive em representação de Mário de Araújo Cabral, o primeiro piloto Português a correr na F1, cuja biografia escrevi em 2001.
O ambiente é sempre informal, divertido e acabamos todos por aprender coisas novas. O público muito informado levanta sempre questões pertinentes e, no final, há uma sessão de autógrafos com os pilotos presentes.
O programa continuo com um jantar oferecido pela Câmara Municipal, seguido por um concerto musical, neste caso, com o fadista Cámané.
Eu saí um pouco mais cedo, porque tinha a viagem de regresso para fazer no Caterham. Desta vez, optei pelo modo conforto: tenda sobre a cabeça e autoestrada. Demorei apenas três horas, num total de 9 horas de condução num dos mais divertidos automóveis modernos do mercado.
Cheguei cansado, mas satisfeito com esta aventura e agradecido pela possibilidade de estar com tantas pessoas que admiro e que contribuíram para que este projecto do Museu da Miniatura Automóvel se tenha tornado realidade. Estão todos de parabéns, a começar pela Câmara Municipal de Gouveia, a cidade onde eu nasci.
Com o sucesso da iniciativa (nem sequer me constipei!) fiquei com vontade de repetir e instaurar o desafio, alargado a todos os leitores do Jornal dos Clássicos, de ir novamente para o ano de descapotável ao 11º Aniversário. Quem alinha?
Mais informações sobre o Museu da Miniatura Automóvel de Gouveia aqui
Agradeço à Caterham Cars Portugal ter aceitado o desafio de participar neste acontecimento. Este Caterham Seven 275 encontra-se à venda
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