Bugatti Chiron, chuva e um milionário português...

Modernos 04 Abr 2017

Bugatti Chiron, chuva e um milionário português…

Por Hélio Valente De Oliveira

O convite surgiu inesperadamente. Um amigo foi convidado para testar o novo Chiron, no âmbito do programa para clientes que a marca tem conduzido nas últimas semanas em Portugal. Estes convites permitem levar família e amigos, que acompanham o potencial comprador, mas sem direito a conduzir. Apesar disso, a oportunidade de ver como são tratados os especialíssimos clientes da Bugatti era imperdível.

 

Bilhete de comboio marcado e lá vou eu a caminho. Pensava que o destino seria Belém, mas não. A meio da viagem novo telefonema. Afinal faziam questão de ir buscar o potencial comprador a sua casa, e daí seguiríamos para o local onde estavam os Chiron, algures no Alentejo. Foi uma correria da Gare do Oriente para o Estoril, mas consegui chegar dez minutos antes da hora marcada. Pouco depois soa a campainha era o nosso transporte, com motorista e Bentley Mulsanne, prontos para seguirmos viagem.

 

No meio de tanta sorte, um pormenor: chovia a cântaros! O que posso dizer do Mulsanne é que tem um comportamento bastante competente, mesmo debaixo do temporal que se fazia sentir, e dos imensos lençóis de água. A tranquilidade a bordo é digna de registo. Chegando ao local, aguardam-nos dois Chiron, imperturbáveis, debaixo da chuva intensa, como que a prometerem algo.

 

O sentido de drama está muito bem conseguido neste modelo, algo que faltava ao Veyron. A frente é muito agressiva, a lateral mostra uma eficácia pouco comum e a traseira é simplesmente fabulosa. O farolim de stop, uma peça única que envolve a totalidade desta, tem um encaixe muito pouco vulgar mas que resulta muito bem visualmente. Nota-se o cuidado posto no fluxo de ar sobre a carroçaria… E tudo feito com um bom-gosto extremo. Para um apreciador deste tipo de automóveis, o Chiron é um festim.

 

Isto de experimentar automóveis muito potentes com muito mau tempo está a tornar-se um hábito. Fomos recebidos por Andy Wallace (lembrar-se-ão do vídeo do McLaren F1 a atingir a velocidade máxima, nos anos 1990), um dos pilotos de testes da marca. De uma simpatia extrema, o Andy quis saber que tipo de automóveis e experiência o meu amigo tinha. Quando se deu por satisfeito, prosseguimos com as necessárias formalidades burocráticas e um dos Chiron foi atribuído com algumas explicações.

 

O Bugatti está equipado com pneumáticos que têm sulcos com sensivelmente metade da altura da oferta mais normal. São concebidos para rolarem a velocidades muito altas, onde a mesma altura pode induzir deformações que não serão nada benéficas. Em consequência o escoamento de água é algo comprometido, afectando o comportamento em piso muito molhado.

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Tudo uma questão de conduzir com mais precaução. Depois de esclarecido este ponto, e de uma corrida rápida até ao Chiron, com o piloto da marca ao volante, o motor deste é posto a trabalhar.

 

O som é incrível. Comparado com o Veyron, o Chiron é mais gutural, quase maléfico, com a sonoridade típica do 16 cilindros, sim, mas mais crú e com uma dose de graves nada normal. Embora seja um motor muito grande, onde alguma inércia seria de esperar, a avaliar pelos toques de acelerador e correspondentes subidas de regime, parece que é precisamente o oposto. O motor reage sem hesitações e com um à-vontade desarmante. A sonoridade aliada ao carácter impõem respeito. Aliás todo o carro faz isso. Os pormenores de acabamento são levados a um cuidado extremo. Mesmo um Bentley empalidece em comparação e, sabendo das especificações e performances que entretanto foram sendo divulgadas, este automóvel é uma obra-prima de engenharia, único. Respeito, portanto!

 

A experiência durou cerca de uma hora, sempre acompanhado pelo staff no hotel, através de GPS. Sabiam onde o carro estava, e o que estava a fazer em tempo real. Depois de regressarem ao hotel e de uma breve consulta aos dados gerados pela telemetria, ficamos a saber que, dos 1500 cavalos disponíveis apenas foram utilizados 600. Apenas? Com o clima a não se mostrar nada cooperante, é notável que estes tenham sido utilizados. Não consigo ver mais nenhum automóvel a fazer o mesmo com estas condições!

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Depois de mais algumas formalidades finais, sessão fotográfica incluída, despedimo-nos do simpático staff e regressamos a Lisboa, muito tranquilamente, no mesmo Mulsanne mas o ambiente a bordo era muito Bugatti.

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Se este test drive vai resultar na vinda de um Chiron em Portugal? É possível. Mas há que respeitar um aspecto incontornável: um preço de 2,4 milhões mais impostos (IVA e ISV, para um valor total a rondar os 3 milhões) impõe um período de reflexão adequado…

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