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Arquivos • 16 Out 2016
Rali do Algarve 1995: Despedida em grande dos pisos de terra
Por Pedro Branco
O tradicional posicionamento do Rali do Algarve no final do calendário de provas do Campeonato Nacional de Ralis levou a que muitas vezes a decisão final do luta pelos títulos em disputa. Tal como agora, também há 21 anos atrás isso aconteceu. E, podendo fazer o paralelismo, ambas disputadas em pisos de terra.
No caso de 1995, o rali ainda contava para o Europeu de Ralis (prova de coeficiente 5), mas a falta de apoios que a organização sentia, levou a que presença internacional se resumisse à presença de dupla Gaby Goudezeune/Filip de Pelsemaeker, inscritos pelo clube belga Duindestel.
Mas não era o Mazda 323 GT-R que captava as atenções. Essas recaíam no apuramento de quem se consagraria campeão nacional e ainda do agrupamento de Produção. À geral, a luta seria entre Fernando Peres (navegado por Ricardo Caldeira) no Ford Escort RS Cosworth 4×4 inscrito pela sua própria equipa, e Paulo Meireles, acompanhado de António Abreu, que, na sua terceira época entre os Consagrados, estava ainda na luta pelo título ao volante do VW Golf Rallye G60 que iria ficar encostado, pelo menos para ralis do Nacional, a seguir a esta prova, pois perdia a homologação no final do ano.
No que respeita à Produção a luta dava-se entre António Jorge, acompanhado por Miguel Ramalho, ao volante de um Renault Clio Williams e Augusto Magalhães/José Luis Simões (Ford Escort RS Cosworth 4×4) e Pedro Cunha e Carmo/Duarte Cunha e Carmo (BMW M3), enquanto que na chamada “Formula 2”, José Carlos Macedo/Miguel Borges precisavam de selar matematicamente a vantagem que tinham conseguido com um dos Renault Clio Maxi da Renault Gest Galp, eles que também tinham ténues hipóteses de conseguir chegar ao título absoluto.
Mas nem só de candidatos a títulos vivia a lista de 44 inscritos. Lá também estavam pilotos com aspirações à vitória no rali, como Jorge Bica/João Sena, que estavam em modo de despedida do Lancia Delta HF Integrale 16V, o carro que tinha ajudado o piloto de Almada a chegar ao título em 1993, Carlos Carvalho/José Alves no Mitsubishi Galant VR4 ex. Ralliart Germany ou Adruzilo Lopes/Luis Lisboa, inscritos pela Automóveis Citroen num ZX 16V. No que respeita ao Gr.N, para além dos pilotos já mencionados haveria sempre que prestar atenção ao regresso de Inverno Amaral, ao volante de um Escort Cosworth (navegado por José Manuel Conde), a Manuel Rolo/Carlos Mateus em Ford Sierra RS Cosworth 4×4 (naquela que era a estreia do piloto albicastrense ao volante de uma viatura de tracção total) ou Manuel Ferreira da Silva/António Picarote no Lancia Delta HF Integrale 16V inscrito pela F3 Auto.
A acção começou no dia 26 de Outubro, com abertura do secretariado no Hotel Atlantis em Vilamoura e com as verificações técnicas, efectuadas no pavilhão do NERA, na zona industrial de Loulé. Dos 44 inscritos, alinharam à partida 38.
No dia seguinte, o rali ia para a estrada. A primeira etapa era dedicada ao Barlavento, fazendo-se duas passagens pelos troços de Senhora do Verde, Romeiras e Chilrão, com os concorrentes a partirem de Lagoa. O primeiro troço é ganho por Peres, com Adruzilo Lopes a ficar pelo caminho com problemas eléctricos na bomba de gasolina (ainda assim o piloto de Regilde voltou no dia seguinte como carro 0). De seguida veio a primeira passagem por Romeiras, com Carlos Carvalho a fazer o melhor tempo e a passar para o comando, repetindo o feito no Chilrão. Na luta pelo título, Meireles sente problemas com o compressor do motor do Golf e perde 44 segundos nas Romeiras, acrescidos de dois minutos de penalização à entrada do Chilrão, troço onde Bica fura e perde pouco mais de um minuto para Carvalho. Entretanto, no segundo e terceiro troço do dia ficavam pelo caminho Pedro Cunha e Carmo e Ramiro Fernandes/Cruz Monteiro (Lancia Delta HF Integrale 16V).
Quando começa a segunda ronda, Inverno Amaral (com problemas de suspensão) e Francisco Teixeira/Mário Ferreira (Renault Clio Williams) engrossam as desistências na Produção. Peres acabará por reconquistar a liderança a Carvalho, sendo que no final do dia ambos já tinham uma boa vantagem sobre Bica. António Jorge liderava na Produção.
O segundo dia desenrolava-se na serrania do Sotavento, em muitas das estradas visitadas pelo WRC e mesmo pela edição de 2015, com a manhã a ser preenchida por uma ronda de duas passagens por Alcaria da Cume, Eira da Palma, Vale Covo e Santa Catarina, enquanto que pela tarde o mesmo sistema visitava os troços de S. Brás, Mealhas e Loulé.
A parte matinal vê Peres manter a liderança e Carvalho desistir depois de um despiste na segunda passagem por Eira da Palma, fruto da quebra do triângulo de suspensão dianteiro esquerdo, isto num troço em que Peres dá um ligeiro toque, abrindo a direcção e cedendo 18 segundos para Jorge Bica que, por seu turno, começa a sentir problemas de caixa de velocidades. Na refrega pelo Gr.N, António Jorge e Manuel Rolo estavam em grande luta, com este último a desistir na primeira passagem por S. Brás, devido aos problemas de suspensão que já vinham a afligir o Sierra. E é também na chegada território sambrazense que se dá outro golpe de teatro: Peres fura e cede a liderança do rali a Bica!
No troço seguinte Peres recupera o tempo perdido, com os dois a ficarem empatados na frente do rali, mas na segunda passagem por S. Brás o piloto da Duriforte volta ao comando com uma vantagem de 12 segundos. A segunda passagem pelas Mealhas acabou por ser a chave do rali: Bica desistia no penúltimo troço do rali com uma saída de estrada e Peres via assim aberto o caminho para a vitória, com uns largos 6m52 de vantagem para Macedo e 9m56 sobre Meireles. Seguiram-se ainda Goudezeune, que terminou o rali em crescendo, depois dos problemas de motor do primeiro dia, os veteranos Carlos Fontaínhas/Rogério Seromenho (Ford Sierra XR4i), que conquistaram o oficioso título de melhores algarvios, Jorge Rodrigues/José Alberto (Renault Clio 16V), António Jorge (melhor do Gr.N), Ferreira da Silva, Magalhães e “Jomaro”/Orlando Bandeira (Ford Escort RS Cosworth 4×4). Terminaram o rali 15 concorrentes.
O pódio em Vilamoura não foi tão festivo como de costume, pois a FPAK decidiu proceder a verificações pós-prova, algo novo na época e que causou algum mal-estar entre os concorrentes. Mas tudo acabaria por correr pelo melhor e Peres, Jorge e Macedo sempre se consagravam campeões a nível Absoluto, Produção e Formula 2, respectivamente.
Encerrava-se assim o último rali do Algarve em terra no espaço de 20 anos. Hélder Martins, o então director de prova, confidenciava à imprensa que por força da falta de apoios institucionais, o rali iria sair do calendário europeu e deveria passar para asfalto, assumindo um molde mais concentrado. Sendo assim, a despedida foi em beleza, pois a edição de 1995 foi rica em emoção no que toca à luta pelo primeiro lugar, com os troços típicos do sul a imporem-se a muitos dos concorrentes e máquinas.
Fotos: História do Rali do Algarve – 1970 a 1995 (Facebook)
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