Arquivos • 21 Mai 2014
Arquivos • 08 Set 2014
Lendas das Competição: Lancia 037 (1983)
O Lancia 037, por muitos também conhecido como Lancia Rally, foi automóvel que o Grupo Fiat escolheu, em finais de 1981, de continuar a participar no Mundial de Ralis, continuando a linha do sucesso que já vinha de automóveis como o Lancia Fulvia HF, o Fiat 124 Spider Abarth, o Lancia Stratos ou o Fiat 131 Abarth.
O facto de todo o projecto ser virado para um automóvel de apenas duas rodas motrizes, ao invés do que outras marcas já indicavam, que apontava para que o futuro dos automóveis de rali de topo fossem de quatro rodas motrizes, marcou definitivamente a história do Lancia 037.
O motor com quatro cilindros, 1995 c.c. de cilindrada e uma cabeça de quatro válvulas por cilindro, que derivava da que já tinha sido utilizada no bem sucedido Fiat 131 Abarth. Numa segunda fase da vida do Lancia 037 a adopção de uma injecção da água e o aumento da cilindrada para 2.111 c.c. melhorou a potencia e o binário do motor.
Em Portugal o primeiro piloto a utilizar um Lancia 037 foi António Rodrigues, que em 1984 adquiriu um destes automóveis, o chassis #318, com que brilhou na primeira etapa do Rali de Portugal / Vinho do Porto, onde andou ao nível dos pilotos oficiais fazendo uma prova de antologia que ainda hoje, passados 30 anos, perdura na memória de quem, ao vivo ou por relatos na rádio ou na imprensa, pode assistir. Rodrigues manteve este 037 em Portugal até ao final de 1984, alternando entre as provas de ralis e de velocidade, tanto em circuito como em rampas, e o 037 com as cores dos Calçados Fundador marcou uma época no panorama Nacional. No final do ano Rodrigues acabou por vender o seu automóvel para o Estrangeiro.
Focando-nos agora sobre o automóvel em exposição, um automóvel com um excelente palmarés e foi o automóvel que Massimo Biasion e Tiziano Siviero levaram ao segundo lugar da Classificação Geral no Rali de Portugal / Vinho do Porto de 1985. Na altura o automóvel tinha a decoração da Totip, característica à época dos automóveis geridos pelo Jolly Club, uma equipa satélite da própria Lancia. Nessa prova, disputada entre 6 e 9 de Março, este 037 tinha a matrícula Italiana TO W 52181.
Ainda em 1985 presume-se ainda que tenha sido este chassis #196 o vencedor do Rali Costa Esmeralda de 1985 tripulado pela dupla Dario Cerrato/Giusppe Cerri. Esta prova fazia parte do Campeonato da Europa de Ralis e foi disputada em Itália entre 17 e 20 de Abril. Continuava a ser um automóvel mantido pelo Jolly Club.
Depois de ter disputado em 1985 mais algumas provas do Campeonato Italiano e Europeu este 037 foi entregue ao piloto Português Carlos Bica a 16 de Janeiro de 1986 nas instalações da Abarth, em Itália.
Rapidamente decorado com as cores da Duriforte, a empresa de construção familiar que desde sempre esteve presente nos automóveis da família Bica, este 037 estreou-se no Rali Sopete, primeira prova do Nacional, onde acompanhado por Cândido Júnior o piloto de Almada obteve o segundo lugar da Geral.
Logo de seguida Bica teve uma curta aparição no Rali das Camélias, que em 1986 era uma prova extra-Campeonato mas que por ser disputada na zona de Sintra permitia um bom teste para o Rali de Portugal que se adivinhava. No entanto a prova de Bica foi fugaz, já que logo no primeiro troço um toque com a traseira deixou o bonito automóvel Italiano fora da competição no rali.
Seguiu-se o Rali de Portugal Vinho do Porto, onde Carlos Bica, fruto do abandono das equipas oficiais após o fatídico acidente de Joaquim Santos em Sintra, repetiu o segundo lugar que o seu automóvel já tinha conquistado no ano transacto pelas mãos de Miki Biasion.
A época de Bica com o 037 foi de altos e baixos, não participou no Rali dos Açores e esse facto, aliado a não ter conseguido vencer nenhuma prova, retirou-lhe todas as hipóteses de se sagrar campeão. Quedou-se pelo Vice Campeonato, o que, mesmo assim, já foi um excelente resultado, atendendo a que teve de lutar contra a equipa oficial da Renault Portuguesa e o seu Renault 5 Turbo guiado por Joaquim Moutinho e ainda contra o Ford RS 200 da Diabolique Motorsport, que com Joaquim Santos ao volante, foram dois adversários de peso e com estruturas maiores que a da Duriforte.
No final da época Bica e a sua estrutura deslocaram-se a Bolonha, para disputar a 13 e 14 de Dezembro o Memorial Attilio Bettega, uma prova que não só visava homenagear esse piloto Italiano recentemente desaparecido como era quase uma “celebração” do final de carreira no Mundial e Europeu de Ralis dos Lancia 037. Eram 25 pilotos diferentes que se enfrentavam ao volante desses automóveis numa prova integrada no Bolonha Motor Show, num traçado de cerca de um quilómetro muito técnico. Bica deu boa conta de si contra pilotos como Dario Cerrato, Salvador Servia, Patrick Snijers, entre outros.
Esta presença em Itália seria a última prova disputada por este 037 e depois disso este automóvel só muito raramente foi visto em público. Passados quase 30 anos de “hibernação” volta agora a poder ser apreciado pelos amantes destes fantásticos automóveis Italianos, num estado de conservação que resulta de ter estado guardado durante muitos anos mas que em breve regressará, estamos certos, a poder rodar como o fez durante boa parte da década de 80.
Este automóvel faz parte da exposição temporária “Lendas da Competição”, patente no Museu do Caramulo até ao dia 18 de Outubro.
Ficha técnica
1983
Itália
310 CV
4 cilindros
1.995 c.c.
5 velocidades
960 Kg
225 Km/h
Chassis #196