Arquivos • 04 Mar 2021
Desta feita falo de uma das histórias que mais me fascina dentro das que fui aprendendo ao longo dos anos de conversas e leituras sobre automobilismo. A primeira foto mostra Archie Scott-Brown ao volante do Lister Bristol no British Empire Trophy de 1955, disputado no traçado britânico de Oulton Park, onde ele e a sua equipa viriam a conseguir a sua primeira grande vitória. Digo grande, pois desde que a associação entre ele, Brian Lister e Don Moore tinha começado a produzir os seus próprios automóveis no ano anterior, que amealharam um chorrilho de vitórias nas mais diversas provas britânicas.
Convém aqui também lembrar que este escocês tinha nascido com uma série de deficiências a nível dos membros, que o deixavam numa aparente condição incapaz de conduzir um carro, quanto mais pilotá-lo. Contudo, ainda criança, o pai construiu-lhe um pequeno carro movido pelo motor do corta-relva, o que despertou e ajudou a estimular o jovem William Archibald no campo físico e psicológico, dando-lhe também o gostinho da velocidade.
Aquando da altura de prosseguir os estudos, Scott Brown ingressou na prestigiada Universidade de St. Andrews, onde foi colega de quarto de Desmond Titterington. E fora do quarto, lá na rua, estava um pequeno MG TD que tinha sido comprado com uma pequena herança que tinha recebido, e que rapidamente foi colocado à prova em pequenas competições, a partir dos idos de 1951.
Nos entretantos, o dinheiro para a escolaridade tinha-se acabado e Scott Brown mudou-se com a mãe para Cambridge, passando a ser caixeiro-viajante de uma tabaqueira. Nas horas vagas o MG lá continuava a ser esmifrado e chega aqui a ocasião do “encontro entre personagens”. Numa dessas pequenas provas, estava Brian Lister, à altura desmobilizado das forças armadas britânicas e músico de talento, cuja família tinha um negócio de engenharia também em Cambridge. Lister estava a correr no mesmo meeting com um Tojeiro equipado com motor JAP que tinha um carácter algo indomável. Com um mínimo de confiança de parte a parte, Scott Brown deu umas voltas com o carro projectado pelo luso-britânico John Tojeiro e ficou notório que tinha “mãos” (entre aspas, pois só tinha uma, o braço direito terminava num coto…). Este ano de 1953 marcaria o início da mudança na vida de Scott Brown.
1954 veria então esta parceria dar frutos, com Lister a aproveitar a empresa familiar para criar um carro de sport que receberia um motor MG ou um motor Bristol, consoante as classes em que se inscrevesse. Sucederam-se vitórias e pódios nas corridas nacionais britânicas e uma maior motivação para o ano seguinte.
1955 foi então um ano mais imperial para a pequena equipa de Cambridge. Das cerca de 20 participações com o Lister, Archie Scott-Brown conquistou uma série de vitórias, contou somente duas desistências e só por uma vez falhou o pódio, numa corrida de F. Livre em Ibsley, onde quem ficou à sua frente foram 3 F1’s… Nesse ano também disputou provas por outras equipas, como a Connaught, pela qual disputou as 9 Horas de Goodwood, assim como pelo importador britânico da DKW e o Jaguar C-Type de Manduca.
Já 1956 seria um ano para acalmar os ânimos no seio da equipa. É que a vinda do motor Maserati, tão invejado por eles por causa do 300S da Gilby Engineering conduzido por Roy Salvadori e que era o seu grande adversário nas provas britânicas e com natural vantagem técnica (embora o talento de Salvadori não fosse nada de descurar), viria a revelar-se um pequeno desastre, com o propulsor italiano a apresentar uma série de problemas, e a fábrica em Itália a não conseguir dar as melhores respostas. Para Archie, o ano tinha começado melhor, ao fazer as 12 Horas de Sebring como piloto oficial da Austin-Healey, fazendo equipa com Lance Macklin, numa das últimas participações deste piloto em provas de automobilismo. Quem também o (voltaria) convidaria para umas provas era a Connaught, mas desta feita não para provas de sport. O pequeno construtor fundado por Kenneth McAlpine colocou Archie ao volante do seu monolugar de F1, com o escocês a conseguir dominar a máquina no seu estilo cheio de drift. Bem impressionados com o que viram, acabaram por inscrevê-lo no GP da Grã-Bretanha desse ano. E assim estamos a aqui a falar deste grande piloto.