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Aston Martin DB2: Aristocracia Automóvel
Quando David Brown adquiriu a Aston Martin, em Fevereiro de 1947, comprou um nome e um protótipo, que pouco mais era do que um belo chassis com um motor antiquado. Por 20 500 Libras teria sido um péssimo negócio, não fosse o facto de, poucos meses depois, ter comprado também a Lagonda. É que esta também prestigiada marca inglesa possuía um motor muito avançado, de seis cilindros em linha, concebido por Walter Owen Bentley, nada menos do que o fundador da marca com o seu apelido.
Esta relação de proximidade entre as duas marcas culminou num processo natural de combinação de virtudes: o chassis da Aston Martin e o motor da Lagonda. É desta forma que nasce, em 1950, o Aston martin DB2 (que ostentava já, orgulhosamente, a sigla no nome do novo proprietário).
Equipado com um inovador sistema multi-tubolar, que lhe assegurava uma rigidez torsional de referência para a época, o DB 2 tinha um comportamento seguro e eficaz, a que não foi certamente alheio o facto de, antes de passar à produção, ter feito estágio nalgumas das principais provas europeias, como as corridas de 24 horas disputadas em Le Mans e Spa, ou as Mille Miglia. O seu motor de seis cilindros, era um dos mais refinados da época, disponível a baixos e médios regimes, apesar da potência reduzida de 105 cavalos, que possibilitava, todavia, 175 km/h de velocidade máxima. Alguns meses depois já existia a opção Vantage, que debitava mais 20 cavalos.
Em 1953 surge uma nova versão, designada DB 2/4, um pouco maior, que possuía dois pequenos lugares traseiros e um motor mais potente, para compensar o aumento de peso.
O DB 2 deu também origem a um modelo de competição designado DB 3, suplantado meses depois pelo DB3 S, já equipado com um motor de 2.9 litros. Este modelo iniciou o ataque da Aston Martin ao Campeonato do Mundo de Construtores para Automóveis de Sport, que a marca alcançaria em 1959. A vitória nas 24 Horas de Le Mans desse ano, com Roy Salvadori e Carrol Shelby, já com os DBR 1, foi o corolário desse esforço.
Quanto aos Aston Martin de estrada, a sua evolução foi progressiva, sendo contudo aparente o aumento de peso e dimensões que os modelos foram sofrendo, afastando-se cada vez mais do conceito de automóvel desportivo, leve e ágil. O DB 2/4 MkIII era já um automóvel mais refinado, mesmo se a sua suspensão revelava já limitações no conforto que os clientes exigiam nas viagens mais longas. O DB 2 permitiu à Aston Martin renascer das cinzas, mas foi o DB 4, apresentado em 1958, que a marca entrou no restrito nicho dos Grande Turismo.
O homem que salvou a Aston Martin
David Brown perdeu dinheiro em cada Aston Martin que produziu.
A Aston Martin nasceu em 1914, da associação entre um rico entusiasta – Lionel Martin – e um engenhoso mecânico – Robert Bamford. O nome Aston veio de uma prestigiada prova de rampa de Buckinghamshire. Movida pelo entusiasmo dos fundadores, a Aston Martin especializou-se no fabrico de pequenos desportivos, como a MG, a SS ou a Squire. Em meados dos anos vinte, o dinheiro acabou, e foi um pequeno consórcio de entusiastas que salvou a marca – situação que se repetiria em 1975, quando dificuldades financeiras obrigaram a fechar a fábrica. Os Aston Martin forjaram uma sólida reputação desportiva durante os anos trinta, com os Ulster e International, nas principais provas da Europa. Foi essa imagem que levou David Brown, industrial de componentes automóveis e máquinas agrícolas, a adquirir a marca, após a II Guerra. Encarando a aquisição da Aston como uma forma divulgar outras actividades, gastou muitos milhares de libras na reabilitação da marca. O próprio contava que, um dia, um amigo lhe disse que queria comprar um Aston Martin. Mas queria pagá-lo a preço de custo. Brown respondeu-lhe que então bastava adicionar 50% ao preço de venda!
David Brown ofereceu também as suas iniciais aos modelos da década de 50 e 60, tradição que, muito justamente, foi recuperada para os Aston Martin do século XXI, desde o DB7 ao DB9.
Aston martin DB2 1950-53
Motor: seis cilindros em linha; 2560 cc, 105 cv às 5000 rpm; alimentação por dois carburadores horizontais SU
Transmissão: às rodas traseiras; cx. manual de 4 vel.(primeira não sincronizada)
Suspensão: à frente, independente, por braços de guiamento, com molas helicoidais e amortecedores telescópicos; atrás: eixo rígido, barra Panhard, molas helicoidais e amortecedores telescópicos
Direcção: parafuso e sector
Travões: de disco à frente, de tambor atrás; com assistência
Chassis: separado, plataforma inferior com armação multi-tubolar carroçaria em aço, coupé de duas portas e dois lugares
Dimensões: comprimento: 4.128 mm; dist. entre eixos: 2.515 mm; peso: 1.134 kg
Velocidade máxima: 190 km/h
Marcos Históricos
1950 – Lançado o DB2, com motor do Lagonda 2.6. Coupé de duas portas e dois lugares. 400 exemplares, dos quais 50, descapotáveis.
1952 – Surge o DB3 de competição, com carroçaria Sport, tendo como base o mesmo motor do DB2
1953 – É apresentado o DB2/4, um pouco mais longo, com dois pequenos bancos traseiros e motor de 125 cavalos
1954 – DB 2/4 recebe novo motor de 2922 cc, 140 cv às 5.000rpm
1955 – Aparece o DB 2/4 MkII, maior e com algumas alterações no exterior e interior, disponível em coupé, descapotável e notchback (com uma secção traseira mais arredondada. Fabricaram-se cerca de 200 exemplares.
1957 – O DB 2/4 MkIII é o último da linha, redesenhado e com motor mais potente: entre 162 e 195 cv. Fabricaram-se 550 exemplares.
Texto: Adelino Dinis