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Manuel Palma – Crónica de uma vida acelerada
14 de Julho de 1973. Faz hoje exactamente 40 anos. A notícia chega de rompante e alarma todos aqueles que vivem com maior ou menor intensidade o fenómeno do automobilismo em Portugal: “Morreu o Palma”, dizia-se, “o Manuel Palma”. “Foi vítima de um acidente rodoviário”. Curioso final que o Destino preparou a quem dedicou uma vida inteira aos automóveis, a quem sempre tudo fez para os tornar mais rápidos e mais seguros. Mas a vida é assim: não somos nós que a controlamos, é ela que nos controla e sobre isso não adianta reflectir muito mais.
Manuel Palma era então um dos principais protagonistas da cena automobilística nacional. Com um longo percurso como preparador e como técnico de automóveis, tinha fundado em 1968 o Team Palma, a primeira equipa de corridas digna desse nome a existir em Portugal. Tinha carros competitivos, pilotos competitivos, mecânicos excelentes, uma estrutura logística a condizer e uma organização invulgar para o nosso meio. Como não podia deixar de ser, a equipa viria a coleccionar troféus e campeonatos, nomeadamente através do seu piloto “oficial”, um tal Ernesto Neves, a quem Manuel Palma e o resto do país tratavam carinhosamente por “Nené”.
Tudo começou em 1914, ano em que Manuel Palma nasceu e em que começou também a I Grande Guerra. Teve uma infância tranquila na zona de Setúbal e na adolescência parte para Queluz onde vai trabalhar como aprendiz de mecânico de automóvel, profissão que na altura prometia grandes futuros. Cresceu, aprendeu e fez-se notado, a ponto de ser convidado para trabalhar na Ford Lusitana, uma das maiores empresas de automóveis ao tempo existentes em Portugal, onde viria a conhecer Joaquim Morgado. É com este que mais tarde Manuel Palma vem a estabelecer a sociedade Palma & Morgado, empresa do ramo automóvel que conhecerá uma rápida afirmação no mercado nacional. Originalmente as oficinas de Palma & Morgado situam-se na Avenida Elias Garcia, em Lisboa, e desde logo começam por atrair uma clientela importante, como foi o caso da embaixada dos Estados Unidos.
Em 1947 Manuel Palma adquire um Ford V8 100cv Conversível e será este o carro com que fará a sua estreia no Rallye de Monte Carlo, em 1948. Faz equipa com José Amaro e Prista Capristano e conseguem terminar a prova num mais que respeitável 17º lugar. Mas o maior sucesso viria em 1951 quando este mesmo carro terminou o Rallye de Monte Carlo num brilhante segundo lugar da geral, desta vez tripulado pelo Conde de Monte Real, D. Fernando Mascarenhas e Manuel Palma. Esta classificação continua ainda hoje a ser a melhor alguma vez obtida por uma equipa portuguesa nesta “clássica” do desporto automóvel mundial.
No início da década de 50 as oficinas de Palma & Morgado mudam para a rua Visconde de Valbom, um espaço maior que permitirá melhor lidar com a assistência a marcas de nomeada tais como Jaguar, Ferrari, Maserati e, mais tarde, Lamborghini. O apoio financeiro de Maurício Vieira de Brito seria decisivo para esse grande “salto” qualitativo. Começa a constar-se que “o Palma” consegue resolver problemas que mais ninguém consegue, razão pela qual os proprietários dos automóveis mais sofisticados de Lisboa e do país começam a surgir como clientes da casa. O Ford V8 ex-Ruggeronni do Conde de Monte Real, os Ferrari 225S e 750 Monza de D. Fernando Mascarenhas e Borges Barreto eram disso um bom exemplo. Até o próprio Estado passa a recorrer regularmente aos bons serviços dos técnicos desta empresa de sucesso.
A vertente desportiva sempre esteve presente, como o atesta o facto das oficinas Palma & Morgado terem ficado com o exclusivo da transformação Downton para os Mini Cooper S portugueses já na década de 60. Até que surge em cena Malcolm Gail, um amigo pessoal de Colin Chapman que era adido comercial na Embaixada de Inglaterra em Portugal e que se tornou visita frequente do “santuário”, nome por que já era conhecido em Lisboa este verdadeiro espaço de “veneração” automóvel. Desta relação surge a vinda do primeiro Ford Lotus Cortina para o recém-criado Team Palma, a que se segue uma encomenda significativa de Lotus Elan em versão cliente que irá garantir a representação da marca para Portugal. O Lotus Cortina foi entregue inicialmente a Augusto Palma, o filho do fundador, que embora tivesse já conquistado um campeonato nacional de velocidade com todo o mérito, acabaria por dedicar-se em exclusivo à técnica automóvel, tendo frequentado com aproveitamento cursos de especialização na Ferrari, Maserati e Jaguar.
Um pouco depois, por sugestão de Augusto Palma, será a Palma & Morgado a fazer a introdução da Fórmula V em Portugal, produzindo os seus próprios chassis a partir de um modelo importado da África do Sul. Nascem catorze “Palma V” que são imediatamente entregues a clientes da casa e aos pilotos do Team Palma, nomeadamente Filipe Nogueira, Luis Fernandes, Nogueira Pinto e, mais tarde, Ernesto Neves. Este seria de resto o piloto “fetiche” da casa, tendo conquistado para a equipa nada menos que nove campeonatos nacionais. Não admira portanto que o desaparecimento precoce de Manuel Palma tenha ditado o fim da carreira desportiva de Ernesto Neves, tal era a intensidade da relação entre ambos.
Continuando a alimentar o desenvolvimento do automobilismo em Portugal, Palma & Morgado seriam também responsáveis pela importação de meia dúzia de Lotus 47 e pela introdução da Fórmula Ford no nosso país através dos Lotus 61 Holbay. Mais tarde viria um Lotus 62 para Ernesto Neves, um dos dois únicos exemplares produzidos por Colin Chapman, e finalmente um par de GRD Ford para competirem na categoria Sport Protótipos.
Muitos foram os pilotos que recorreram aos serviços de Manuel Palma durante as respectivas carreiras desportivas. Nomes como Filipe Nogueira, António Peixinho, Francisco Santos, Nogueira Pinto, Luis Fernandes, Portela de Morais, Miguel Rau, entre outros, tiveram sucesso por mérito próprio mas nunca teriam chegado onde chegaram sem a ajuda do talento e da criatividade deste notável português.
Texto: José Guedes
Que saudades avozinho
Meu avo que saudades como eu gostava muito de ti foste um grande homem ainda hoje lembro a tua morte foste a pessoa mais importante para mim na infância .ainda me lembro de entrar a correr na tua oficina com a Sisi nunca te vou esquecer …que saudade interna avozinho
Adorei ver as esta reportagem nunca te vou esquecer avozinho tinha 10 anos mas ainda esta gravado a tua morte vou te amar sempre avozinho bjs da bebe