Clássicos • 12 Mar 2013
Clássicos • 07 Jul 2013
Alfasud: O Alfa que veio do Sul
No Salão de Turim de 1971 surgiu um dos mais importantes modelos da história da Alfa Romeo. O Alfasud, um pequeno familiar de cinco portas – de carroçaria moderna e elegante, assinada por Giorgio Giugiaro – apresentava como principais novidades, a tracção dianteira e o motor boxer, dando início a uma longa sucessão de modelos com estas características. Os travões de disco nas quatro rodas – os dianteiros à saída do diferencial, para reduzir o peso não suspenso – eram outra das características inovadoras neste segmento.
O pequeno Alfa coleccionou rasgados elogios, sobretudo ao nível do comportamento, sendo bastante superior aos seus concorrentes da época. O baixo centro de gravidade e a suspensão bem guiada permitiam uma incisão eficaz em curva, com uma postura sempre neutra. O motor era também um dos mais potentes da sua categoria, com uma sonoridade metálica muito própria. A versão inicial, de 1186 cc, era ainda confortável e acessível, existindo mesmo uma versão carrinha – a Giardinetta, produzida apenas entre 1975 e 1977 – com espaço de carga adicional.
No ano seguinte, surgiu a versão mais vitaminada, com carburador duplo, um acréscimo de cinco cavalos, caixa de cinco velocidades, capaz de atingir 160 Km/h. Exteriormente, distinguia-se pela grelha de quatro faróis, os pára-choques cromados e a sigla Ti.
Infelizmente, para o sucesso comercial do Alfasud, a qualidade de construção deixava muito a desejar. É que o mais pequeno dos Alfa Romeo era produzido numa nova fábrica da marca no Sul de Itália – em Pomigliano d’Arco, perto de Nápoles – com o objectivo de ajudar a industrializar aquela região. Infelizmente, as matérias-primas disponíveis não eram da melhor qualidade, sobretudo o aço utilizado nas carroçarias, o que se revelou trágico a nível de corrosão, um estigma que ficou para sempre associado a estes competentes e interessantes automóveis. A situação era tão grave que, nos veículos de ensaio disponibilizados aos jornalistas pelos diversos importadores Alfa Romeo, eram já visíveis pontos de ferrugem. Isto em automóveis que haviam saído da fábrica umas semanas antes!
Este problema nunca foi totalmente resolvido, embora os últimos modelos estivessem já um pouco mais protegidos.
Mas, apesar disso, o Alfasud foi evoluindo, recebendo uma grande revisão estética em 1980, quando os plásticos substituíram os cromados na grelha e nos pára-choques. Desde 1978 que existiam motores de maior capacidade – 1351 cc para a versão base e 1490 cc para o Ti – e as potências e performances foram sempre aumentando até ao final da produção. Em 1982, o Ti QV (Quadrifoglio Verde) possuía 105 cv e superava os 180 km/h, sendo um dos poucos rivais do Golf GTI. O carro alemão era mais rápido e eficaz, mas com um temperamento menos emocionante, e sem o timbre de voz do seu rival italiano.
A produção total dos Alfasud foi de 557 093 exemplares, dos quais, 156 000 eram versões Ti.
Actualmente, o Alfasud é um automóvel raro, sobretudo devido à sua tendência para se diluir na atmosfera. Mas o seu interesse como clássico tem vindo a aumentar, não só porque cada vez há menos, mas sobretudo pelas suas qualidades dinâmicas e emocionais. Porque, por baixo das suas manias de diva italiana e temperamental, está um bom automóvel.
Os Alfa Acessíveis
A luta de uma marca de automóveis desportivos e de luxo, para manter o carácter e distinção na produção de grande série.
A história da Anonima Lombardo Fabbrica Automobili começou em Milão, em 1910. E na mente de Ugo Stella, seu fundador, nunca esteve a ideia de produzir automóveis populares. Em 1915, o industrial Nicola Romeo, adquiriu a ALFA. Depois da I Guerra, os automóveis produzidos ostentavam o símbolo da Alfa Romeo, mas continuaram a ser automóveis de grandes prestações e preço exclusivo. Embora as cilindradas dos seus modelos não fossem muito elevadas, a complexidade mecânica assegurava uma grande superioridade também na competição, como foi o caso dos 6C 1500 e 1750.
O primeiro Alfa Romeo acessível, construído para um grupo mais vasto de compradores foi o 1900, de quatro cilindros, lançado em 1950, no ano em que Giuseppe Farina se tornou o primeiro campeão do mundo de Fórmula 1 ao volante de um Alfetta 158. Ao 1900 seguiram-se as séries Giulietta (1954) e Giulia (1962), que começaram por ter a modesta capacidade de 1.290 cc. Mas a qualidade da sua engenharia e as performances continuavam a assegurar-lhes um espaço próprio e exclusivo.
O próximo Alfa Romeo popular foi o Alfasud, com o sucesso relativo que se descreve nesta página, seguido pelo 33, 145 e 147. A pouco e pouco, a marca italiana afastou-se dos produtos de grandes performances, com raras excepções, como o Montreal (1970) ou o SZ (1989). Um espaço que a Alfa Romeo vai procurar recuperar com o Coupé 8C Competizione, apresentado no Salão de Frankfurt.
Texto: Adelino Dinis