Arquivos • 01 Fev 2013
Arquivos • 20 Fev 2013
Markku Allen, o campeão sem título
Passados poucos dias após mais um aniversário, recordamos uma entrevista realizado aquando da passagem de Markku Allen por Portugal.
Classic Press Center: Markku, o que faz actualmente?
Markku Allen: Depois de ter deixado os ralis, dediquei-me a acompanhar a vida desportiva do meu filho Anton que está a correr com um Fiat Punto. No entanto, não interfiro nas suas decisões e tento não fazer notar muito a minha presença de modo a não o atrapalhar. Ao mesmo tempo, possuo uma concessão de carros usados. Estou igualmente envolvido no ensino de cursos de pilotagem um pouco por toda a Finlândia.
CPC: Voltando aos tempos do ralis, qual o seu carro preferido?
MA: Gostava bastante do Fiat 131 Abarth e do 037. Este último foi de facto o único carro onde eu não me encaixava bem, devido à minha elevada estatura.
CPC: Mas o Lancia 037 Rallye Abarth era um carro difícil de pilotar?
MA: De facto era, especialmente quando estávamos em desvantagem, por exemplo no Safari, em relação a Mikkola que já utilizava o Audi de tracção total.
CPC: No final de 1986, não ficou desiludido por não ter vencido o Mundial de Ralis, depois de ter ido para o Rali dos Estados Unidos como virtual campeão?
MA: Na altura fiquei bastante chateado por o campeonato se ter decidido na secretaria, mas isso agora é história.
CPC: Teve alguma amizade em especial com os pilotos da Lancia?
MA: Bem, a verdade é que jantávamos juntos muitas das vezes, no final de cada rali. No entanto, não tinha piloto de referência dentro da equipa italiana.
CPC: E quanto a Colin McRae?
MA: Quando comecei a correr com o Legacy, sob o olhar de David Richards, estava um dia a treinar com uma pequena equipa de cerca de três mecânicos e pediram-me para fazer umas quantas passagens com um jovem trazido por um dos responsáveis pela equipa. Colin foi meu navegador por um ou dois dias, não me recordo bem. O mesmo aconteceu com Richards Burns. Mas do Colin tenho muitas lembranças dos tempos em que estivemos juntos na Subaru. Só que o McRae ficou na equipa e eu parti para a Toyota.
CPC: E qual é o seu piloto de eleição?
MA: Quando eu comecei tinha um enorme fascínio pelos pilotos italianos, mas também gostava bastante de Timo Makkinen, Hannu Mikkola. Hoje em dia as coisas são bastante diferentes, pois existe um bom leque de pilotos.
CPC: Pode-se dizer que nos anos 80 corria-se com mais profissionalismo do que nos dias de hoje?
MA: De maneira nenhuma. Actualmente, os pilotos são verdadeiros profissionais. Além disso, o aspecto técnico também evoluiu bastante desde então, graças ao uso da telemetria, uma coisa que não se tinha acesso há coisa de 20 anos atrás.
CPC: Mas diz-se que hoje o trabalho dos pilotos de ralis é do tipo “9h às 17h”….
MA: É verdade. Hoje em dia as etapas dos ralis começam por volta das 8 horas da manhã e ao final da tarde já os pilotos não estão sentados ao volante. No meu tempo o dia começava de madrugada, pilotava-se durante o dia todo e por vezes tínhamos passagens realizadas já noite adentro [NDR: Sintra, por exemplo, ou o Col du Turini, do Monte Carlo]. Na Volta à Córsega em 1983 ou 84, na qual venci, estive 15 a 16 horas na estrada num só dia. E na altura não havia direcção assistida.
Recordo-me que uma vez durante uma prova, estivemos atrás do volante qualquer coisa como 36 horas, uma coisa impensável nos dias de hoje. Actualmente vejo os pilotos como o Irvonnen a chegarem exaustos ao final de cada etapa, não consigo entender porquê.
Da F1 às motos
CPC: Lembro-me que nos anos 80 pilotou um monolugar de F1. Como foi essa experiência?
MA: Aconteceu com um Tyrrel 012, mas imagina um tipo com 1.90, sapatos nº 46, em que quase metade do corpo estava fora do cockipt. Dei três ou quatro voltas e o instrutor mandou-me entrar nas boxes, dizendo que eu ia demasiado devagar para estar em pista. Depois veio a experiência com um carro turbo, o BMW, com o qual testei e ensaiei várias soluções.
CPC: E quanto ao DTM?
MA: No DTM foi diferente, tudo graças ao meu patrocinador McDonalds, que me permitiu fazer cinco ou seis corridas. Também tive uma experiência na Porsche Supercup.
CPC: E motociclismo? Gostas de motos? Qual o teu piloto favorito?
MA: Adoro motos e costumo seguir as corridas de 250cc de motocross que se disputam na Finlândia. Todos os fins-de-semana ando de “snowmobile”. E é nesta disciplina que pilotos como Tommi Makkinnen aprenderam a ser verdadeiros campeões, uma vez que o estilo de condução entre ambas as modalidades é muito semelhante, com toda a traseira constantemente a deslizar. Adoro o Karity Heinnen que corre em Enduro e ganhou por sete vezes o campeonato do mundo. Tenho um projecto de correr em Enduro na América do Sul, em Matchumitxu. São 3500 quilómetros sempre fora de estrada, desde essa localidade até ao Brasil.
Lógico que no MotoGP o Valentino Rossi é o Valentino Rossi, mas gosto bastante do Nikky Heiden. Assisto a todos os MotoGP que posso, na verdade.
CPC: E saudade da competição, não tem?
MA: Lógico que tenho saudades do tempo dos ralis, mas tento-me entreter com outras coisas como as provas de snowmobile, nas quais comecei a minha carreira, ou mesmo ir avante com o meu projecto de correr em motocross.
CPC: O que pensa de eventos como este Auto Clássico?
MA: Bem, cheguei na 4ªf para encontrar alguns amigos que tenho aqui no norte de Portugal, o que é sempre bom. Em Itália existem eventos deste género também, aos quais sou geralmente convidado. O evento daqui do Porto não fica a dever em nada a, por exemplo, ao salão de Birmingham.
CPC: E quanto ao Vinci GT?
MA: Bem, ontem guiei um Ferrari 430GT, se isso responde à pergunta… (risos). O espaço reduzido também não ajudou muito. Talvez se o tivesse guiado em estrada…Mas guiar um Ferrari também não é fácil e um Ferrari é sempre um Ferrari. O Miguel [NDR: Miguel Rodrigues], ainda tem muita coisa para melhorar no carro.
CPC: Qual o segredo de, passados quase vinte anos desde que correu em Portugal, os portugueses ainda se lembrarem assim tão bem de si?
MA: É extraordinário, mas a verdade é que isso acontece essencialmente em Portugal e no norte de Itália, quando se realiza o Motor Show de Bolonha. Ainda há pouco vim para o salão e tive que parar numa estação de serviço, quando qual não foi o meu espanto, tinha três pessoas ao meu lado, a pedirem-me para tirarem fotos comigo e assinar autógrafos. Mas Portugal é Portugal e adoro vir aqui.
CPC: O que o levou a alinhar no Dakkar em camião?
MA: Não faço a mais pequena ideia (risos).
CPC: Ainda o vamos ver a fazer um Dakkar de moto?
MA: Não, não, estou velho demais para isso. Penso realizar esta experiência na América do Sul de moto e quem sabe uma ou outra na Malásia, mas não mais do que isso. O Enduro é bem mais perigoso do que o Motocross, pois nunca sabemos quando um perigo está à espreita. Hoje em dia, no campeonato de snowmobiles consegue-se um nível tecnológico bastante avançado. Tem-se um peso de cerca de 200 Kg, para potências da ordem dos 100cv. As semelhanças de pilotagem entre esta disciplina e os ralis são muito evidentes.
Quem é Markku Allen
Nasceu a 15 de Fevereiro de 1951, em Helsínquia, Finlândia
Estreia-se em ralis com um Renault 8 Gordini em 1969.
Partida em Rallyes do Campeonato do Mundo: 129
Primeira participação: Finlândia em 1973
Última participação: Finlândia 2001
Resultados
Vitórias: 19
2º lugares: 19
3º lugares: 18
Total de pódios: 56
Total de pontos conquistados: 840
Total de abandonos: 42
PEC’s ganhas: 790
Títulos Mundiais: Vencedor da Taça FIA de Pilotos em 1978 com Fiat Fiat 131 Abarth e Lancia Stratos
Vice-Campeão do Campeonato do Mundo de Rallyes em 1986 com Lancia Delta S4
Primeira vitória: Portugal em 1975 com Fiat 131 Abarth
Primeiros pontos conquistados: Monte Carlo em 1979
Primeiro pódio: Finlândia 1973
Carros oficiais utilizados:
Fiat 124 Abarth – 1974 e ‘75
Fiat 131 Abarth – 1976 a 1981
Lancia Stratos – 1978 e ’79 em algumas provas
Lancia 037 Rallye Abarth – 1982 a 1985
Lancia Delta S4 – 1985 e ‘86
Subaru Impreza – 1993
Toyota Celica – 1993
Entrevista realizada por: Classic Press Center
Fotos: Fiat Spa