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Ford Fiesta
O eterno jovem a caminho dos 40
O Fiesta da primeira geração
Lançado no Verão de 1976, o primeiro Fiesta apresentava-se em três versões. A de entrada da gama estava equipada com um motor de 1.0 litros com apenas 40 cv, compensados por um preço particularmente competitivo. Uma versão com 45 cv e uma outra Ghia de 1.1 litros com 53 cv completavam a gama. Foi a primeira introdução de níveis de equipamento tão luxuosos em automóveis desta classe.
A economia de combustível foi um dos elementos-chave no sucesso do Fiesta, mas não era o seu único ponto forte. Através de uma inovação tecnológica notável, o Fiesta provou que um automóvel não se mede apenas pelas suas dimensões.
Pesando apenas 700 kg, encontrava-se entre os mais leves da sua classe. Também o seu espaço de carga de 1,2 metros cúbicos era o maior do segmento. Possuía a melhor visibilidade global e o design mais aerodinâmico, conferindo-lhe uma importante vantagem competitiva.
Muitos dos seus avanços eram pioneiros. O comportamento durante uma colisão foi optimizado pelos engenheiros da Ford, através da utilização dos primeiros programas de simulação em computador. A grelha frontal atuava como um aerofólio: a baixas velocidades as suas lâminas permitiam o escoamento não perturbado do ar, ao passo que a altas velocidades direcionavam o fluxo de ar sobre o bloco do motor. Este sistema patenteado pela Ford foi responsável pelo melhor coeficiente aerodinâmico do seu segmento, com um valor de 0,42 Cd que, por sua vez, ajudou a reduzir o consumo de combustível para níveis extremamente baixos. A uma velocidade constante de 90 km/h, a versão de 1.0 litros com 40 cv consumia 5,6 litros a 100 km/h, 8,2 litros a 120 km/h e 7,9 litros em condução urbana.
As rodas dianteiras do Fiesta eram acionadas por um eixo de construção pioneira: uma patente que o engenheiro Earle S. MacPherson, mais tarde Vice-Presidente da Ford Motor Company, registou em 1949. O eixo traseiro possuía um sistema anti-mergulho recentemente desenvolvido. Aos condutores mais desportivos foi proposto o Fiesta S, com uma suspensão mais rígida e uma barra estabilizadora dianteira de forma a resistir às forças laterais.
Elementos como vidros de segurança, cintos de segurança automáticos com dispositivos de retração reguláveis em altura e um vidro traseiro com desembaciador, faziam já parte do equipamento de série do Fiesta de primeira geração. A longa lista de opções teria enaltecido até um veículo de segmentos superiores do seu tempo e incluía itens como uma gama de tectos de abrir em vidro, transparentes e removíveis.
A Ford vendeu 67.172 unidades Fiesta durante o ano de 1976, enquanto a produção começava a aumentar e o alemão Bild am Sonntag anunciava o Fiesta como sendo o vencedor do seu troféu ‘Volante de Ouro’. A produção do Fiesta, no seu primeiro ano completo – 1977 – atingiu as 350.000 unidades. O Fiesta estava em maré de sucesso.
Parte dos registos de novos veículos em 1977 eram fruto da investida do Fiesta no mercado norte-americano. O modelo foi vendido nos Estados Unidos durante quatro anos, até à chegada do novo Ford Escort no início dos anos 80. Quase 300.000 Fiesta foram os embaixadores europeus da Ford para os clientes americanos durante este período, demonstrando a funcionalidade, a natureza prática e o divertimento de condução do pequeno automóvel da Ford.
Fiesta também na competição
Um segundo marco na história inicial do Fiesta foi atingido 11 dias mais tarde, quando um dos eventos mais importantes do calendário do desporto automóvel, o Rali de Monte Carlo, viu pela primeira um Ford Fiesta à partida, com a futura super-estrela finlandesa, Ari Vatanen, ao volante.
O veículo de competição foi desenvolvido sob uma enorme pressão em termos de tempo e nas circunstâncias mais difíceis, pois a Grã-Bretanha estava a atravessar uma onda generalizada de greves no sector industrial. O ‘Fiestissima’ com 800 kg, carburadores duplos Weber, ignição electrónica e lubrificação por cárter seco, possuía um motor de 1.6 litros capaz de atingir as 7250 rpm, apesar da sua árvore de cames lateral, e debitava 155 cv. Uma caixa de quatro velocidades de escalonamento curto foi criada para esta tarefa e uma blocagem diferencial mecânico-hidráulica proporcionava a tracção que valeu a este mini-automóvel de ralis um sensacional 10.º lugar na sua prova de estreia.
Os fãs do Fiesta tinham também a possibilidade de entrar no espírito do sucesso de Monte Carlo através de um kit de preparação especialmente desenvolvido e derivado dos ralis, disponível nos concessionários Ford locais. A base desta conversão era o modelo de 1.3 litros com 66 cv, que podia ter a sua potência elevada para 75 cv, para uma correspondente condução dinâmica, com dois carburadores Weber e com um colector de escape e um silenciador modificados. O motor estava montado numa posição rebaixada em 25 mm. Os tirantes modificados e as pastilhas de travão de competição completavam o melhoramento dinâmico.
O Fiesta também mostrou a sua vertente desportiva no Salão Automóvel de Genebra de 1980 sob a forma do Super S, em edição limitada. Um chassis rebaixado, vias mais largas, jantes de liga leve e pneus de baixo perfil 185/60 garantiam uma extraordinária aderência em curva. Os spoilers dianteiro e traseiro proporcionavam uma afinação aerodinâmica precisa, enquanto as suas vistosas feições provinham dos pára-choques mais largos e das atraentes riscas ao longo dos flancos e da traseira. O elegante interior incluía bancos desportivos com apoios de cabeça integrados. Este hot hatch, que definiu uma tendência, estava disponível com escolha de um motor de 1.1 litros com 55 cv ou um 1.3 com 66 cv, ambos dentro de uma gama de preços convidativa.
O Super S (Supersport no Reino Unido) era na realidade o precursor do primeiro Fiesta XR2 – uma versão de 1.6 litros com 84 cv do automóvel introduzido em 1981. Com um andamento e uma maneabilidade cuidadosamente afinadas pelo departamento Special Vehicle Engineering da Ford, sediado em Dunton, que tinha criado uma reputação baseada nos veículos de elevada performance da Ford como o Capri 2.8 Injection, o XR2 lançou as sementes do compromisso da Ford com a qualidade de condução. Os detalhes exteriores assinalavam a sua performance melhorada: jantes de liga perfuradas, faróis de longo alcance montados nos pára-choques, spoilers dianteiros e traseiros e acabamentos interiores exclusivos. A primeira geração do XR2 é um clássico muito procurado hoje em dia.
O ano de 1981 presenciou dois importantes marcos. Valência celebrou o seu Fiesta 1.000.000 e em Março, a Ford celebrava uma marca de produção total a nível europeu de dois milhões de unidades. Era um novo recorde de produção atingir-se aquela marca em menos de cinco anos de produção.
A chegada da segunda geração
A Ford apresentou o Ford Fiesta Mk II em Setembro de 1983. Consideravelmente melhorado para a sua segunda geração, o novo Fiesta melhorou os pontos fortes originais com detalhes de design oriundos do Ford Sierra. Estes incluíam um capot mais baixo, entradas de ar estreitas, arestas arredondadas e faróis com uma nova forma. Estes elementos não só conferiram ao Fiesta um ar de família com o seu irmão mais velho, mas também melhoravam a aerodinâmica.
Os níveis de conforto foram igualmente melhorados e o próprio interior foi redefenido a partir do piso, conferindo-lhe características líderes na classe compacta. Dando seguimento aos últimos avanços em ergonomia, o interior foi dividido em zonas de acordo com a função e equipado com um sistema de aquecimento e ventilação optimizado. Até mesmo a versão Fiesta L incluía de série grandes compartimentos de arrumação nas portas e um banco traseiro rebatível em duas partes para uma utilização diária flexível. As versões mais equipadas como a Ghia ou o desportivo XR2 acrescentaram delicadeza com as suas entradas de ar adicionais e estofos de maior qualidade. A última encarnação do XR2 também se destacou pelo cuidado pack de carroçaria e pelo spoiler traseiro montado no topo do portão da bagageira.
Melhoramentos na economia foram trazidos pelo alargamento da gama de motorizações. Os especialistas em motores da Ford fortaleceram a oferta de baixos custos de utilização do Fiesta com um novo motor diesel de 1.6 litros com 54 cv, tornando-o no único veículo destas dimensões a propor um motor diesel. O seu consumo homologado de 3,8 litros aos 100 km/h a uma velocidade constante de 90 km/h tornaram-no num dos mais económicos veículos do mundo, uma reivindicação sustentada por testes comparativos realizados pela imprensa pouco tempo após o seu lançamento.
Em 1984, ficaram disponíveis os primeiros modelos com motores a gasolina de 1.3 litros capazes de utilizar gasolina sem chumbo. A Transmissão de Variação Contínua foi outra das tecnologias patenteadas pela Ford, desenvolvida para veículos compactos com tração dianteira e vista pela primeira vez no Fiesta. Uma tal transmissão automática de relações contínuas foi conseguida graças a uma correia especial que funciona entre dois eixos de forma a alterar a relação de transmissão. Um sistema automático mantinha as engrenagens e o motor a funcionarem em níveis óptimos.
O sistema resultante combinava as vantagens das transmissões automáticas e manuais. Na altura, a sua performance foi comparada a uma transmissão manual optimizada de seis velocidades. Referiam-se tanto à potência como ao consumo, o que se significava uma performance muito além das capacidades habituais de uma transmissão automática. Para além das suas vantagens económicas, a nova transmissão CTX oferecia também níveis de conforto de condução até aí desconhecidos.
Fiesta Mk III
Após quase 13 anos de produção, o Fiesta original foi substituído em Fevereiro de 1989 por uma gama totalmente nova de modelos com dimensões ligeiramente maiores, de 3 e 5 portas, com formas aerodinâmicas mais suaves.
Pela primeira vez num automóvel desta classe, o equipamento incluía um sistema SCS (Stop Control System) de anti-bloqueio de travagem, disponível como opção nos Fiesta de transmissão manual.
O novo Fiesta de terceira geração oferecia também um desembaciador eléctrico no pára-brisas, transmissão automática CTX nos modelos de 1.1 litros e 1.4 litros, um novo motor Ford a diesel de injeção indireta de 1.8 litros para uma economia máxima de combustível, bancos envolventes com novo design, trancas de alta segurança nas portas e na direção e cintos de segurança dianteiros reguláveis em altura.
Todos os motores podiam utilizar gasolina super ou sem chumbo e a gama incluía dois novos motores de 1.0 litros e 1.1 litros, que, em conjunto com os blocos de 1.4 litros e 1.6 litros melhorados, com baixas emissões, completavam a gama de propostas a gasolina.
A versão XR2i, de elevada performance, juntou-se à gama de 18 modelos em Outubro de 1989, possuindo um kit de carroçaria exclusivo e um comportamento desportivo que combinava com o seu visual.
Na Primavera de 1989, o muito esperado substituto foi apresentado no Salão Automóvel de Genebra. Mas antes, o novo automóvel teria que suportar um novo nível de testes. Foram contabilizados cerca de três milhões de quilómetros, não apenas em ensaios de laboratório e em circuitos de teste privados, mas também na condução do dia-a-dia em estradas públicas. Devido a esta razão, cerca de metade da quilometragem de desenvolvimento predefinida foi completada por clientes, gerando assim mais informação de retorno que podia ser avaliada e usada nas etapas finais de desenvolvimento, antes da introdução no mercado.
Mais de 500.000 novos Fiesta tinham sido vendidos no final do primeiro ano, o melhor início de carreira de qualquer automóvel europeu da altura. Desde o seu lançamento original em 1976, já mais de 5,25 milhões de Fiesta tinham sido construídos em Colónia (Alemanha), Valência (Espanha) e Dagenham, (Reino Unido). Os troféus continuavam a ser atribuídos: foi a escolha do leitores da auto, motor und sport para o ‘Melhor Pequeno Automóvel do Mundo’, ‘Pequeno Automóvel Mais Elegante’ da Auto Zeitung, ‘Carro do Ano 1989’ da What Car?, ‘Melhor Automóvel Citadino’ da Neue Revue e ‘Carro do Ano 1990’ em Espanha.
A tradição desportiva do Fiesta continuou durante este período. Nos calcanhares do XR2i, foi introduzido em 1990 o potente RS Turbo, tendo sido atualizado mais tarde para o Fiesta RS1800i (1992), com um novo motor de 1.8 litros e 16 válvulas, debitando 130 cv.
No ano de 1993, o Fiesta introduziu uma inovação de segurança recentemente desenvolvida. O seu volante, que obedecia a critérios de minimização de ferimentos ao nível da cabeça, recebeu um revestimento especial que reduzia a probabilidade de ferimentos na cabeça em caso de acidente.
Outras alterações adicionais incluíam uma transmissão de cinco velocidades, um rádio-leitor de cassetes estéreo com controlo automático de volume RDS, um sistema anti-roubo de chave codificada e um tecto de abrir construído a partir de um vidro especial, refletor de calor.
Em 1996 foi apresentada uma família Fiesta completamente nova. A nova versão era motorizada pela nova família de motores multiválvulas de construção em liga leve Zetec SE, inicialmente com uma versão de 1.25 litros com 75 cv, seguida de uma versão de 1.4 litros com 90 cv. Uma versão com emissões reduzidas do motor a gasolina de 1.3 litros com 60 cv foi rebaptizada Endura-E, sendo a gama completada pelo Endura-D, um diesel de 1.8 litros com 60 cv.
Outras características incluíam um estilo exterior renovado e mais arredondado, com ângulos suaves entre os painéis e linhas características, uma dianteira baixa, um vidro traseiro inclinado e ópticas de grandes dimensões. A suspensão dianteira, redesenhada, utilizava um subchassis de forma a aumentar a rigidez da estrutura dianteira e isolar o motor mais eficazmente. Na traseira, uma barra de torção redesenhada incorporava braços mais rígidos e uma geometria de correção da convergência/divergência de forma a proporcionar uma melhor maneabilidade. Foram também utilizadas molas mais macias para melhorar o conforto em andamento.
O interior, completamente novo, proporcionava ao habitáculo um ambiente que combinava qualidade, conforto e uma ergonomia excelente. A segurança do veículo e dos ocupantes foi melhorada até aos mais altos níveis da classe dos pequenos automóveis com outra estreia no segmento: a combinação de um avançado sistema de travagem anti-bloqueio (ABS) de quatro canais com distribuição electrónica da força de travagem e com um controlo de tração.
Nesse ano, o Fiesta celebrou os seus 20 anos de mercado. Durante esse período, foi por três vezes o automóvel mais vendido no todo da Europa, em todas as classes, 12 vezes o mais vendido da sua classe na Alemanha, 19 vezes no Reino Unido e quatro vezes em Espanha. As comemorações foram completadas com a proeza da produção da unidade 8,5 milhões.
Fiesta Mk V
No Salão Automóvel de Frankfurt de 2001, a Ford desvendou a sua última versão do pequeno automóvel mais vendido na Europa.
O modelo líder na nova série era o Fiesta Sport de 1.6 litros com 103 cv e jantes de alumínio de 15” com pneus 195/50. Possuía uma carroçaria mais rígida e uma distância ao solo reduzida, combinadas com potentes travões e uma direcção assistida optimizada para proporcionar grande maneabilidade e performance de condução.
O novo Fiesta era tido em grande consideração pelos jornalistas do sector automóvel, devido à sua dinâmica de condução e qualidade de condução global, à medida que transportava o estandarte dos pequenos automóveis da Ford num cenário automóvel europeu cada vez mais competitivo. Intrépido, iniciou o seu percurso actual, conseguindo aumentos anuais de vendas. Tal como todos os Fiesta, não era apenas um sucesso passageiro.
O novo Fiesta inspirou, em 2002, um novo modelo nele baseado, o Ford Fusion, um novo tipo de veículo com um generoso espaço familiar, a área de um pequeno automóvel e uma posição de condução mais elevada.