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Lancia Flaminia
O estilo transalpino
A Lancia apresentou em 1957 o modelo Flaminia, uma proposta desenhada com a elegância tradicional de Pinin Farina.
Elegância, exclusividade, atenção nos detalhes através do recurso aos mais nobres elementos, são itens que aproximam o Lancia Flaminia, apresentado em 1957 dos mais recentes produtos da casa italiana. Mas talvez o que poucas pessoas saibam é que o bloco utilizado neste modelo da casa transalpina foi também instalado em embarcações com carácter essencialmente desportivo e que deram os seus frutos. Mas para que se entenda as razões do sucesso do Flaminia é necessário recuar até 1955, ano em que Gianni Lancia mostrou o seu desejo a António Fessia de substituir o já cansado Aurelia. Fessia, cujo currículo incluía já a concepção do Fiat 500 Topollino e o Cemsa Caproni de 1949, decidiu que o bloco a utilizar teria que ser um 6 cilindros em V, inclinado a 60º. Desenhado por Francesco De Virgílio para o Aurélia, esta solução mostrou-se capaz de assumir o exigido. Paralelamente, Fessia pediu a Pinin Farina que desenvolvesse uma carroçaria completamente diferente do que tinha sido apresentado até então. Passados seis meses, e depois de ter sido apresentado um esboço inicial do projecto, o protótipo foi desvendado no Salão de Turim de 1956.
O Aurélia e o Florida
As soluções adoptadas no Flaminia são bastante interessantes. Fessia baixou a estrutura do Aurélia, adoptando a configuração quadrada do motor boxer, em detrimento da solução longa do diâmetro. O novo motor permitia obter cerca de 100hp às 4.800 rpm, o que era adequado a um carro cujos principais requisitos passavam por oferecer sobretudo uma enorme flexibilidade e uma óptima condução.
Do Aurélia restaram o eixo traseiro com a estrutura traseira – embraiagem, transmissão e diferencial – tendo sido retirada as antigas suspensões independentes que contabilizavam já 35 anos, uma vez que estas eram as mesmas utilizadas no Lancia Lambda. Em vez deste tipo de amortecimento, a Lancia optou por dotar o Flaminia com uma estrutura assente em suspensões telescópicas, braços em paralelograma, molas em espiral e barras estabilizadoras. No que toca à carroçaria, o aspecto exterior era bastante semelhante ao apresentado anos antes nas últimas versões do modelo Aurélia, nomeadamente da versão Florida, produzida por Pininfarina. Tratava-se de um duas e quatro portas sedan, capaz de oferecer aos seus utilizadores um compartimento interno pleno de luminosidade, ao mesmo tempo que itens como a área vidrada eram igualmente imensa. Ao mesmo tempo, o design do carro tendia a descer ligeiramente, enquanto que a secção traseira era marcada por duas finas arestas. Dai se poder concluir que o pedido realizado a Pininfarina era de produzir o Flaminia a partir do Florida. Mas o mestre do design propôs algumas soluções estéticas, como a terminação das portas em forma estilizada, ou mesmo a separação da linha de baixo do carro face ao tejadilho, através da pintura distinta das duas secções.
De 1958 a 1970
Depois do estudo prévio em 1956, o Flaminia foi oficialmente apresentado no ano seguinte aquando do Salão de Genebra, com apenas algumas alterações face ao protótipo estudado. Na época era o mais luxuoso carro italiano e as expectativas geradas ao seu redor eram naturalmente elevadas, um facto conseguido graças ao crescente número de encomendas e comentários favoráveis feitos por parte da imprensa. Inicialmente a produção teve lugar na unidade de Borgo San Paolo, a uma cadência de sete ou oito unidades por dia. Nos primeiros quatro anos, 2.695 modelos da primeira série foram produzidos, dos quais 41 da versão Saxomat que estava dotada de embraiagem semi-automática.
A segunda série do Flaminia foi apresentada no Salão de Turim em 1961. A taxa de compressão foi aumentada e o motor passa a ser mais potente (110 hp contra os anteriores 102), a velocidade máxima passou a ser de 167km/h e quatro travões de disco foram instalados nas rodas. Quanto ao estilo, este mantém-se praticamente intocável, sendo apenas visíveis alguns retoques estéticos, como a aplicação de uma luz traseira. No interior, a manete dos piscas é alterada. Mas o que faz virar cabeças é mesmo a versão Speciale, apresentada em 1962, cujo motor consegue oferecer 140hp e uma velocidade máxima de 180km/h.
Finalmente, a terceira série, com o seu bloco com 2.8 litros e 129 hp é desvendado em Frankfurt em 1963. Nada de alterações a nível de carroçaria. Apenas o logótipo 2.8 surge ao lado da designação Flaminia. Esta versão esteve em produção até 1970.
No total, foram construídos cerca de 4.000 Flaminia sedans.
1958, o ano do Coupé
No Salão de Turim de 1958, Pinin Farina apresenta um elegante protótipo, cuja produção teve início no ano seguinte. Tratava-se de um quatro lugares com linhas esguias e um chassis reduzido em 12 cm. Com um motor convincente em termos de potência – 119 hp e um menor peso, a nova proposta permitia atingir uma velocidade muito próxima dos 170 km/h. Actualmente, este modelo é ainda considerado como um dos mais belos produzidos por Pinin Farina. No mesmo ano, com um chassis ainda mais curto, o carroçador Touring apresenta o Grand Turismo do Flaminia, tendo como base a versão coupé elaborada por Pinin Farina. Tratava-se de um dois lugares, produzido com vista à obtenção de performance pura, dai não ser de estranhar que esta versão atingisse uma velocidade máxima de 180 km/h, com o bloco com 119hp.
Mas também Zagato “vestiu” o Flaminia, quando apresentou em 1958, o Flaminia Sport by Zagato. Marcadamente desportivo – a sua velocidade máxima era da ordem dos 190 km/h – a versão Sport depressa evoluiu para a proposta Super Sport. Nesta última, Zagato apostou no restyling da carroçaria, bem como no interior e a fasquia dos 210 km/h foi facilmente ultrapassada, o que tornou este Lancia num dos mais rápidos até então produzidos.
Naturalmente que a marca de Turim necessitava de um modelo descapotável e o Falminia Convertível veio colmatar essa lacuna em 1960. Tratava-se de um spider 2+2 desenvolvido a partir do GT da Touring, com um bloco de 2.5 litros de capacidade, posteriormente modificado de forma a poder incorporar três carburadores e o motor do 2.8.
A limousine do presidente
Numa ordem de escala de tempo, o ultimo Presidente da República Italiano a sentar-se num Lancia Flaminia foi Giorgio Napolitano, aquando da Parada realizada a 2 de Junho de 2007. Mas a ligação entre o Flaminia e a Presidência italiana já vem de longe, ou seja, conta com uma proximidade de 50 anos, desde que em Março de 1960 Quirinale encomendou quatro versões especiais descapotáveis dos Lancia.
Pinin Farina desenhou-as em seis meses, de modo a responder às exigências do então presidente Giovanni Gronchi. Cerca de cinco metros e meio de carro, para um total de quase uma tonelada de peso, era o que estes carros capazes de transportar sete passageiros apresentavam. O motor era o bloco 2.5 utilizado no sedan, tendo o chassis sido alargado de 2.870 mm até aos 3.350mm. De resto, todos os elementos do carro eram produzidos à mão. A velocidade máxima não ultrapassava os 120km/h, devido às relações de caixa, concedidas especialmente para as paradas, onde a embraiagem teria um papel essencial.
Os quatro Flaminia 337 Cabriolet Presidenziale foram baptizados com nomes dos cavalos Belmonte, Belvedere, Belfiore e Belsito. Actualmente, apenas estes dois últimos estão estacionados nas garagens de Quirinale. Na sua época, o Flaminia Presidenziale era o único concorrente das limousines presidenciais e a primeira missão destes modelos foi transportar a Rainha Elizabeth II, quando esta visitou a Itália, por ocasião do Centenário da Unificação de Itália.
Em 1982, durante a presidência de Sandro Pertini, dois dos Flaminia foram vendidos a preços irrisórios durante um leilão militar. Depois de anos ao serviço do estado italiano, parecia que o Flaminia iria acabar num museu provado. Mas durante uma visita do Presidente Francesco Cossiga, o carro escolhido para o transportar teve uma avaria e Belfiore foi trazido de volta ao serviço, tendo posteriormente sido impedido de ser vendido novamente para mãos privadas. Até mesmo o Presidente Óscar Luigi Scalfaro guiou o Flaminia 337 Presidenziale durante os eventos oficiais.
Os barcos Class Flaminia 2500
Os trimarans que competiam nas décadas de 60 e 70 como Class Lancia, mais tarde renomeada de Flaminia 2500, foram todos eles animados pelo bloco italiano da Lancia, apesar de modificados conforme os regulamentos da época. Tratava-se de uma unidade de 6 V a 60º, desenvolvido a partir do motor do Aurélia, totalmente construído em alumínio com árvore de cames à cabeça e duas válvulas por cilindro. Bastante fiáveis e potentes, estes blocos com 2.5 litros viriam a ser substituídos mais tarde pelas unidades com 2.800cc. Paralelamente, o mercado de usados começava a despoletar um crescente interesse por este desporto náutico. Foi nessa época que uma nova camada de aficionados pela velocidade passou a apostar na motonáutica e a competição com motores “in-bord” se desenvolveu mais rapidamente em Itália.
Características técnicas
Lancia Flaminia
Carroçaria: em aço com sub-estrutura na frente;
Motor: todo em alumínio; 2.775cc a 60º em V;
Curso x diâmetro: 85 x 81,5mm;
Taxa de compressão: 9:1
Potência máxima: 129 cv às 5.000 rpm
Transmissão: quatro marchas sincronizadas manuais;
Suspensão: Frente – independente com desigual altura do trapézio da suspensão; molas helicoidais; braços telescópicos; Trás – a eixo De Dion com molas semi-elipticas e braço oscilante;
Direcção: por pinhão e cremalheira;
Travões: por expansão com sistema de servo-freio e disco Dunlop às quatro rodas;
Peso: 1.560Kg; Altura: 1,460mm; Comprimento: 4,855mm; Largura: 1,750mm;
Texto: Redação
Imagens: Grupo Fiat