Mercado • 30 Nov 2012

Mercado • 19 Dez 2012
PTV “português” vai a leilão nos Estados Unidos
É a maior coleção de microcarros do mundo, propriedade de Bruce Weiner, composta por nada mais do que 280 unidades.
Vai tudo a leilão no próximo dia 15 e 16 de Fevereiro na Georgia, Estados Unidos da América.
Nem um PTV com matrícula portuguesa falta nesta soberba coleção.
Texto: Redação
Imagens: Darin Schnabel ©2012 Courtesy of RM Auctions
Imagine um museu onde só entram microcarros e alguns itens relacionados com este universo muito particular. O Bruce Weiner Microcar Museum é esse espaço e o mérito é todo deste norte-americano que desde há coisa de vinte anos para cá não se tem cansado em procurar os mais estranhos microcarros fabricados um pouco por todo o mundo. Marcas como o Isetta, BMW, Goggomobile, Messerschmitt, Maico, Zundapp, Trabant, Bond, Glas, Rolux, Velocar, Honda, Mazda, Smart, Rovin, entre tantas, tantas outras, tentaram imiscuir-se num mercado onde a economia era a palavra de ordem.
A ideia de construir um microcarro surgiu pela primeira vez através do construtor italiano Iso. No entanto, somente quando o projecto foi transposto para a BMW é que os microcarros começaram a florescer, como meio de transporte e a serem reconhecidos na Europa.
No que toca à PTV, sendo o de matrícula portuguesa, um dos que figura no catálogo da leiloeira RM Auctions, este projecto nasceu da mente de dois irmãos, de apelido Tachó – Antoni e Guillem. Esta talentosa dupla tinha uma pequena oficina, em Manresa, onde reparava carros e motocicletas no final da década de 40. No entanto, as suas habilidades mecânicas iam para além das inevitáveis manutenções, já que nos tempos livres entretinham-se a melhorar as prestações de alguns blocos motrizes. E como o negócio na época não estava dos melhores, e havia falta de peças, ambos decidiram produzir carburadores sob a designação Tachó, que depressa instalaram nos carros que mantinham.
Mas as ambições de ambos ia mais longe e daí a construírem o primeiro veículo próprio foi um pequeno passo. Chamaram-no de Ballena – baleia – pois a estrutura da carroçaria assemelhava-se bastante com esse animal. Este veículo ainda possuía três rodas, uma moda usual da época. Quanto ao motor, os irmãos Tachó recorreram a um bloco com 648cc com 18 CV de potência e na estrutura encaixavam-se dois adultos de estatura média. Mais tarde, em Agosto do ano de 1950, o pequeno carro recebeu o necessário aval para poder circular na via pública e a dupla chegou mesmo a alinhar em algumas provas desportivas. Porém, mais importante do que a participação dos Tachó em competição foi a associação de Josep Vila ao projecto da criação de um microcarro, com o claro intuito de ser comercializado.
O aparecimento do PTV
Algum tempo depois da associação de Vila com os Tachó, surgiu a ideia de produzirem um veículo igualmente de pequenas dimensões, mas cujo objectivo fosse reduzir os custos de fabrico e, se possível, iniciar a produção desse mesmo carro. Uma vez mais, recorreu-se a um motor a dois tempos, mas desta feita com 247cc de capacidade, cuja potencia não ultrapassava os 3CV. Além do mais, como o projecta carecia de investimento, tudo o que era supérfluo foi prontamente dispensado e isso deu a ideia que o carro era ainda mais pequeno do que o Balleno. E como em tudo, a designação deste projecto, veio da forma da carroçaria, que se assemelhava bastante a um tradicional bolo catalão, chamado de Coca. Uma vez mais, este projecto recebeu a luz verde para ser testado na via pública e em Novembro de 1953, já o Coca rodava pelas artérias secundárias da cidade de Barcelona. E a história parece que se repetia sempre que se terminava um projecto. Desta feita, surgiu mais uma peça-chave do futuro PTV e também, talvez, uma das mais importantes, já que foi aquela que injectou capital. Maurici Perramón era um gestor e habitual cliente dos irmãos Tachó, que seguia de perto a evolução do mercado espanhol de transportes e deste modo viu ali uma boa oportunidade de expandir os seus rendimentos. Só que para conseguir levar os seus projectos avante, era necessário o aparecimento de um novo carro. Criou-se assim a sociedade AUSA – Automóviles Utilitários s.a., cujo primeiro projecto foi o PTV. Esta designação reunia a designação Perramón (P), Tachó (T) e Vila (V). E em 1956 apareceu finalmente o PTV. No entanto, antes de ser lançado no mercado espanhol, o pequeno carro foi alvo de intensos testes, sendo que um deles foi ir até Madrid, o que para um carro de pequenas dimensões e com um motor dito “pequeno” foi uma difícil obra. Isto já não referindo as condições climatéricas, bastante adversas. Rezam os escritos da época que Guillem Tachó e a sua mulher apanharam cerca de 10º negativos durante a viagem, iniciada em Manresa.
O PTV esteve em produção durante cinco anos, tendo ficado registados na AUSA a construção de cerca de 1.250 unidades, com um bloco de 250cc. Em termos de mercado, a AUSA vendia os microcarros para Espanha, mas também Portugal esteve na rota do construtor espanhol, assim como os Estados Unidos da América. O preço dos PTV em Espanha situavam-se entre as 45.000 e as 55.000 pesetas – qualquer coisa como 270 e 330 euros.
Concorrência arrasa com PTV
O sucesso que o PTV estava a conhecer era bem evidente, sendo de registar que a AUSA produziu variantes da primeiro modelo, denominado de 250. Em 1959 é apresentado o modelo Van, de modo a responder às necessidades de transporte. No entanto, somente foram produzidas 45 unidades, o que a torna actualmente num item bastante apetecível para coleccionadores. Mas a história dos PTV durou pouco, já que com o aparecimento do Fiat 600, e consequentemente do Seat 600 em Espanha, a marca sedeada em Manrensa não conseguia competir com o enorme capital italiano. Além do mais, o marketing publicitário da Seat era já na época uma coisa imensa e aos poucos a AUSA teve que reconhecer que não havia mais espaço para ela no mercado Espanhol e outros em que estava representada. Mesmo assim, a AUSA tinha já desenvolvido um protótipo mais avançado do PTV que, dentro de muito em breve, deveria receber um propulsor com 400cc, o que lhe permitiria rivalizar com outros carros de pequeno porte. Deste modo, em 1961, o ultimo PTV 250 sai da linha de produção de Manresa e a AUSA passa a centrar os seus esforços no fabrico de máquinas de trabalho, como empilhadoras e pequenas máquinas todo o terreno.
PTV 250
1956-61
Motor: monocilindrico a dois tempos;
Capacidade: 247cc;
Curso x diâmetro: 66 x 72mm;
Potência: 11 CV às 4.500 rpm;
Caixa de velocidades: Três relações mais m.a.;
Travões: de tambor à frente e atrás;
Largura: 2,950mm; comprimento: 1,320mm; altura: 1,250mm;
Velocidade máxima: 75Km/h;
Anos de produção: entre 1956 e 1961;
Nº de unidades fabricadas: 1.325