Eventos • 15 Jul 2013

Eventos • 25 Set 2012
6 Horas de Spa: um fim de semana dourado para a equipa portuguesa
Foi no passado fim de semana que se realizou a 20ª edição do encontro histórico das Seis Horas de Spa. Dos os dias 21 a 23 de Setembro passaram pelo “Toboggan das Ardenas” mais de 650 automóveis de competição e 1000 pilotos inscritos em 12 grelhas. A equipa portuguesa de Carlos Cruz, João Mira Gomes e Fernando Soares, participou a corrida de resistência de 6 horas – a Spa Six Hours Endurance – com um Jaguar E. João Mira Gomes, em equipa com João Teves Costa, participou igualmente no troféu Masters Gentleman Drivers, com o seu Jaguar XK 140.
Apresentamos de seguida uma crónica do evento, da autoria de João Mira Gomes.
Crónicas de um entusiasta – II
Francorchamps, verdadeiro nome do circuito que aparece associado à vila termal de Spa, é um circuito “gémeo” do Nordschleife e que foi construído para rivalizar com a célebre pista nas colinas de Eiffel, hoje mais conhecida como Nürburgring. Ambos os circuitos entraram nos anais da mitologia do desporto automóvel, ambos são conhecidos pela beleza verdejante que os envolve (excepto para Sir Jackie Stewart que se referia à pista alemã como “The Green Hell”) e ambos são brindados com uma metereologia absolutamente imprevisível. Mas Francorchamps é um circuito mais rápido que o Ring e já em 1938, no traçado routier hoje abandonado, os Auto Union ultrpassavam a barra dos 300 km/h. Eau Rouge e Raidillon fazem parte das curvas míticas e nomes como Ascari, Fangio, Clark e Senna (para apenas mencionar os que já partiram…) ajudaram a construir a lenda do “Toboggan das Ardenas”.
As 6 horas
O fim de semana das 6hrs de Spa é um dos pontos altos do calendário anual dos clássicos de competição e, para além da prova rainha sempe com mais de 100 inscritos, inclui outras bem conhecidas como os Gentlemen Drivers dos Masters Series. Participei em ambas, nas 6hrs a convite do Carlos Cruz no seu magnífico Jaguar E, semi lightweight de 1964, e fazendo equipa com o “Mago dos Minis”, Fernando Soares. Na segunda prova (100’ e dois pilotos) partilhei o volante com o João Teves Costa no meu XK 140 para prosseguir o desenvolvimento do carro, agora numa prova mais longa e numa pista mais parecida com Le Mans – que é o objectivo final para 2014 – embora consciente da disparidade entre a nossa montada e os outros competidores cavalgando Jaguars, Cobras e Mustangs.
Como “declaração de interesses” convém dizer que a equipa Cruz-Soares-Gome(z) (ver foto) tinha umas contas a ajustar com as 6hrs de Spa. A edição de 2011 só tinha tido “malapata” que culminou numa junta de cabeça queimada após menos de uma hora de corrida. A disposição deste ano era terminar a todo o custo e visar os trinta primeiros lugares da classificação geral (o Carlos mais optimista e como bom chefe de equipa apontava para os quinze primeiros…). Para diminuir os riscos foi acrescentada uma sessão de testes livres na quinta-feira para experimentar o carro e para o Fernando descobrir a pista de verdade já que na PlayStation era mais rápido que o Schumacher.
Logo de início o E type deu boas indicações que tinhamos carro e nos treinos cronometrados de sexta-feira todos rodámos praticamente no mesmo segundo embora com o Carlos a fazer o melhor tempo. De acordo com uma estratégia prudente, mas que se viria a revelar demasiado conservadora, demos apenas meia dúzia de voltas cada um para poupar a máquina e logo no princípio da sessão de 90’. Lição a aprender para próximas edições: esperar pela última meia hora quando está menos gente em pista e se pode atacar um lugar mais baixo na grelha (e testar os faróis). Mas as tais preocupações com a saúde do Jag e o apelo das moules de Chez Leon falaram mais alto… e qual não foi a surpresa no dia seguinte ao descobrir que tinhamos esbanjado uns bons vinte lugares numa grelha com 110 carros.
O início…
Coube ao Fernando o primeiro turno de 120’ e também lhe coube a tarefa de dar o mote para a recuperação do 63º lugar na grelha para o 14º onde se encontrava quando me passou o volante, estafado mas deliciado por ter dado uma lição de pilotagem a vários supostos Schumachaers. As paragens nas boxes são sempre capitais nas corridas de resistência. No caso das 6hrs ainda mais porque o reabastecimento só é permitido na estação de serviço do circuito num esquema comparável a sair do pit lane no Estoril, ir à bomba abastecer e voltar ao pit lane para regressar à pista. Ainda por cima na primeira paragem, quando peguei no carro, foi detectada uma pequena avaria nos farois mas cuja reparação pareceu demorar uma eternidade. Saí para a pista em 52º e lá recomeçou a corrida de trás para frente, desta vez a ter que gerir mecânica e pneus porque ainda faltavam 4hrs até à bandeirada de xadrez. Quando sai da sauna às 20hrs para passar o volante ao Carlos estavámos de volta aos trinta primeiros (24º lugar) e o E type funcionava na perfeição excepto uma degradação acentuada dos pneus dianteiros, sobretudo o esquerdo. Valerá a pena dizer que as duas horas numa pista cheia de carros, a ultrapassar e ser ultrapassado e a exigir concentração máxima, passaram num ápice e com a sensação que poderia ficar mais duas horas ao volante.
… e o final
Calhou ao Carlos a parte mais ingrata de guiar à noite numa pista que não tem iluminação e com o esforço suplementar de, na última meia hora, ter perdido os faróis de longo alcance que apontavam mais para a copa dos sapins do que para o bitume. Fê-lo de forma abenegada e brilhante, pela equipa “patrocinada” pelo Jaguar Clube de Portugal e também para honrar o xadrez verde e branco que abrilhanta o tejadilho do seu belo Jaguar.
Após seis horas de emoção, todos nós, incluindo o grupo das fãs que se deslocou propositadamente a Spa e aguentou o frio à custa de vários chás, cafés e de muitas bolachas rapinadas na box ao lado da nossa (também tinham um Aston DP 214 …) , vimos com um brilhozinho nos olhos o Jaguar E cruzar a meta num honroso 29º lugar, a mecânica a funcionar impecavelmente e tendo deixado a “malapata” lá para os lados de Stavelot.
Depois de 6 hrs de corrida a primeira impressão é “conseguimos chegar ao fim”, a segunda é “boa, ficámos nos trinta primeiros” e a terceira é os famosos “se”, se “estivéssemos vinte lugares mais à frente na grelha”, se “não tivéssemos perdido tanto tempo na primeira paragem na box”, se “os faróis não tivessem avariado”, se “os pneus tivessem aguentado melhor”, se…, se…, se…, teríamos terminado nos quinze primeiros. Já temos desafio para 2013!!!
A corrida dos Gentlemen Drivers teve lugar no domingo e fechou, com chave de ouro, o fim de semana de Spa. Vários carros e pilotos das 6hrs também competiram naquela corrida e o XK 140 era o carro mais antigo em pista e também o mais lento. Para terem uma ideia com o XK fazia mais 25’’ por volta do que com o E type num circuito com 7kms…
Mas nem isso tirou o prazer de pilotar o XK em Spa, sempre com pista seca, e contando com o apoio amigo do João Teves Costa que fez o segundo turno ao volante. Foi em 29º lugar (decidamente o nosso número do fim de semana) entre 56 concorrentes que na última volta o João viu a bandeira… não a de xadrez mas uma mais desbotada e toda tingida de preto… por ter cruzado indevida e inadvertidamente a linha branca de saída do pit lane na mudança de pilotos!
Quanto ao XK esteve à altura da sua reputação e cumpriu a viagem Bruxelas/Francorchamps/Bruxelas, mais 40’ de treinos e 100’ de corrida com louvor e distinção. Vamos aproveitar o defeso para introduzir algumas pequenas melhorias e aumentar a competitividade da máquina porque a ida a Spa também serviu para comparar andamentos com outros potenciais concorrentes, tais como os Aston DB2, e o XK ainda tem que progredir.
Deliciem-se com as fotos e constatem a qualidade das grelhas presentes em Spa, que como diz o guia Michelin “vaut le voyage”.
Até sempre e um abraço entusiasta do JMG