Crónica de Francisco Santos: A memória do nosso automobilismo

Arquivos 06 Jul 2012

Crónica de Francisco Santos: A memória do nosso automobilismo

O que pode haver de mais valioso? Para cada um de nós. Para a sociedade. Para cada tipo de atividade social, cultural ou desportiva.
Na semana passada tive oportunidade de estar num encontro com alguns dos grandes nomes do nosso automobilismo e algumas dezenas de “fanáticos” dos automóveis, sobretudo de competição.
Como foi delicioso sentar-me numa mesa com Giovanni Salvi – o menos jovem de todos -, Manuel Romão – o mais experiente de todos no campo de dirigismo federativo -, Rui Bevilacqua – que tanto fez na FPAK em prol dos clássicos e que, infelizmente, abandonou o barco quando começou a “entrar água” que diluiu algumas das suas excelentes ideias e iniciativas, Carlos Guerra – uma das mais valiosas “enciclopédias ambulantes” do nosso automobilismo – e Mário Feio – um dos navegadores mais conceituados dos ralis portugueses.
Ao lado Pedro Cortez – de muitas aventuras e sucessos no TT internacional. Mais adiante, Henrique Cardão – com quem durante anos convivi nas salas de imprensa dos Grandes Prémios de Fórmula 1, e que continua a ser a fonte mais inesgotável de piadas e anedotas, invariavelmente faladas em português do Brasil.
E, tantos outros, de gerações mais recentes, com quem não cheguei a conviver, mas que tão bem se lembram dos feitos do Giovanni e continuam ávidos por conversa com os seus ídolos de ontem e de hoje.
É isso que mantém vivo e saudável o nosso automobilismo, a meio de tanta loucura económica e de tantos desmandos.
As memórias de cada um deles, de todos, são “hard drives” com a história do nosso automobilismo. Sobretudo o de impressionante Carlos Guerra. Como é possível saber todas, repito, TODAS, as matrículas dos carros de competição de tantos pilotos? Quisera eu ter metade dessa memória. Por exemplo, para me recordar o que ao certo aconteceu no meu acidente das Antas, a 13 de maio de 1973, do qual nada não me lembro de nada. Claro que nem discuti com o Carlos quando ele baralhou a minha mente (ainda mais…) ao informar-me que um dos dois Lotus Elan Racing que eu pilotei – em Cascais e em Vila do Conde – afinal era outro carro, com outra matrícula, com outra cor. Só reconheci essa matrícula, mas lembro-me lá (Carlos, desculpe) de que carro era. A cor era mesmo verde azeitona.
No final alguém me perguntou a matrícula inglesa de um dos meus Escort TC. Sabia lá. Claro que o Carlos sabia, na ponta da língua. E lá ficaram a descortinar onde estará esse carro, porventura no Porto.
Claro que se falou – como se impunha – dos destinos do nosso automobilismo. E do que todos pensam estar mal.
No entanto, o mais importante foi o convívio sadio, e sobretudo o “refresh” de tantas memórias. Impagável. Junto com as piadas. Do passado e do presente. Estas, por vezes, meio azedas… e tristes.
Espero poder receber todos estes “velhadas” e os apenas da “segunda idade” no nosso Historic Festival, em Jerez, em Outubro.

Imagens: ACP/Rui Bevilacqua

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