Honda CB450 DOHC, ou

Clássicos 30 Abr 2012

Honda CB450 DOHC, ou “o virar da maré”

Reconhecida como um dos mais importantes modelos Honda de sempre, a CB450 foi a primeira das grandes bicilíndricas da marca e a primeira moto a ser produzida em massa com duplo veio de excêntricos à cabeça. Na época, não foi considerada um grande sucesso de vendas, com cerca 73 000 unidades vendidas nos EUA e perto de 15 000 na Europa, mas foi fundamental para tornar conhecida a Honda, em especial no mercado americano.

Quando a CB450 foi introduzida, em finais de 1964, a Honda já era há algum tempo o maior fabricante mundial de motos, com cerca de meio milhão de unidades anuais produzidas. Nos Estados Unidos, o mercado era dominado pela Harley e pelas inglesas, ambas em decadência pela obstinada recusa das respectivas gerências em modernizar os seus produtos. As campanhas de publicidade da Honda, reconhecendo o potencial do mercado americano, eram dirigidas aos não-motociclistas, retratando a moto como um meio de transporte divertido e limpo, afastando-se da imagem do “biker” oleoso associado às Harley ou motos inglesas.

Em 1963 já a Honda tinha vendido 150 000 unidades, mais que a totalidade do mercado, uns anos antes. As 305 Super Hawk e CL72 Scrambler, pequenas bicilíndricas desportivas e simples, tinham sido sucessos de vendas. Após um um investimento maciço em tecnologia de fundição, a Honda começou entretanto a testar uma nova bicilíndrica de grande capacidade: uma 450.

A “Black Bomber”

Quando surgiu no mercado, em 1965, a CB450 era então representativa de toda a capacidade tecnológica da Honda, a ponto de ser proibida em algumas corridas de produção no Reino Unido, sob o argumento de ser demasiado parecida com uma corredora de fábrica. O motor de 444cc tinha distribuição por dupla árvore de cames à cabeça, algo normalmente só encontrado nas motos de pista, e a cambota apoiada em quatro rolamentos e carburadores CV de 36mm, constituia uma estreia numa moto de produção. Mais invulgar ainda era o facto das válvulas serem operadas por barra de torção em vez de molas. Logo apelidada de “Black Bomber” por estar disponível apenas em preto, o modelo original desenvolvia 43 cavalos e atingia facilmente os 160 km/h. Apesar do motor ser “pontudo”, produzindo o seu melhor só acima das 6000 rpm, a K0 era fiável e estanque, com um arranque eléctrico que funcionava sempre, ao contrário das patéticas tentativas da concorrência como a Harley e Norton. Mas também possuía pontos negativos: a carburação era um ponto fraco, o motor possuia alguma vibração e não resistia ao degaste, sobretudo se utilizado em alta rotação sem os devidos cuidados com a lubrificação. A caixa necessitava também de uma quinta velocidade, que apenas surgiu uns anos mais tarde.

A Honda CB450 também era uma moto algo pesada, apresentando 196 quilos, um peso superior à da Triumph 650. Era também um pouco deselegante, com o seu depósito “marreco”, falha que a Honda se apressou a colmatar logo em 1966, disponibilizando um kit que possibilitava a mudança para um depósito com uma forma mais apelativa. Em Fevereiro de 1968, a K1 oficializou essa nova linha de depósito mais elegante, introduzindo também melhoramentos à carburação, bomba de óleo e a tão esperada caixa de 5 velocidades.

Pouco tempo depois, a Honda apresentou a nova CB750 e a CB450 deixou de carregar o fardo de ser o topo de gama da marca, embora se tenha mantido disponível na gama até 1974. Em 1975 surgiu a CB500 Twin, aproveitando o aumento do motor para 499cc, mas que não cativou as preferências do público, revelando-se um fiasco comercial. É no entanto a feiosa “Black Bomber” original que permanece como o modelo melhor cotado, pois passados 40 anos do seu lançamento, é-lhe atribuído um papel fulcral no virar da maré a favor dos fabricantes japoneses.

Texto: Jornal dos Clássicos/Paulo Araújo

Imagens: Paula Brandão

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1 Comentário
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Miguel Pedroso
Miguel Pedroso
6 anos atrás

Caro Paulo Araújo, o depósito feioso e marreco a que se refere tinha um propósito ergonómico que só se experimentar entende. Quanto ao comentário estético discordo pois o que o substitui não tem qualquer espécie, na minha modesta opinião, de charme o personalidade sendo neutro e feio. Quanto às bomba de óleo… sim. A Black Bomber so quentinha é que se pode aproveitar.

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