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Arquivos • 20 Abr 2012
Crónica de Francisco Santos: O improvável e um Ford Zodiac 1964
Acabo de assistir (na TV) a um dos mais extraordinários desafios de futebol que uma equipa inglesa jamais jogou. Vivi intensamente o “association football” britânico nos anos sessenta e fiquei petrificado com o desempenho do Chelsea. Como terão ficado Messi, Iniesta e demais génios do futebol catalão, cujo “tic-tac” esbarrou contra o espírito de sacrifício de um onze britânico comandado pelo italiano Di Matteo. Demonstração de como um esquema tático bem engendrado – um inédito e ultra disciplinado 5-4-1 – pode suplantar uma máquina como o Barça. Isto, claro, com um Didier Drogba gigantesco em esforço e talento, e um enorme Peter Cech numa defesa salvadora no último minuto.
Esta foi uma partida que ficará para a história do futebol como um dos maiores clássicos de sempre. Num estádio – imaginem – que eu jamais conhecera até há um ano, depois de pisar por dezenas e dezenas de vezes entre 1960 e 1964 os recintos dos principais clubes ingleses. Mas, claro, nessa época o Chelsea, nem estava na Primeira Liga inglesa, pelo que aprendi os meus primeiros passos de jornalista desportivo muito mais em White Hart Lane.
Olympia Hall – Racing Car Show
Não muito longe dali, de Fulham Road, em Chelsea, fazia a minha peregrinação anual – como jornalista – ao Olympia West Hall, em West Kensington, para ver as máquinas e as estrelas do “motor sport”. Iniciado em 1959, o Racing Car Show começou a desenvolver-se e a ser o ponto de encontro do comércio e da indústria britânicos de motor sport no anos ‘60.
Foi ali que me entusiasmei pelo Cortina GT que viria a comprar ao meu falecido amigo Jeff Uren, da Willment Cars, chefe de uma equipa campeã cujos pilotos eram John Withmore, Bob Olthoff, Frank Gardner, Bob Bondurant, Brian Muir, Roy Pierpoint e Jack Sears.
Apesar dos Anglia 1200 com que a Willment começou, estes Cortina GT – e depois de 1964, os Cortina Lotus – nas mãos do fazendeiro Jack Sears catapultarem o team para o sucesso, fazendo frente aos temidos Falcon e Jaguar. Quando os vi em Crystal Palace – circuito ao sul de Londres – fiquei ainda mais enamorado e, em 1963, comprei um que me iria entusiasmar para a competição pelo seu potencial.
Jackie Stewart e um Zodiac 1964
Embora se tivesse iniciado em 1961 (Marcos e Aston Martin DB4), e ganho 14 corridas de GTs em 1963 (Tojeiro, Jaguar E, Cooper T49), Jackie Stewart ainda era um jovem escocês desconhecido. Dois conterrâneos Jimmy (seu irmão e seu amigo Clark) já eram estrelas.
Decidido a ser piloto, Jackie foi o Racing Car Show do ano seguinte. Até já tinha contrato com a famosa Ecurie Ecosse.
No stand da Ford, o carro central era um Zodiac rosa, que chamou a atenção do escocês. O diretor de Relações Públicas da Ford, Walter Hayes, apresentou-se e em poucos minutos estava a oferecer-lhe o carro e £500 para ele ser o novo “porta-bandeira” da Ford na competição. Ainda hoje Jackie é embaixador mundial da oval azul.
Foi nesse ano de 1964 que Jackie despontou para o automobilismo. Ken Tyrrell vira-o em GTs e ligou para o Jimmy, convidando o irmão mais novo para um teste em Goodwood com um Cooper T72-BMC de Fórmula 3. Depressa Jackie foi mais rápido que Bruce McLaren, já piloto da Cooper. Tyrrell ofereceu ao escocês um contrato para a sua equipa de F3 e daí começou a mais longa parceria no automobilismo mundial que culminou com três títulos na F1.
Tudo começou pelo improvável atrativo de um horrível Zodiac cor de rosa.
Como o improvável sucesso dos blues em Stamford Bridge esta semana.
Texto: Francisco Santos
Imagens: Francisco Santos