O Palácio do Automóvel

Arquivos 26 Dez 1996

O Palácio do Automóvel

Fez este ano noventa anos que se iniciaram as obras de construção da primeira grande garagem portuguesa. Aliás, a Auto-Palace é muito mais do que isso: é um verdadeiro monumento ao automóvel.

Quando a Sociedade Portugueza d’Automóveis Lda. decidiu expandir as suas actividades – que vinha desenvolvendo desde 1904, nas garagens da Rua da Escola Politécnica / Jardim do Regedor ao Rato – fê-lo com grande visão e qualidade. Decidiu-se construir um edifício preparado para efectuar todo o tipo de serviços relacionados com o automóvel. A escolha do local recaiu em terrenos situados no Rato. O projecto e a construção foram encomendados à firma Vieillard & Touzet. O orçamento total era de 25.900$000 Reis. O autor do projecto foi o conceituado engenheiro francês, Fernand Touzet, que, para além da Auto-Palace, foi ainda autor de outros edifícios importantes, em Lisboa, como a primeira central Tejo e a Fábrica da Moagens e Massas Alimentícias.

Elevador Eléctrico e Escola de “Chauffeurs”

A contrução da garagem terminou em 1907, e embora algumas modificações tenham sido efectuadas ao longo do tempo, por forma a adaptá-la às evoluções que o automóvel foi sofrendo, a sua estrutura e fachada mantêm-se até aos dias de hoje. Quando ficou concluída, a Auto-Palace tinha 2.200 m2 e capacidade para 200 automóveis. Dispunha de um elevador eléctrico – o que era quase inédito, na época – para o acesso à galeria superior, onde se encontravam os escritórios, salões de leitura e depósitos gerais. No andar térreo, para além das oficinas, existiam compartimentos separados, um para cada cliente, e ainda uma escola para chaufeurs, onde lhes eram ministradas aulas teóricas e práticas, e onde podiam, inclusivamente, dormir…

Energia Eléctrica

Nas oficinas, já movidas a energia eléctrica, não só se efectuava a manutenção dos veículos automóveis, como se construíam “carrosseries”, de grande qualidade e perfeição, cujo desenho era escolhido pelo cliente. Eram posteriormente montadas sobre chassis de variadas marcas: Renault, Brasier, De Dion Bouton, Dietrich, Isotta Fraschini, entre outras. Obtinham-se, com este procedi mento, automóveis exclusivos, feitos à medida do cliente. Para além de actividades que se prendiam com o automóvel, na Auto-Palace fabricaram-se também alguns hidroplanos. Na época em que foi construída, a Auto-Palace era, ao mesmo tempo, fábrica e garagem. Os clientes eram recebidos com todas as comodidades, o que se compreendia, já que, naquela altura, o automóvel era um artigo de luxo. A medida que aquela situação foi sendo modificada, os serviços oferecidos aos clientes foram evoluindo (pelo menos em termos de rapidez) e foi sendo necessário mais espaço. A garagem/ fábrica passou progressivamente de construtora a reparadora, e, finalmente, a garagem e salão de vendas.

Alargamento nos 30 Anos

Em 1930, deu-se o primeiro alargamento do piso superior, e no ano seguinte construiu-se uma rampa de acesso àquele piso. Também por essa altura, perderam-se os vitrais da zona dos grandes arcos da fachada principal. Em 1955, a Auto-Industrial passou a ser a proprietária da Auto-Palace. Em 1960, o piso superior foi novamente ampliado. Na década de oitenta, edifício foi classificado imóvel de interesse público, após estar em risco de demolição, e posteriormente, de ser transformado em centro comercial. A Auto-Industrial restaurou, respeitando o traçado original, todo o edifício, naquela altura, e esteve envolvida em negociações, juntamente com o “CPAA”, com a Câmara Municipal de Lisboa e com o “ACP”, para ceder a Auto-Palace, com o objectivo de nela se instalar o Museu do Automóvel de Lisboa. Goradas as negociações, resta esperança de um dia vermos a Auto-Palace como um edifício dedicado ao Automóvel Antigo.

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