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Em 5 de Novembro de 1911, duas dezenas de motociclistas uniram pela primeira vez, mau grado as estradas esburacadas e lamacentas, as duas principais cidades do País. Foi o 1 Porto-Lisboa em motos, cujos 359 kms foram efectuados pelo vencedor, Inocêncio Pinto, em 7h 13m 75, à espantosa media de… 49,8 kms/h. Pela façanha, ganhou uma medalha de ouro, um diploma e 705000 réis. O seu principal adversário, Mário Beirão, não chegou a meta. Duas semanas depois, voltaram à estrada para uma desforra…
Para a imprensa da época, a prova constituiu um acontecimento nacional do dia. O telégrafo e o telefone foram mobilizados para darem informações do que se estava a passar na estrada, peripécias que, depois, a imprensa acompanhou ao mínimo pormenor.
No dia anterior à corrida, (organizada pela União Velocipédica Portuguesa e, portanto, aberta a ciclistas) o Sports Ilustrados dedicava já um grande espaço ao acontecimento: “…na categoria de mottocyclettas, a lucta deve ser terrível e ahío combate deve fundar-se principalmente na excellência das machinas, porque os concorrentes são, na maioria, rapazes de coragem e costumados a maravilharem-nos, com a sua temeridade. Uma semana depois, o jornal fala-nos da coragem e da temeridade das duas dezenas de motociclistas que, nesse longínquo dia de Inverno de há 85 anos, se fizeram à estrada, propondo-se cumprir o percurso dentro do prazo de 12 horas imposto pelo regulamento da prova.
Entre eles, havia alguns nomes então bem conhecidos, que o meio não era grande, embora as marcas apostassem nas corridas para divulgarem as qualidades das máquinas, sobretudo a robustez e a virtude de chegar ao fim. Alípio Motta Veiga, Carlos Almeida, Adriano Moraes, Zeferino Silva, Inocêncio Pinto, João Vieira. Leopoldo Futscher Pereira, Jacinto Heitor eram alguns dos que alinharam às 7 horas na Praça da Batalha, mas de onde apenas partiram às 9h 20m., após duas horas de discussão para escolha do percurso de saída do Porto: Espinho ou Carvalhos. Porque o primeiro estava intransitável para motos, optou-se pelo segundo. Com os motores selados, demandaram o sul, por Oliveira de Azeméis, Águeda, Coimbra, Leiria, Alcobaça, Caldas da Rainha, Torres Vedras, com chegada à Praça do Saldanha em Lisboa.
O Calor da Chegada
Aqui, juntaram-se milhares de pessoas impacientes para verem chegar os motociclistas (e os ciclistas, que tinham partido às 24 horas do dia anterior), dificultando a actuação das forças da ordem. Mas, tendo em conta a actualização da grafia, deixemos que o nosso confrade do Sport Ilustrado nos delicie com a sua prosa de oito décadas e conte o que se passou: “Essa impaciência atenuou-se, ligeiramente, com a chegada do primeiro concorrente, em motocicletas, Inocêncio Pinto, cujos excepcionais recursos de corredor e a sua muita coragem foram coroados pelos espectadores com uma calorosa ovação, (..) manifestando o público tal entusiasmo e ardor em presenciar de perto essa última fase da corrida que as forças encarregadas de manterem a meta desimpedida se confessaram impotentes, efectuando-se a chegada por um pequeno corredor, que não teria mais de dois metros de largura, aberto na massa do público”. Para trás tinham ficado os caminhos e estradas de terra batida, intransitáveis devido às chuvadas recentes, com muita lama e enormes crateras, embora em algumas curvas sinalizadas com cal colocada pelas populações da zona.
Pelo caminho ficaram também mais de uma dezena de concorrentes; as quedas e os furos foram os principais responsáveis pelos abandonos. Um deles, o do mais próximo adversário do vencedor -Mário Beirão – ficou a dever-se a uma queda já perto de Lisboa. Dentro do prazo regulamentar, entraram na meta mais dois concorrentes: Carlos David de Almeida, com 7h.30.34s., e Motta Veiga, com 8h.57m.25s.. O Sport Ilustrado diz-nos ainda que “o Sr. Inocêncio Pinto representava na corrida o Sport Club Progresso e montava N.S.U. Os Srs. Carlos de Almeida e Motta Veiga montavam F.N.” Para que conste…
Duas semanas após o I Porto-Lisboa, Inocêncio Pinto e Mário Beirão voltaram à estrada para repetirem a prova. Na origem da nova corrida esteve um desafio do primeiro ao segundo motivado pelas “discussões travadas no reclamo comercial por intermédio da imprensa”. O poder da publicidade já então era grande. Com efeito, a propósito de uma prova anterior (Lisboa-Caldas da Rainha-Lisboa), a FN, marca representada por Mário Beirão, tinha mandado publicar anúncios de meia-página nos jornais, nos quais, além dos elogios às qualidades da própria moto, se dizia que “dos motociclistas inscritos só partiram os da marca FN, porque os da NSU não quiseram correr, devido ao estado das estradas (..)”. Por sua vez, imediatamente a seguir ao l Porto-Lisboa, a NSU, e igualmente em meias-páginas, sublinhava a sua vitória e, sem nunca citar a marca adversária, salientava o feito de Inocêncio Pinto que, pilotando uma máquina de 3 CV, chegara ao final “com um avanço de 17 minutos do segundo, que montava 5 1/2 cavallos”. E, se da segunda vez Mário Beirão chegou a Lisboa, o desafio não significou melhoria de tempos. Inocêncio Pinto desistiu antes de Leiria e Beirão demorou mais de 13 horas do Porto a Lisboa.
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