Arquivos • 19 Nov 2012
Arquivos • 23 Dez 1996
Uma Triste Colecção
Se se encontrassem em perfeitas condições, poderiam constituir o embrião de uma pequena coleção de automóveis antigos. Porém, o estado em que se exibem aponta no sentido contrário – a sucata. Um leitor amigo viu-os e não resistiu a fotografá-los. Com infinita tristeza.
A verdade é insofismável e repete-se ao longo dos tempos: até para se ser automóvel é preciso ter sorte. Quem considera o automóvel como um simples meio de transporte, apenas mais cómodo e pessoal do que os cheiros e enchentes dos autocarros e metros, está-se um bocado nas tintas para isso -quando ele “pifar” logo se troca por outro. Mas quem pertence a essa raça em extinção que ainda encontra no automóvel, qual cão, o seu mais fiel amigo, que fala com ele como se fosse entendido, que trata bem dele como se de um amigo se tratasse, o caso muda de figura. É que há por aí muito carrinho a aguentar com as boas e más disposições de cada um – sem se queixar.
Por isso, imaginem o que não deve pensar, enquanto fiel amigo, aquele Triumph Spitfire quando vê passar outros, impecáveis, bem tratados, formando com o seu dono uma excelente ‘parure”, como se dizia antes. Ele, que está ali abandonado, a apodrecer, abatido sem dó nem piedade – quiçá depois de tão belas horas que proporcionou ao seu dono e respectiva “camaraderie” nos tempos de fresquinho e novo…
A seu lado tem um Simca Aronde, outro companheiro de fim de vida… quem diria que Gerard Larrousse se estreou num carro destes, que por cá também fizeram das suas, mesmo não sendo carros de competição Austin A 30, A4D, furgio Volkswagen – um BMW 1 modelo que teve grandes momentos entre nos e que desapareceu sem deixar rasto, um Datsun 1200 e um Mini 1275GT, mais recentes do que os seus irmãos, mas com o destino marcado. Tudo isto ali para os lados da Base Aérea a dois passos de Sintra, a dois passos de Lisboa. A apodrecer cada vez mais até ao dia em que um corajoso decida que está ali um grande projecto da sua vida, por muito trabalho que haja para fazer – reviver o passado, talvez através do carro que foi cúmplice dos seus primeiros namoricos…