O BMW 328

Arquivos 22 Nov 1996

O BMW 328 “EG-10-40” – Vida Desportiva de uma Velha Glória

No número 3 de Jornal dos Clássicos mencionámos este carro como exemplo de um veículo “Genuíno” e no número 6, o modelo foi mesmo selecionado para tema central da secção “Carisma”. Torna-se, portanto, oportuno, recordar em pormenor a carreira desportiva do “EG-10-40” e simultaneamente, mostrar um pouco do ambiente vivido à sua volta.

É para substituir o Adler Diplomat de 6 cilindros com carroçaria Rennlimousin que utilizava em competições desde 1935, que Manuel Nunes dos Santos decide adquirirem 1938, o BMW 328 “EG-10-40”. Estreia-se em Julho no VII Circuito Internacional de Vila Real, perante uma oposição relativamente forte e em confronto com três outros BMW idênticos. Os mais rápidos nos treinos são Casimiro de Oliveira com a Bugatti 51 que havia pertencido anteriormente ao Engenheiro Francisco Ribeiro Ferreira, e Vasco Sameiro que tripula o seu Alfa Romeo 8C 2300 Monza ex-Scuderia Ferrari, dotada quase seguramente com um motor de 2.600cc.

Estes carros mostram-se ainda ágeis e competitivos, apesar de se apresentarem equipados com faróis e guarda-lamas, dada a circunstância de esta prova ser aberta apenas a veículos da categoria Sport. O romeno Peter Cristea é o terceiro mais rápido, aos comandos do seu BMW 328 modificado em Bucareste. Durante a corrida, Casimiro é obrigado a abandonar e Sameiro é o vencedor absoluto pela terceira vez consecutiva utilizando o mesmo carro. Nunes dos Santos termina em 4° atrás do romeno, de Alfredo Rego com outro BMW, um 327, e à frente do alemão Ralph Rose que também tripulava um BMW 328 fortemente modificado.

Campeão de Rampas

Até ao fim do ano, Nunes dos Santos não dá quaisquer oportunidades aos adversários e será o vencedor absoluto das Rampas do Buçaco e do Cabo da Roca, realizando as médias de respectivamente, 73,655 e 78.806 km/h e remetendo em ambas as ocasiões para o 2° lugar, o Ford V8 de Sebastião Freitas da Fonseca. Para completar os sucessos familiares do ano de 1938, Manuel Nunes dos Santos concebe as tácticas que permitirão a sua mulher Deolinda. triunfar no I Rali Feminino do Clube 100 à Hora, conduzindo um Hansa 1100. Em 1939 e 1940 não se realizam em Portugal provas de circuito ou subidas de montanha e as perspectivas tornam-se sombrias devido ao aproximar do início da crise que levou ao eclodir da II Guerra Mundial.

O “EG-10-40” vai então ser mantido intacto durante mais de dez anos e volta a emergir em 1949, para se tornar, juntamente com o Edfor “RP-10-30” e com o Adler Trumpf Junior Sport “AD-53-89”, num dos raros automóveis de competição que, em Portugal, participaram em provas desportivas, tanto antes, como depois da Guerra. De facto, em Junho desse ano, Nunes dos Santos é 2° em Vila Real atrás do Allard K1 de José Cabral, e à frente do Hotchkiss conduzido por Jorge Monte Real. Em Agosto alcança o 3° lugar da classificação geral no Rali Nacional de Miramar, distanciado apenas pelos Allard K1 da dupla Jorge de Seixas / Martinho Lacasta e de José Cabral.

Em Monte Carlo

Em Fevereiro de 1950, no XX Rali Monte Carlo, vai utilizar, tendo como navegador Ernesto Martorell, um outro BMW. Trata-se do BMW 327 “CA-10-84”, um carro idêntico do ponto de vista mecânico. todavia um pouco menos veloz, mas porventura mais fiável e um pouco mais confortável, tendo em conta a longa distância a percorrer. Contudo, tal como acontece a 8 das 9 equipas portuguesas participantes, não completam a prova. Apenas José Duarte Ramos Jorge acompanhado de João Ortigão Ramos, conseguem levar até ao 34° posto, o Hotchkiss “FI-12- 99”. Alguns meses mais tarde, em Junho, Nunes dos Santos decide alinhar no Circuito Internacional do Porto. Vai encontrar novamente, adversários de respeito. Felice Bonetto, o antigo trapezista de circo, que praticamente não havia treinado por isso largou da última fila, impõe o seu especialíssimo e único Alfa Romeo 412 e Piero Carini é 20, tripulando o diminuto “Osca-Maserati”, que é na realidade um chassis Borella, equipado com a mecânica de um Osca MT4. Chegam na frente do Jaguar XK120 “lightweight”de Tommy Wisdome de Madame Yvonne Simon, pilotando a sua Ferrari 166MM azul com carroçaria Touring Coupé.

Nunes dos Santos é 5°, seguido do Cisitalia Abarth 204A daScuderia Guastalla, pilotado por Emílio Romano. Uma semana depois, em Vila Real, é o primeiro a abandonar, numa corrida ganha por Carini no “Osca-Maserati”*, que é seguido dos Allard J2 de Casimiro de Oliveira e José Cabral. Em Outubro, em Cascais, é 2° da classificação geral e 1° da classe,no II Circuito da Parada, uma perigosa prova cronometrada individual, apenas batido pelo MG TC de Joaquim Filipe Nogueira, mas distanciando José Nogueira Pinto e o seu Allard J2. No início de 1951. volta a cometer uma pequena infidelidade ao “EG-10-40” e. acompanhado desta vez por Mulo Bandeira Bastos, regressa ao Rali Monte Carlo com o mesmo BMW 327 utilizado no ano anterior. Alcançam um honroso 8° lugar na classificação geral e obtêm o segundo melhor resultado de toda a impressionante comitiva de 13 equipas portuguesas que participam.

No I.G.P de Portugal

Em 17 de Junho regressa ao Circuito da Boavista. Trata-se do l Grande Prémio de Portugal, para o qual o ACP reuniu, com a ajuda de Giuseppe Trevisan, uma participação de grande nível: os 12 pilotos portugueses que alinham, vão defrontar 7 italianos, 4 ingleses e 3 franceses. Nunes dos Santos alcança nos treinos o 17° lugar. E o único BMW no meio de uma armada de Ferrari, Jaguar, DIMA, FAP, Talbot, Allard, Alfa Romeo, Fraser-Nash, Delahaye, Delage e Cisitalia Abarth. Não vai ser, todavia, feliz na corrida, pois é obrigado a retirar o “EG-10-40” ao fim de 25 das 45 voltas da prova. Casimiro de Oliveira (Ferrari 340 America) obtém aqui um dos seus triunfos mais expressivos, deixando Vittorio Marzotto (Ferrari 212 Export) a mais de 2 minutos e Pierre Meyrat (Talbot T150C). amais de 3. Um mês depois, em Vila Real.

A oposição continua forte, mas o desportivismo de Manuel Nunes dos Santos também. Alcanca um brilhante 5° lugar, batido pelos Ferrari de Giovanni Bracco (212 Export), Jorge Monte Real (166 MM Spider Corsa cedida pela Scuderia Guastalla de Franco Cornacchia), e Casimiro de Oliveira (o mesmo 340 America com que vencera no Porto). e pelo Cisitalia Abarth 204A de Emílio Romano. Perto do fim do ano, no III Circuito da Parada, Joaquim Filipe Nogueira vence novamente, utilizando desta vez um FAP emprestado, e Nunes dos Santos obtem um resultado idêntico ao alcançado no ano anterior, ou seja, 2° na classificação geral distanciando desta vez o Allard J2 de Don Fernando Mascarenhas. Como esta prova é disputada individualmente, aproveita para experimentar um novo Porsche 356-1100 e com este carro classifica-se o 8° lugar. Manuel Nunes dos Santos. que alcança aindao5° lugar no Campeonato de Rampa de 1951, vende então o BMW branco e encarnado a Daniel Magalhães e, па temporada de 1952 vai utilizar aquele Porsche 356, que é um dos primeiros exemplares importados para Portugal.

Peça de Colecção

Daniel Magalhães pinta o BMW de cinzento metálico e estreia-se com ele em Marco na Rampa do Gradil, nas proximidades de Mafra, É9° da geral e vence na categoria de 2 litros. Em Vila Real, durante os treinos, o Engenheiro Duarte Gonçalves, perde junto aos stands, o controlo do Georges Irat, que pacientemente tinha reconstruído e adaptado para correr, e vai atingir o “EG-10-40 que estava parado, impossibilitando a participação de Magalhães e destruindo o Georges Irat. Em Setembro, na Rampa da Pena, o resultado é idêntico ao obtido no Gradil : 9° da gerale 1° na categoria até 2.000cc. Uma semana depois, em Vila do Conde, Daniel Magalhães vai encontrar-se com ferozes adversários, na forma de quase todos os Ferrari existentes em Portugal.

Ainda assim consegue deixar para trás durante os treinos os de D. Fernando Mascarenhas e Guilherme Guimarães, bem como o Allard J2 cedido a Francisco Corte-Real Pereira e o BMW 327 “OR-10-52” de José Ferreira da Silva. Este IV Circuito de Vila do Conde, assinalou a estreia de um novo traçado com 4.557m de perímetro e, conquanto estivesse ainda a correr em 5° lugar no final da prova, Magalhães não foi classificado, pois não cumpriu a distância mínima exigida pelo regulamento. Os quatro concorrentes que terminaram classificados foram, pela ordem, os Ferrari de Vasco Sameiro, D. Fernando Mascarenhas. José Nogueira Pinto e José Cabral. No balanço final do Campeonato de Rampa, Daniel Magalhães alcança, contudo, a vitória na categoria de 2 litros. No final deste ano de 1952, o “EG-10-40* passou definitivamente à reserva e alguns anos mais tarde foi restaurado.

Classificados

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