Clássicos • 13 Out 2019
Clássicos • 21 Nov 1996
Sir Alec Issigonis – Um Nobre da Indústria Automóvel
A capa e algumas páginas da primeira edição de Jornal dos Clássicos foram, em grande parte, dedicadas a uma das suas realizações revolucionárias – o Mini. Estamos a referir-nos a Alexander Issigonis, um homem de enorme criatividade e talento que, no início dos anos 50, assinou aquele projecto e que, se fosse vivo, completaria este ano o nonagésimo aniversário. Um perfil que preenche muitas páginas da história do automobilismo contemporâneo.
Alexander Arnold Constantine Issigonis nasceu em Esmirna, na Turquia, filho de um grego naturalizado inglês e de mãe alemã, numa época em que à Grécia estava cometida a administração do território turco. Tal como outras famílias de posses em Esmirna, o jovem Alec foi educado em casa, por professores privados. Após o final da I guerra mundial, a comunidade inglesa na Turquia, parte da qual estivera ao lado dos alemães, foi sendo evacuada para a Inglaterra em navios da Royal Navy, num dos quais viajou, em 1922, a família Issigonis.
O Interesse pelas Suspensões
O pai de Alec faleceu em Malta durante o trajecto e a mãe, ao chegar a Londres, tenta inscrever o filho numa escola de Belas Artes, mas este prefere engenharia e, após três anos no Batersea Polvtechnic, Issigonis encontra, em 1928, o seu primeiro emprego numa firma de transmissões automáticas com sede em Victoria Street. Entre 1933 e 1936, no grupo Rootes, trabalhou nos planos de uma suspensão independente para o Humber e o Hilman, vivendo então, com a mãe, em Kenilworth, não muito longe de Coventry. Do conhecimento travado, entretanto, com Robert Boyle, engenheiro-chefe da Morris, nasce um convite para se transferir para Cowley, onde a firma desenvolvia uma nova suspensão independente dianteira.
Na Morris, Issigonis esteve ligado a diversos departamentos, inclusive, durante a II guerra mundial ao sector militar, embora sempre, de uma forma ou de outra, preocupado com as suspensões. Todavia, é desta época a ideia da construção de um automóvel de concepção completamente nova, cujos esboços (feitos à mão-livre e que Issigonis levava ao detalhe dos botões do porta-luvas e dos puxadores das portas) eram depois pormenorizados por dois desenhadores. Em 1942 estava pronto o primeiro modelo à escala do Morris Minor e, em finais de 1947, o carro rodou pela primeira vez.
O Ovo Escalfado
Mas, quando lord Nuffield, o grande patrão da Morris, viu o seu novo carro não gostou. Issigonis recordaria, mais tarde, que Nuffield ficou furioso e que abandonou o local da apresentação dizendo que o carro parecia “um ovo escalfado”. Pelo contrário, alguns meses depois, o público recebeu o Minor com grande aceitação e, onze anos mais tarde, quando Issigonis encontrou lord Nuffield pela segunda e última vez, foi para ouvir um afectuoso “thank you”. Não podia ser de outra maneira: o encontro era motivado pela apresentação do milionésimo Minor, um modelo que se manteria em produção até 1971, ano em que mantinha ainda grande popularidade entre os ingleses e com mais de 1,6 milhões de exemplares fabricados.
Durante a sua permanência em Cowley, Issigonis explorou também as potencialidades da tracção dianteira que chegou a instalar num Morris Minor, ao qual rodou de 90 graus o motor e a caixa de velocidades e que, depois, foi utilizado regularmente durante largos anos. Entretanto, em 1952, Issigonis, que tinha começado a desenhar o futuro Mini, é contratado pela Alvis, onde desenvolveu a sua actividade sem nunca conseguir concretizar a produção do carro, apesar de terem sido construídos três protótipos que, posteriormente, foram destruídos pelo fogo.
Reconhecimento Real
Em 1955, aceita um convite de Leonard Lord e passa a fazer parte dos quadros da BMC como director-técnico nas instalações de Longbridge. Aqui, com todo o apoio e interesse de Lord, passa a dedicar-se em absoluto ao desenvolvimento de conceitos avançados de desenhos e concepção em conjunto com Chris Kingham, com quem já tinha trabalhado na Alvis. Ambos desenvolveram um projecto de um veículo de dois volumes com motor de 1500cc e suspensão independente. Tratou-se de um carro puramente experimental. Pouco depois, Issigonis começou a desenhar um automóvel de pequenas dimensões que pudesse transportar quatro adultos e as respectivas bagagens, a que destinou 80 por cento do seu volume, deixando os restantes 20 por cento para os órgãos mecânicos.
Nascia então o Mini, mas essa é uma história de que já nos ocupámos. Quando faleceu, em 1988, Alexander Arnold Constantine Issigonis era Sir Alec Issigonis, título que lhe foi conferido pela Corda britânica como forma de reconhecimento por uma vida dedicada à causa da investigação e desenvolvimento da indústria automóvel do seu país. Não necessitava do título. Alec Issigonis sempre foi um verdadeiro fidalgo, um nobre na profissão que escolheu.