Fernando Pinheiro os Ilustres Desconhecidos

Arquivos 20 Out 1996

Fernando Pinheiro os Ilustres Desconhecidos

Agosto, mês de férias; ainda que este ano se note mais movimento, Lisboa tem recantos sossegados. Por vezes basta atravessar uma parede… isto é, passar por baixo de um prédio em movimentada rua para se chegar a um pacato recanto do outro lado. Como esta garagem, na Rua D. João V, que alberga dois ou três modelos antigos mas já viu muitos outros passar por lá.

Não é apenas dos nomes mais “badalados” que vivem os automóveis clássicos, antigos e companhia; alguns “ilustres desconhecidos” também dão a sua quota-parte, ainda que, para o grande público, sejam isso mesmo “ilustres desconhecidos”. Fernando Pinheiro é daquelas pessoas da “velha guarda”, de trato fino e piada brejeira sempre pronta. E vai conversando – a verdade é que entramos ali para fazer fotografias aos carros e aos recantos da garagem e acabamos com muito mais elementos – contando como tudo começou, como se meteu nestas coisas, ele, que nem sabia nada de automóveis e, como diz Herman José “era mais bolos’.


Começar com os Bolos

“O meu ramo era outro… Sou oriundo da pastelaria! Comecei a conduzir aos 20 anos. Comprei um carro, depois outro, fui negociando, até que apareceu esta hipótese. Tenho isto desde 1973; comecei devagar, apenas com duas pequenas garagens, que depois foram ampliando, até à estrutura actual, que existe desde 1979. Aprendi tudo à minha custa – e do dinheiro…

Esta é uma garagem de recolha, se assim se pode dizer, que trabalha em turnos… quando saem os carros que recolheram durante a noite, entram os de quem trabalha nas redondezas durante o dia… Mas três homens asseguram ainda outros pequenos trabalhos: “Já tive nove elementos e só arranjei dores de cabeça; agora tenho um pintor, um bate-chapa e um mecânico que asseguram pequenas reparações e pequenos restauros. Actualmente não tenho condições para fazer restauros grandes, como já aqui foram feitos, mas são muito demorados e não dá. Apenas se pode começar um restauro havendo pessoal, para não parar com tudo o resto.”


O Telefonema do Compadre

Um dos automóveis que escuta a nossa conversa, um Austin de 1947, tem uma história diferente dos outros: “É igual ao primeiro carro que tive e foi descoberto no Alentejo. Eu nem sabia, foi o meu compadre que me telefonou a dizer – olhe, vai um Austin para cima… E foi aqui restaurado, vinha todo em caixotes… e não foio único que “veio ao colo”…” Se o Mercedes 180, de 1958, é mais fácil de ver por aí (mesmo a trabalhar ainda como táxi), o mesmo não se passa com a furgoneta Borgward Isabella, de 1959, que tem grande currículo como artista de cinema:

“Volta e meia é solicitada para entrar em filmes… é artista de cinema e de televisão…” enão só, porque se foi vedeta de “A casa dos loucos” (não confundir com “A casa dos espíritos”), também é verdade que conhece muito bem a Fonte da Telha, de outras filmagens e no ano passado passeou-se pela avenida da Liberdade, em Lisboa, quando se realizou o desfile da Prevenção Rodoviária Portuguesa. Mas voltemos aos restauros.


Moldes são Úteis

“Para se fazer um restauro, os problemas de mecânica ainda se ultrapassam, mas há peças que são insubstituíveis; não havendo, as portas podem fazer-se a partir de moldes, por exemplo, mas certos tipos de guarda-lamas, “capots”, etc., têm que estar lá de base.” E pronto; ali, mesmo ao lado do Mini amarelo em fase de acabamento, estávamos conversados, uns bons anos depois do primeiro carro aqui ser restaurado: “Foio Chevrolet Master de Luxe, de 1938, e um Austin foi o segundo”- pertenca de Aníbal Mendes, do Clube de Automóveis Antigos da Costa Azul… o tal compadre que partilha deste mesmo gosto de Fernando Pinheiro. Que é de automóveis antigos… mas podia ser mais de bolos.

Deixe um comentário

Please Login to comment

Siga-nos nas Redes Sociais

FacebookInstagramYoutube