Ainda Silverstone: Ídolos com Pé na Tábua

Competição 14 Out 1996

Ainda Silverstone: Ídolos com Pé na Tábua

Não foram apenas os automóveis as estrelas do Coys Internacional Historic Festival. Até porque um dos atractivos do evento é a possibilidade dos visitantes circularem livremente no paddock, confraternizando com pilotos e mecânicos. Entre estes encontravam-se alguns pilotos consagrados, personalidades do mundo da música e mesmo jornalistas conhecidos.


São poucos os acontecimentos ligados a automóveis antigos de competição, em que Stirling Moss não esteja presente. Este facto prende-se com o estatuto de lenda viva de que goza o piloto inglês, que Enzo Ferrari disse um dia ser o único que podia ser comparado ao grande Nuvolari. Stirling, que foi vinco vezes vice-campeão do mundo de Fórmula 1 (em 1955, 1956, 1958, 1959 e 1961) era um dos mais rápidos e talentosos na sua época, sendo apenas suplantado por Juan Manuel Frangio. No entanto, a superioridade do argentino só se verificava nos monolugares, já que, quase todas as vezes que se encontravam na pista, conduzindo automóveis de turismo, o piloto inglês levava a melhor.



Na curta carreira de Stirling Moss – que terminou abruptamente aos 31 anos, após um acidente em Spa, com um Lotus-Climax V8 – para além de muitas vitórias em F1 (duas delas no Grande Prémio de Portugal, no circuito do Porto, em 1958 e 1959) o piloto ganhou a Targa Florio, as Mille Miglia (ainda é seu o recorde estabelecido em 1955, com um Mercedes 300SLR), o Tourist Trophy por quatro vezes e venceu ainda a prova do circuito de Vila Real, em 1958, ao volante de um Maserati 300S. Em Silverstone, dando mais uma vez mostras de que é ainda muito competitivo e versátil, conduziu três automóveis bem diferentes: um MGB de competição de 1963, com o qual alcançou um 4º lugar da geral na corrida reservada aos MG; um Maserati T61 Birdcage de 1959 na corrida de Sport; e o seu Shelby Mustang GT 350 de 1963 na corrida de GT’s.

Outra figura em destaque foi Sir Jack Brabham, Uma das marcas homenageadas deste ano foi precisamente a Brabham Racing Organisation, criada por “Black Jack” (como era conhecido o piloto australiano nos circuitos) em 1962. Nessa altura Jack Brabham já tinha sido campeão do mundo de fórmula um por duas vezes (em 1959 e 1960 com um Cooper-Climax 2.5). Para a segunda vitória no campeonato contribuiu o triunfo no Grande Prémio de Portugal, no circuito do Porto. Só em 1966, já ao volante de um fórmula, um com o seu nome, um Brabham-Repco BT 19, alcançou o terceiro título. Abandonou a competição em 1970, com 44 anos, quando ainda era muito competitivo. Em Silverstone deu autógrafos e passeou a sua classe na pista, ao volante do carro que lhe permitiu tornar-se tri-campeão do mundo de F1.


Outra participação habitual nas corridas de automóveis clássicos é Nick Mason. Mais famoso por ser o baterista dos Pink Floyd, é proprietários de uma das maiores e melhores colecções de automóveis no Reino Unido, o que não é dizer pouco. A sua garagem abriga vários Ferrari, Alfa Romeo, Maserati e modelos de outras marcas, a maior parte de competição e com um pedigree exemplar. No circuito inglês correu com nada menos do que quatro automóveis: um Ferrari 250 GTO, de 1962; dois Maserati, um 250F de 1957 e um T61 Birdcage; conduziu também um Aston Martin Ulster de 1935, disputando a categoria reservada a carros de sport anteriores à guerra.

Outra presença do Showbusiness foi a do cantor Chris Rea, que participou ao volante de um Ferrari P1, de 1965, pertencente a David Piper, que na década de 70 também correu por cá. Carol Spagg foi uma das (poucas) senhoras a participar na competição, com o seu Lotus Eleven de 1957. Este automóvel pertenceu a Innes Ireland, que participou com ele nas 24 Horas de Le Mans. Era um dos automóveis mais originais na linha de partida, e consequentemente, um dos menos competitivos. Carol Spagg tem conseguido alguns resultados brilhantes em provas internacionais, nomeadamente na edição do ano passado da Carrera Panamericana, onde foi sétima da geral, e a melhor dos automóveis não modificados. Nessa prova utilizou o seu Aston Martin DB2.


A inglesa disse ao Jornal dos Clássicos que gosta de correr com carros no seu estado de origem, lamentando que a maior parte daqueles que vemos correr estejam muito modificados. Disse-nos ainda que por esse motivo não voltará à Panamericana. O editor técnico da revista Classic Cars, Tony Dron, que esteve em Portugal no ano passado, tendo sido juiz no Concurso de Elegância do Estoril correu com um Aston Martin DBR, 1957, ficando em quarto lugar da geral, na corrida de carros de Sport. Curiosamente, no interior não é bem assim; pagos os seis marcos e meio do bilhete, abre-se um mundo muito diferente ao visitante, que cedo esquece Schumi para entrar noutros nomes – Moss, Zakspeed, Jaggermeister, Steinmetz… Não há um catálogo geral, porque o Museu aberto há cerca de 10 anos vive de veículos que circulam, isto é, os proprietários deixam lá os carros durante uns tempos, depois trocam, ou levam em favor de outros. Mas todos os modelos expostos contam com indicações detalhadas sobre as principais características.


Do Ford A de 1903…

Os estilos são muito diversos e de várias gerações; desde o Ford A de 1903 ou o De Dion Bouton de 1912 ao Lamborghini Countach de 1989 ou o BMW M3 (pilotado por Johny Cecotto) de 1993, há muita coisa para ver. Tanto se pode encontrar um Mercedes do DTM como um motor de Jaguar E em corte; depois, os carros antigos misturam-se com os históricos e estes com os clássicos, os monolugares com os coupés, barquetas e demais família. Observe-se parte da variedade numa visita recente, sem seguir qualquer critério de data ou fabricante, mas assim o que se vê desde que se entra neste belo mundo: Bugatti 37 A(1927/29) e Type 43 (1927/30), Maserati Tipo 61 (Birdcage), MG K3 (1934) e TC (1945/49), Mercedes 540K Cabriolet A (1936), Maserati 6M (1936), Opel Commodore GS preparação Steinmetz (1970) pilotado por Dieter Frohlich, Honda S 800 (notando-se que se trata de um carro recentemente preparado para as provas de clássicos), Porsche 917, pilotado por Boutsen e Jelinski, Porsche 962 (família Andretti e Bellof), BMW M3 GTR 1993, BMW 635 CSI (1983), Lotus 22 (1962) e 23 (1963), Ferrari 275 GTB, Porsche 904 GTS (ainda com a numeração da Targa Florio histórica), Porsche Carrera RS, Ferrari 288 GTO (1985), Mercedes 300 SL e um espantoso Hanomag (1925/1928), que mais parece um brinquedo.


 … Ao Zakspeed F1 DE 1989

No espaço reservado aos fórmulas, a curiosidade maior irá para os Zakspeed F1 de 1989 e, para além dos veículos, há ainda outros pormenores, como os já referidos motores em corte ou as vitrinas com o equipamento pessoal de Manfred Winkelhock e Stefan Bellof, não faltando mesmo a agenda de telefones deste último. Por todo o lado se encontram posters e quadros, com gravuras ou elementos informativos, completando-nos a espreitadela aos carburadores com o ficar a olhar para a parede… Mas, para total deleite do visitante, o piso superior conta com uma enorme exposição de motos, que vai das de competição às de utilização corrente; os side-car de antigamente contrastam com as motos de nomes sonantes – MV Agusta, Ducati, Norton, sendo ainda bem interessante de ver como eram as coisas nos primeiros tempos, através da Werner de 1905, da Terrot de 1913 ou da Cyclop de 1922, apenas para dar alguns exemplos.

Também nesta completa parte dedicada às motos encontra o visitante motores em corte, coisa que permite a toda a gente saber do funcionamento… é que o museu é visitado por todo o tipo de pessoas, muitas delas curiosas e interessadas, mas desconhecedoras, sendo vulgar ver um catedrático do assunto a explicar coisas aos filhos pequenos… mais interessados em se sentar ao volante do F1 – que está lá para isso mesmo… E pronto – estamos de ausgang, que é como quem diz, de saída. De novo no átrio, não resistimos à tentação de levar umas recordações, nem que sejam um postal – ou melhor, uns postais, porque a variedade é tão interessante que, uma vez mais, lá vão facturar uns marcos à nossa custa. Mas vale a pena!

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