Silverstone ou a Saudável Loucura dos Ingleses

Competição 24 Set 1996

Silverstone ou a Saudável Loucura dos Ingleses

O Coys Internacional Historical Festival, que se realiza todos os anos no mês de Agosto, no circuito de Silverstone, é um acontecimento extraordinário. Os “maluquinhos” dos automóveis antigos que visitam aquele circuito nestes dias, sentem-se como crianças de visita a um armazém de brinquedos. Não é de admirar. Para onde quer que viremos, há não só automóveis clássicos de todos os tipos e épocas, como toda uma parafernália de artigos relacionados com o tema do festival.

Durante três dias, Silverstone e os seus visitantes e concorrentes, são transportados a outros tempos. A atmosfera que ali se vive é incrível: famílias inteiras passeiam por “ruas” de vendedores de “automobilia”, onde é possível comprar desde radiadores para automóveis dos anos vinte, a posters de pilotos famosos e anúncios de época, para decorar a garagem. Os mais novos podem andar nos vários carrosséis e na pista de carrinhos-de-choque, que nos anos cinquenta e sessenta entretinham espectadores nos intervalos das corridas. Quase todos os clubes de automóveis estão também presentes no festival, procurando angariar novos sócios, e vender artigos relacionados com o tema do clube.

As Grandes Marcas

Destacam-se os stands do Clube MG e da Brabham (marcas homenageadas este ano) e a Britsol, que comemora o seu cinquentenário, mas a Bentley, a Bugatti, a Ferrari, a Stutz, entre muitas outras, expunham modelos de grande importância e qualidade. Mas não pense o leitor que só os automóveis marcavam presença: aviões, autocarros, veículos de tracção movidos a vapor, veículos de transporte de mercadorias enchiam de cor todo o relvado que serve de moldura ao circuito. Este ano também era possível dar uma voltinha num balão de ar quente, e obter assim uma vista panorâmica de todas as actividades do evento. Como também é costume, a Coys realizou um leilão de automóveis clássicos, cujos lotes compreendiam desde modelos populares, a exemplares de competição com grande relevância histórica.

Provas com Emoção

Tudo isto com um fabuloso fundo musical; é que uma das principais actividades do festival são as corridas. A grande particularidade desde evento é a possibilidade dos espectadores conversarem com os pilotos, observarem de perto as máquinas, antes de entrarem em acção e apreciar o trabalho dos mecânicos, nas afinações de última hora. No entanto, o mais invulgar é a aparente displicência com que os pilotos e proprietários tratam os seus bólidos, a maior parte de grande valor (histórico e pecuniário) utilizando-os “nos limites”.

Como resultado, os espectadores deliciam-se com provas muito disputadas e emocionantes, em que a vitória só é decidida nos últimos metros. Na edição deste ano, os automóveis de competição estavam divididos em vários grupos, e dentro de cada grupo, em várias classes. O primeiro grupo era composto por automóveis de “sport” anteriores à Segunda Guerra Mundial. Entre os modelos presentes destacavam-se os Alfa Romeo 8C Le Mans e 1750 SS, vários Aston Martin (Le Mans, Speed Model, Ulster), alguns Bentley 3 litros, dois Bugatti (T 50C e T43), Invicta S Type, e dois Lagonda (2 litros e 4.5 litros). Os automóveis de grande prémio dividiam-se em três grupos: anteriores a 1952 – Maserati 6CM, 4CM, 4 CL e 4CLT, Bugatti T35, Alfa Romeo 8C Monza, P3 e 208 e vários ERA, entre outros – anteriores a 1959 – Lotus 16, Maserati 250 F, Cooper Bristol e Ferrari 246 Dino – e anteriores a 1968 – BRM P261, Lotus 18, 21, 24, 25, 35, Brabham Bt Cooper T45, T51, T53.

Noutro grupo competiam os automóveis de grande turismo anteriores a 1963 – Jaguar E Type, Aston Martin DB4GT e P.214, Ferrari 250GT SWB, 275GTB-C e 250GTO, AC Cobra e Ford Mustang GT350 Shelby. Havia ainda corridas só com automóveis de “sport” dos anos cinquenta – Lotus 10, 11 e 15, Cooper Bobtail, Monaco, Bristol MK I, Maserati 250 S, 300 S e T61 Birdcage, Aston Martin DB3S e DBR1, Ferrari 750 Monza e 500TRC, e vários Jaguar D Type – só com automóveis de Le Mans anteorioresa 1972 – Lola T70, Ford gt40, Alfa Romeo T33, Lotus 40, Ferrari P1, 512 e 512M, Porsche 904 GTS e 906 – e só para MG – desde um modelo M Le Mans de 1930 a MGC GT de 1968.

Reviver o Passado

Houve muito poucos acidentes, embora a condução mais arriscada de alguns pilotos tenha resultado em saídas de pista. Todavia, mesmo estas situações contribuíram para o gáudio dos espectadores, empolgados por corridas a sério, e não meras demonstrações, como se de antiguidades (e não de máquinas de competição) se tratasse. A ideia que fica do festival não é tanto a sua grandiosidade, os resultados desportivos ou o valor dos automóveis envolvidos, mas antes o espírito do acontecimento. Os participantes procuram divertir-se, utilizando os automóveis de acordo com o fim para que foram idealizados, permitindo aos espectadores apreciar em acção bólidos de outros tempos.

Um Português em Silverstone

José Manuel Albuquerque foi o único português que participou nas corridas realizadas no festival da Coys. O conhecido piloto português utilizou, na corrida para automóveis de grande prémio, anteriores a 1952, um Maserati 4 CLT de 1939 (com um motor de 1498 centímetros cúbicos, com compressor). Nos treinos, as coisas não correram muito bem, porque o nosso compatriota corria pela primeira vez com o monolugar, e porque não conhecia bem o circuito. Mas na primeira corrida obteve um óptimo terceiro lugar na classe 4 (1500 centímetros cúbicos com compressor ou 4500 centímetros cúbicos sem compressor).  

A segunda corrida não correu tão bem, mas ainda assim conseguiu o quarto lugar na classe. No computo das duas mangas manteve o quarto lugar. José Albuquerque competiu também na corrida de grande turismo, com O Ferrari 250 GT SWB. Esta tinha a particularidade de implicar uma troca de piloto a meio da corrida. O piloto que fez equipa com José Albuquerque foi Gregor Fisken, o dono da conhecida empresa de venda de automóveis clássicos com o mesmo nome. Na primeira corrida, a dupla conseguiu o terceiro lugar na classe 2 (de 2001 centímetros cúbicos a 3000 centímetros cúbicos), tendo o piloto português conduzido na primeira metade da corrida. Na segunda manga o resultado não foi tão bom, muito por culpa de problemas mecânicos que afectaram o Ferrari. Mesmo assim, asseguraram o quarto lugar na classe 2, o que pode considerar-se um resultado muito positivo.

José Manuel Albuquerque disse ainda ao Jornal dos Clássicos que vai competir noutros eventos internacionais: é certa a sua participação em Nurburging e em Monza, não estando ainda definida a sua presença em Donington.

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