Alberto Oliveira: A

Clássicos 19 Ago 1996

Alberto Oliveira: A “Mercedite Aguda”

Dá gosto ouvi-lo falar, entusiasmado, desta sua paixão pelos Mercedes e pelo modelismo – produtos seus já apareceram em diversas revistas nacionais e estrangeiras – do modo como faz as coisas, das opiniões que tem sobre a vida através dos tempos, do filho, dedicado às vidas submarinas e à fotografia – essencialmente aquática, mas não só, como se vê pelas fotos que ilustram a entrevista.

Alberto Oliveira é daquelas pessoas que temos, forçosamente, de conhecer, mais tarde ou mais cedo; reformado como professor do ensino básico, com um sorriso e um dinamismo que nada têm a ver com os 71 anos do B.I., tem um objectivo que, afinal, nos é comum: divulgar o modelismo na sua faceta de construção própria: “Há muito poucos, dentro desta área; por uma questão de comodidade, compram-se os carros já feitos, ou por montar – conheço duas ou três pessoas que os montam extraordinariamente bem, mas há também aqueles que começam a montra de manhã e à noite já tem de estar pintado e tudo…” – e lá vai dizendo que o modelismo não era, até agora, levado muito a sério – “As pessoas julgavam que éramos assim uns miúdos crescidos, que à noite brincávamos com os carrinhos no tapete…

Hoje já está diferente, mas nós, portugueses, somos um bocado chatos, não gostamos de mostrar sem estar muito bem feito… Isto não sai bem à primeira, é um trabalho em que se tem de evoluir ao longo dos anos.” Só para comparação – o Mercedes de Hitler (coisa para 78 centímetros de comprimento), acabado há pouco tempo, tem 1.800 horas de construção!




Fazer ao pormenor

Por essa razão, não tem muitos modelos deste tipo no seu “mini museu”, onde há (claro!) o historial da Mercedes (a começar pelo triciclo Benz de 1886), numa fase entre 300 e 400 modelos. Dos grandes, são seis ou sete, que requerem mesmo vitrinas especiais, Jornais e televisão já falaram de Alberto Oliveira e dos seus modelos – “Mas não chega, a construção própria está muito pobre…a minha ideia é fazer a aproximação, para que venha mais gente, que se apresentem e que discutam, porque isso é que é salutar”.

E passamos à “Mercedite Aguda”: “A minha infância decorreu no tempo de guerra, sempre fui muito germanófilo e os Mercedes eram coisa que adorava. Em Portugal não havia nada disso – só havia um carro desses, de Sousa Lara, dos Açúcares de Angola e lá andava eu, de máquina fotográfica, na Avenida João Crisóstomo – e ia então ao cinema, para aproveitar e ver os documentários da guerra; quando aparecia o carro do Hitler eu fixava aquilo, tomava apontamentos… foi com essas memórias visuais que consegui ir melhorando os modelos”. Naquela altura não havia grandes perfeições, um automóvel era isso mesmo, um modelo com rodas e não a réplica exacta de tudo e mais alguma coisa, como hoje em dia. E Alberto Oliveira alternava os modelos, para ficarem parecidos com os seus Mercedes… Depois começou a fazê-los a partir de blocos sólidos…


Intercâmbio Epistolar com a Fábrica

“Um dia pensei e escrevi para a Mercedes Benz, referindo que fazia miniaturas e que gostava de fazer o 540K de Hitler, mas não tinha elementos suficientes que me garantissem que o carro ficava à escala. Mandaram-me fotocópias dos planos, fotografias do carro aberto, fechado, etc. A partir daí, tenho correspondência constante com eles, que são extraordinários”.

Das facilidades às complicações: “Pretendo que o modelo fique o mais artesanal possível, mas há coisas que não posso fazer – não tenho torno, mando tornear as jantes fora, é uma dificuldade, porque não estão habituados a fazer isso, começo a explicar e ainda julgam que me estou a imiscuir na arte deles…”. Prefere fazer peças e materiais à mão, em vez de usar as máquinas: “Podia pintar os carros à pistola, mas já não é a mesma coisa… faço a pincel e tenho um certo orgulho de as pessoas pensarem que foi mesmo pintado à pistola… Com os radiadores, faço os moldes em madeira e mando fundir em latão, mas o acabamento é todo feito por mim”.


Mesmo que Saia Tosco

Dificuldades em obter os pneus dão direito a algumas histórias terminadas com gargalhadas, até porque obrigam a subtilezas… Para um novo projecto, Alberto Oliveira já tem os pneus, mas aguarda os planos – “e estou à espera de que o torneiro me diga se é capaz de fazer as jantes, que são de enraiar – muito difícil – e se não ficarem muito bem feitas, aquilo não dá” … só depois de ter estas certezas é que avança.  Para quem quer começar, Alberto Oliveira dá uns conselhos: “Tentar fazer, sem querer que saia bem à primeira. Pegar num bloco de madeira e tentar moldar um carrinho, não sai bem ao primeiro, nem ao segundo, mas se calhar ao décimo já sairá. Mesmo que saia tosco, olhamos para aquilo e sentimo-nos realizados – foi feito por mim, com esforço, como eu queria, não há nenhum igual!”. A conversa teve mais, muito mais coisas interessantes, como daquela vez em que Alberto Oliveira foi convidado para fazer modelos “em série”; mas essas histórias ficam para mais tarde, até porque os interessados na construção própria, já existentes ou em vias disso, devem dizer que estão por aí. E, querendo, podem ligar o 966 090 700, rede de Lisboa – o Professor Alberto Oliveira está à vossa espera.

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