Competição • 22 Jun 2017
Competição • 18 Ago 1996
Em Vila Real, Há 60 Anos – Vasco Sameiro Ganha o I Circuito Internacional da Cidade
Há precisamente 60 anos, Vila Real chamava a si o privilégio de passar a constar nos calendários internacionais da competição automóvel. Nesse dia, 26 de Julho de 1936, sete pilotos portugueses e ingleses eram os protagonista da I edição do Circuito Internacional da bela cidade transmontana: um importante marco histórico no panorama do automobilismo desportivo nacional.
Para além do aspecto desportivo, a prova que foi organizada pelo Automóvel Clube de Portugal, revestiu-se ainda de assinalável interesse a nível político, que levou o próprio Presidente da República e alguns dos mais destacados elementos do governo de então a deslocarem-se a Vila Real. Na pista, os participantes portugueses tinham nomes prestigiados das corridas de então: Vasco Sameiro e Manuel Soares Mendes que alinharam em dois Alfa Romeo 8C 2300 Monza, e Ribeiro Ferreira e Jorge Monte Real que pilotaram dois Bugatti, respectivamente um 51 e um 35C.
Os Primeiros Estrangeiros
Da Grã-Bretanha deslocaram-se a Vila Real três corredores: Rayson, que alinhou também com com um 35C e Briault e Colegrave, ambos em ERA 1500. Num programa que inclui ainda uma prova de categoria Sport, disputada anteriormente e que também contou com alguns estrangeiros, aquela, classificada por categoria de Corrida, era a principal e, por isso, a mais aguardada. A partida foi dada em função dos tempos alcançados nos treinos, e não por sorteio. Medida mais que discutível e injusta até aí adoptada, e, de imediato, Ribeiro Ferreira passa ao comando, seguido de Jorge Monte Real, do inglês Rayson e de Vasco Sameiro que à quarta volta faz a média de 106,16Km/h, a melhor registada até à ocasião.
Vitória de Vasco Sameiro
A supremacia de Vasco Sameiro consolida-se gradualmente e, duas voltas depois, ocupa já o segundo posto, mas na sétima passagem pela meta, é dele o comando da corrida, que não viria a largar até completar, em 2h04m e 12,8s e à média de 104,33Km/h, os 216 quilómetros das 30 voltas que constituíam o percurso, fazendo ainda a volta mais rápida da corrida (e a sua 21ª) em 4m00,8s, à média de 107,64Km/h. Os segundo e terceiro lugares foram conquistados por Ribeiro Ferreira, que somou mais 1m16,2s que o vencedor, e por Rayson, que cortou a meta apenas a 14,6s deste piloto português.
O quarto posto foi para Soares Mendes, que não conseguiu mais que 97,52Km/h de média na sua melhor volta, enquanto Jorge Monte Real ainda se classificou em quinto apesar de quando ocupava o segundo lugar ter parado à 26ª volta, com o motor do seu 35C gripado. Os dois ingleses pilotos dos ERA, não chegaram ao fim. Colegrave quedou-se pela 11ª volta, com problemas de embraiagem, e Briault parou à 19ª, com uma mola de suspensão dianteira partida. Faltaram, é certo, na internacionalização do circuito, portugueses de créditos firmados como Manuel Nunes dos Santos, D. António Herédia, Henrique Lehrfeld, Alfredo Rego, Casimiro e António Oliveira, mas apesar destas ausências, a prova constituiu um êxito.
Uma Festa Chamada Vila Real
Para além da victória de um corredor como Vasco Sameiro, já com nome consolidado além-fronteiras, nomeadamente no Brasil, o I Circuito Internacional de Vila Real constituiu um marco fundamental na história do automobilismo de competição nacional, mesmo que tenha visto encerrado o seu ciclo de grande projecção em 1974. É que havia um fim-de-semana de Julho, em que anos após ano, por ocasião das “corridas”, Vila Real se transformava. Não era apenas o circuito a viver horas de frenesim e expectativa, de angústia e desânimo, mas também de alegria, mesmo euforia.
O ambiente extravasa para a urbe: havia nesses dias uma cumplicidade saudável entre os milhares de forasteiros e os residentes que os acolhiam, como que num acto de liturgia que, anualmente, era aguardado, por uns e por outros, como uma forma muito especial de se ocuparem de um tema que lhes era muito querido. Quem, nos anos 60 e 70, foi a Le Mans, por ocasião das suas “24 Horas” encontrará forçosamente certas comparações com algumas das vivências de Vila Real. É pena que a Curva de Mateus ou a Recta das Tribunas já não sejam testemunhas das tardes do enorme entusiasmo que as “corridas” levavam à cidade. Vila Real era nesses dias uma festa!