Clássicos • 07 Jan 2023
Vídeo da semana: Uma volta noturna ao volante de um Alfetta GTV
A Alfa Romeo é uma marca mítica, que pertence ao imaginário de qualquer apreciador de automóveis. Fundada em 1910 – existia desde o princípio do século como sucursal da Darracq – cedo se destacou no fabrico de máquinas de excepção. As vitórias em competição contribuíram para o prestígio da marca. No entanto, apesar de ter fabricado alguns dos mais belos e velozes automóveis dos anos 20 e 30, isso não se traduziu em lucro. Depois da Segunda Guerra Mundial urgia ultrapassar o fabrico artesanal e lançar a marca na produção em série. Esta difícil tarefa coube a Horazio Satta Puliga, um brilhante engenheiro, que seria responsável pelos modelos que a marca fabricaria até ao fim dos anos 70.
O primeiro modelo desta nova filosofia foi o 1900, o primeiro monobloco da firma. Seguiu-se-lhe o bem-sucedido Giulietta, nas suas versões Berlina, Sprint e Spider substituídos pelo Giulia em 1962, que não introduziu grandes inovações. Porém, já em 1955, o espírito criativo de Baptista Pininfarina iniciara uma linha de protótipos que iriam dar o mote para o aparecimento do novo Spider da Alfa Romeo. O Salão de Genebra de Março de 1966 foi escolhido para a apresentação do novo modelo. Baptista Pininfarina morreu no dia 3 de Março desse ano tendo sido o Spider o último modelo totalmente concebido por ele.
O novo modelo não tinha nome porque a Alfa Romeo decidiu efectuar um concurso internacional para o baptizar. O referendo foi um sucesso com 140 501 sugestões – algumas muito originais como: “Nuvilari”, “Pizza”, “Sputnik”, “Al Capone”, “Surf”, “Edelweiss”, “Acapulco”, “Zeus”, “Gin” e “Hitler”.
O vencedor que ganhou um exemplar do novo Alfa Spider foi Guidobaldi Triomfi de Bréscia, que sugeriu “Duetto”. De início a crítica não foi muito favorável ao estilo do novo Alfa Romeo: a forma de uma eclipse quase pura não era perturbada por nenhuma aresta viva. Para tanto contribuíram a carenagem dos faróis (fabricados por Carello) e os flancos esculpidos de uma forma discreta e aerodinâmica. Quanto às caraterísticas dinâmicas, o novo Spider adoptava o motor do Giulia Sprint GT com 109 cv DIN, e juntamente com a caixa de cinco velocidades, travões de disco às quatro rodas e suspensão moderna, conseguiu a unanimidade. A revista inglesa “The Motor” no seu ensaio ao Duetto em 1967 disse sobre ele: “Rápido e divertido, as performances são boas (180Km/h; 0-100 Km/h em 11.3 segundos)”, o comportamento em estrada é excelente e a condução é soberba.
Em Janeiro de 1968 foi apresentado, no Salão de Bruxelas, o substituto do Duetto, o Spider 1750 Veloce. Para além do motor maior e mais potente (118 cv DIN) as alterações foram de pormenor. Em junho desse ano surgiu o Spider 1300 Junior, dirigindo em especial ao mercado italiano – devido aos encargos fiscais mais onerosos para veículos de maior cilindrada – com menos equipamento e sem cobertura dos faróis também por razões de economia. Em Novembro de 1969 surgiu uma alteração estética muito importante nos dois modelos Spider: a traseira deixou de ser arredondada e comprida – “Coda Longa” – e passou a ser mais curta, terminando abruptamente – “Coda Tronca”. Além disso os para-brisas e os vidros laterais eram mais inclinados e os para-choques do novo desenho incluíam uma tira de borracha.
O novo desenho foi considerado por uns mais viril e personalizado, mas outros consideraram que desvirtuava a linha original e pura do mestre Pininfarina. Por esta altura as vendas do Spider tiveram uma ajuda inesperada: nos Estados Unidos o filme “The Graduate” (em Portugal “A Primeira Noite”) foi um êxito. Neste filme Dustin Foffman e um Alfa Romeo Spider tinham os papéis principais. Como consequência do filme se tornar objecto de culto dos jovens americanos (e não só) as vendas do Spider aumentaram.
Em junho de 1971 o 2000 Veloce substituiu o 1750. A única diferença exterior em relação ao 1750 eram os puxadores de portas, com um design muito elegante e discreto – “copiados” pela Ferrari para o Mondial e série 400 – e o logotipo na traseira. O novo motor com 133 cv DIN. Permitia ao movo modelo aflorar os 200 Km/h. Em alguns mercados, a partir de 1972 estava disponível a 1600 Junior. Já em 1982 uma nova alteração estética veio denegrir a imagem do Alfa Romeo Spider, com a introdução de um Spoiler traseiro de grandes dimensões e a quase total dipressão de grelha na frente. No entanto, e principalmente nos Estados Unidos, o Spider continuou a vender-se bem. Só em 1991 o modelo descapotável da Alfa Romeo voltou a ser bonito, fruto de um “restyling” da casa de Pinifarina que lhe devolveu a graciosidade e a pureza de linhas. Em 1993 cessou a produção do Spider e anunciou-se um novo modelo, apresentado no ano seguinte, com uma filosofia completamente diferente. Assim, o Spider apresentado em 1996 foi produzido durante 27 anos e se os modelos mais recentes não podem (ainda) ser considerados clássicos, os outros podem e devem, por direito próprio sê-lo.
O habitáculo do 1600 Spider Duetto era sóbrio, mas elegante e pleno de caráter. O volante de três braços precedia dois mostradores circulares enormes: o velocímetro e o conta-rotações. O manómetro de pressão de óleo e os indicadores de combustível e da temperatura encontravam-se no centro do tablier orientados para o condutor. O referido tablier era pintado da cor da carroçaria. O interior era revestido a napa. Com o aparecimento do 1750 não houve grandes alterações à excepção do aumento do tamanho do cinzeiro colocado sobre o túnel de transmissão e o volante com aro de madeira. Em relação ao Alfa Romeo Junior a diferença a destacar é o volante de apenas dois braços. A partir de 1970 o 1750 beneficiou de uma consola, revestimento do tablier e alteração no desenho dos mostradores, agora separados. Também os pedais da embraiagem e do travão passam a estar suspensos. O 2000 Veloce diferia do habitáculo do 1750 por ter os bancos revestidos em pele. A partir de 1980 o habitáculo do Alfa Spider plastificou-se perdendo a elegância das versões anteriores.
Quando o Spider era novo só estava disponível em Portugal por encomenda, mas em 1969 o 1750 Spider Veloce custava 165.322$00 e o 1300 Junior 144.378$00. Em 1971, já com o novo desenho da traseira o preço do 1750 subiu para 174.496$00 e o 1300 para 148. 590$00. A título de comparação um Triumph TR 6 Pi, com motor maior e mais potente custava nesse ano 156.650$00. Actualmente encontrar um Spider à venda não é muito difícil: até 1975 foram fabricados aproximadamente 50 mil exemplares. Destes, a maior parte são 2000 Veloce e os mais raros o 1600 Duetto e o 1300 Junior “Coda Longa”.
Os principais problemas de que sofre um Alfa Romeo Spider estão relacionados com o mal que afecta a maior parte dos automóveis italianos, desde longa data: a ferrugem. Os pontos mais sensíveis são a zona da mala, já que o escoamento das águas da chuva não é eficaz em nenhum dos modelos e os guarda-lamas dianteiros e traseiros. Os painéis da carroçaria para o Duetto e os restantes modelos de traseira arredondada são difíceis de encontrar, o que já não acontece com o modelo da traseira “cortada”. Para detectar a existência de ferrugem é necessário um exame cuidadoso da carroçaria. As bolhas na pintura são um indício, mas muitas vezes, quando estas surgem já os painéis interiores estão muito corroídos. Isto deve-se ao facto de a maior parte das vezes, a chapa escondida por revestimentos de napa ou borracha não ter sido pintada na fábrica, nem cuidada de forma a prevenir o aquecimento de ferrugem. Esta situação levou a que os Alfa Romeo ganhassem fama de começarem a enferrujar ainda na fábrica…
Quanto à componente mecânica, o Twin Cam da Alfa é uma unidade fiável, quando objecto de uma manutenção cuidada. De qualquer forma, mesmo quando maltratado, a sua recuperação não é difícil, visto que todas as peças estão disponíveis. No entanto, como em todas as mecânicas complexas e exóticas, deve exigir-se uma “mão experimentada”, principalmente no tocante à afinação dos carburadores. Se está interessado em adquirir um Alfa Romeu Spider não se precipite, prefira um modelo com história conhecida – facturas de manutenção e outros registos que possam atestar o cuidado do(s) proprietário(s). Examine atentamente a carroçaria, recorrendo se possível a um perito, para que não haja surpresas desagradáveis. Só desta forma pode evitar que o seu romance de Verão se transforme num desgosto de amor.
Um modelo nas condições atrás referidas terá um valor aproximado de 2.500 contos. No caso de um exemplar com poucos quilómetros e uma apresentação excepcional, ou um dos modelos mais antigos, um Duetto (que é o mais raro) ou um 1750 Spider Veloce (o mais aperciado pelos puristas), o valor pode subir para perto dos 3.000 contos. O hardtop é uma opção de época muito valorizada, embora não favoreça as linhas arredondadas do Spider. Para informações mais detalhadas sobre qualquer modelo Alfa Romeo, anunciamos que um núcleo de associados do CPAA tem vindo a desenvolver intensa actividade no sentido de congregar os “Alfistas” do nosso país.
Em conclusão, o Alfa Romeo Spider é um clássico que permite uma utilização quotidiana sem grandes problemas, tendo cada um dos diferentes modelos as suas virtudes e os seus desfeitos. A raridade e a beleza dos modelos mais antigos, e a flexibilidade e o equilíbrio do motor do 1750 são contrabalançadas pela funcionalidade e prestações do 2000, cuja maior divulgação facilita a obtenção de peças e a sua manutenção. É mais importante a escolha de um bom exemplar, do que propriamente o modelo. Se já se decidiu, boa sorte!
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