Clássicos • 19 Mar 2016
Clássicos • 04 Abr 1996
Em Frielas com Raimundo Branco
Continuamos a “bisbilhotar” algumas oficinas onde se restauram automóveis históricos ou clássicos. Estas linhas não são um levantamento exaustivo – mais um “prazer em conhecer”. Desta vez fomos para os lados de Frielas.
Quem espera dar com um “santuário” de clássicos, está muito enganado; à mistura com o Alvis Speed Twenty que, quase “na pele”, vai sendo tratado e com o MGB “californiano” cujas tendências estão a ser trocadas por outras mais europeias, um dos mestres da chapa trabalha a frente de um Fiat Uno, paredes meias com dois Cooper S em diferentes estados de tratamento e o próprio Raimundo Branco está à volta de um vidro de porta num BMW bem actual…

Oficina de Raimundo Branco, em Frielas

Um Cooper S prepara-se para sair impecável
“Isto é uma oficina normal, aberta para automóveis de todo o tipo, sempre trabalhei com automóveis mais antigos, mas os restauros de clássicos começaram quase sempre a brincar…estamos a reconstruir automóveis antigos derivado às relações das pessoas com quem convivemos – um dos grandes impulsionadores para eu começar com isto foi Rui Bevilacqua… depois outros, como Fernando Soares, ou Albino Abrantes… e, claro, a minha paixão pelos automóveis! Trabalho neles desde os onze anos, já tenho 48…”
Os restauros são feitos com muito cuidado, por quem sabe do ofício e com uma ajuda dos próprios clientes; mas vamos por partes – antigos e actuais, porquê?
Não dá para estar virado apenas para os clássicos, não dá defesa; para isso, ficava tudo muito caro para os clientes. A minha hora de mão de obra está a 2.800800, mas para estes trabalhos não posso pôr esse preço… por vezes é ao preço a que saem os operários!
Operários que, dependendo da especialização, vão sendo mais difíceis de encontrar…
Hoje em dia, é tão difícil trabalhar em automóveis antigos… as pessoas que hoje trabalham no ofício dos automóveis querem coisas mais simples, não querem coisas com que se ralem…
Nas instalações, com a secção de pintura em fundo, movimenta-se uma dúzia de pessoas , entre bate-chapas (quatro), mecânicos (dois) e pintores, já que os trabalhos de electricidade não têm uma secção própria, mas é um especialista na matéria que trata do assunto…
É muito difícil arranjar pessoal para isto tudo… ainda meti um projecto à câmara, para tentar aumentar a oficina, para fazer mais um andar e, com os “mestres” mais antigos que tenho, ensinar os novos nestas artes e ofícios… até porque trabalhar nos automóveis novos é muito diferente! Mas não deixaram…
Raimundo Branco não tem um restauro que tenha dado mais prazer que outro, comenta “Cada automóvel que se arranja é um prazer que se tem”. Quanto à pesquisa, é aqui que entra a ajuda dos clientes; as réplicas Mini Cooper S do Rali de Monte Carlo, por exemplo, tiveram apoio directo dos interessados – Albino Abrantes foi um deles.
Como acontece com o material necessário, na maior parte das vezes conseguido pelos clientes?
Não temos organização para funcionar no tipo “traga cá que eu resolvo”. Não estamos completamente virados só para os clássicos.
O que começou quase por brincadeira, é um negócio com vários clientes em carteira…
Que podiam ser mais se às vezes não fosse tão demorado com as reparações… há gente que pensa que recuperar um veículo clássico é chegar e já está.
O MGB, que está a “desamericanizar” (tablier e para-choques, por exemplo, são diferentes dos “europeus”) estava com trabalho previsto para um mês – o Alvis, talvez um pouco mais…


MGB GT e Porsche 911 em andamento de trabalho
Antero Pereira – o “clássico”
No que respeita aos clássicos não se pode falar de Raimundo Branco sem falar de Antero Pereira. O “patrão” tem outra oficina em Loures e, quando abriu esta, há de haver uns seis ou sete anos, convidou-o para responsável pela parte mecânica; e Antero trouxe consigo o “bichinho” dos automóveis de época.
Raimundo Branco refere, “O primeiro automóvel antigo que reconstruí aqui deve ter sido o MGB de Frederico Oom; começou tudo por uma conversa do estilo – O meu automóvel vai a concurso e nunca ganha porque o cofre do motor está com mau aspecto… – deixe estar que vou tratar disso… Este terá sido o princípio”.
Rui Bevilacqua foi um dos impulsionadores, segundo Raimundo Branco. Como Foi?
O Jaguar XK 120 foi cá pintado e estive a ajudar a montá-lo; ainda cheguei a arranjar o Austin Sprite… e pronto. A partir daí foi o Fiat 600, a réplica Abarth de Albino Abrantes, outra réplica Cooper S Monte Carlo, um Mini 1275 GT que hoje em dia é de Pedro Pardal Monteiro, depois Fernando Soares… – cujo Austin Cooper S ex-Manuel Gião está em fase de jacto de areia, para ficar rigorosamente à época.
Essencialmente trabalhamos com automóveis ingleses e leva-se tudo à chapa; é tudo “descascado” e depois começa-se pelo princípio e leva-se o processo até ao fim.
Antero Pereira lá ficou escondido por baixo do MGB, o “boss” lá ficou de volta do vidro do BMW; clássicos e actuais, ali para os lados de Frielas, nas instalações que ostentam um nome que está a criar mais e mais fama: Raimundo Branco, Lda.