Os Palma e os automóveis

Competição 01 Abr 1996

Os Palma e os automóveis

Com Manuel e Augusto Palma, estamos a falar de automóveis, de visita em visita a locais onde se radicou a paixão, com início nos anos 40. Agora, com Augusto Palma e ao sabor da memória, paredes recheadas de troféus e oficinas onde estão fotos que a poeira não escondeu, revisitamos a Palma e Morgado e o Team Palma, entre nomes, percursos, pilotos, corridas e cenários sem conseguir abarcar tudo. O perfil está traçado e sobra imenso por dizer. Outro dia, qualquer dia.

É nos anos 40 que Manuel José Palma funda um nome que dentro em breve se constituiria como uma das casas referência no meio automóvel nacional e internacional, muito virada para as grandes marcas e para o automóvel de competição: Palma e Morgado Companhia Lda.

Com Joaquim Morgado como sócio instala-se na Avenida Elias Garcia 106-108 em Lisboa onde hoje, decorridos mais de 50 anos, está sediada a Auto Imola com Augusto Palma na gerência continuando ligado aos automóveis, assistindo a Jaguar além de proceder a restauros e reparação de clássicos, por exemplo um Cooper S, que ali vimos quando em visita. 



Manuel Palma, ao contrário do seu sócio, que não conduzia como piloto, começa a percorrer cada vez mais o meio do desporto automóvel participando em competições porque, na verdade desde os anos 30, já sentia um “bichinho” por estas coisas, tendo participado entre outros, no Rally de Coimbra a 1 de Agosto de 1936 onde conquista o 18º lugar ou na Rampa do Gradil a 13 de Março de 1938 aos comandos de um Hansa obtendo o 14º da geral.  

Na década de 40, Manuel Palma surge ainda mais forte e participa nos Rallye à Foz do Arelho e no II Rallye Internacional de Lisboa, onde conquista o sétimo lugar da geral, ambas em 1948. Ano seguinte, novas proezas ao conquistar o 21º lugar na XIX edição do Rallye de Monte Carlo a 24 de Janeiro de 1949 – a melhor classificação, de então, entre os inscritos portugueses – e, a 26 de Maio de 1949, o décimo lugar no III Rallye Internacional de Lisboa e, no I Rallye a Setúbal, a 17 de Agosto de 1949 como vencedor absoluto. Eram os anos 40 e o período Ford, modelo de 100cv que muito daria que falar.

Manuel Palma e os tempos áureos dos Monte Carlo de anos 50, sempre com Ford 100cv Convertible.


Anos 50, cada vez melhores

A carreira de Manuel Palma em provas de desporto automóvel vai atingir pontos mais altos ao longo dos anos 50. Por outro lado, a Palma e Morgado Lda., é nesse período uma das mais fortes preparadoras de modelos para a competição e por ela passam os nomes de pilotos e as máquinas desportivas do maior gabarito nacional, sobretudo aqueles nomes que iam fazendo história no automobilismo de então, radicados na região de Lisboa e no Centro e Sul de Portugal. Jorge de Monte Real, Fernando Mascarenhas, Daniel Magalhães, Manuel Nunes dos Santos, entre muitos outros.

A década de 50 começa para o “Clã Palma” com uma vibrante proeza quando, em Janeiro de 1952 a disputar a XXII edição do já muito famoso Monte Carlo, fazendo equipa com Jorge de Melo e Faro Conde de Monte Real, e D. Fernando Mascarenhas, no mesmo Ford 100cv, arrebata o segundo lugar da geral e, para 1953 entre 10 e 12 de Julho e ainda no Ford, se classificar em primeiro lugar da classe IV acima dos 2500cc, no primeiro Rallye Lisboa-Madrid, concentração turística com organização do 100 à Hora e onde participam 31 concorrentes dos quais onze estavam ao comando de motos. O palmarés não para de aumentar e Palma classifica-se em quinto da sua classe, num Ford, no II Rallye Lisboa-Madrid a 21 de Agosto de 1954 fazendo em 1955 equipa com o filho Augusto aos comandos de uma Ferrari 166 MM “Barchetta” de 2,0 litros, classificando-se no quinto posto da sua classe no II Rallye Fim do Ano a 31 de Dezembro. Depois, vêm a Mille Miglia.

Participa então com Fernando Mascarenhas numa das clássicas de todo o mundo realizada em Itália, edição de 1956. A 18 de Maio, ao volante de um Mercedes-Benz 300 SL “Gullwing”, conquista o 31º posto da classificação geral e o nono na categoria nas famosas Mil Milhas cujo “terminus” seria dita do ano seguinte, em 1957, pelo brutal acidente do Ferrari 335 S com dorsal 531 da equipa Alfonso de Portago-Edmund Nelson (o espanhol Marquês de Portago havia corrido no Porto em 1956 no Grande Prémio, Circuito da Boavista aos comandos de um 250 GT da Ferrari, sagrando-se vencedor) quando encontra a morte que colhe nove espectadores, numa recta em Guidizzollo, então no terceiro posto a galvanizante velocidade perseguindo a vitória a escassa distância da meta em Brescia. 

No final de década de 50, averbavam-se ao palmarés de Manuel Palma um primeiro lugar no Grupo e Classe no Rallye do ACP, a 23 de Outubro de 1958 com um Jaguar e, em 1959 a 5 de Março, terceiro da geral num Porsche 356 com Augusto Palma como co-piloto no Rallye Internacional Aveiro-Estoril. 

Jorge Monte Real , Ford
Porto, com Fernando Mascarenhas e Ferrari
Filipe Nogueira com a Ferrrari acidentada
Scuderia Ferrari na Palma e Morgado
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Jorge Monte Real, Fernando Mascarenhas e Manuel Palma em Mote Carlo, um ano antes do segundo lugar, à geral num Ford


Do início dos anos 60 ao Team Palma 

Data de finais de anos 50 início dos 60 a estreia das segundas instalações Palma e Morgado na Avenida Visconde Valmor, 1968 em Lisboa. Ampliam-se as instalações ao mesmo tempo que Manuel Palma continua a participar activamente em competição com os seus automóveis, com natural destaque para as marcas Jaguar, BMW, Austin ou Morris Mini Cooper e a Volkswagen (“Carocha”, melhor não vem a propósito e sem que nos possa “escapar” o facto de Augusto Palma ter preparado um desses “Carocha” com motor 1600cc…Porsche!) com mais uma mão cheia de participações em Monte Carlo, entre 1960 e 1965 e agora também com o seu filho ao volante, ele que desde os Austin A30 e 35, os Volkswagen “Carocha”, os Mini Cooper S nos tempos do Lopes Gião ou do Manuel Baptista dos Santos, fazendo equipa com os nomes grandes desse tempo como Mané Nogueira Pinto, seguia as pisadas do pai, fosse para onde fossem. Conquista prémios nos Rallye do Benfica, Volta a Portugal e vários Troféu Art e Sport, apenas para lembrar alguns. Nessa época, era na Palma e Morgado a época dos Jaguar em que se vinham especializando e época de uma certa Lotus que representariam desde 1967. 

Com Jaguar MK II, no “Monte” 1960. Augusto Palma ao volante com Fernando Pinto Basto e Manuel Palma.


Chega 1966 e com ele o esboço do futuro Team Palma que tanto daria que falar. Augusto Palma vai a Inglaterra e regressa com um soberbo Ford Cortina com motor Lotus, preparação fábrica, automóvel oficial Ford ex- Jim Clark, preparação BRM Phase III de 155cv “puxado” para Phase IV que o atirava para cerca dos 175cv de potência. Entre outros circuitos, com ele participa em Montes Claros, também em Vila Real. Finalmente, situado nos anos de 1967 e 1968, funda-se o Team Palma e abre o Departamento Competição da Palma e Morgado, na Avenida Visconde Valmor. Em finais de 1966, três dos quatro Lotus 47 importados para Portugal correm com as cores do Team, nas mãos de Jorge Moura Pinheiro, Nogueira Pinto e Luís Fernandes. O quarto modelo, importado por Palma e Morgado, seguia para o norte, para o Porto, para correr com Carlos Santos. Um destes 47, de que era piloto Moura Pinheiro, acabaria, destruído num incêndio. Nomes de alguns pilotos que corriam pelo Team Palma eram credenciais de vitória, lembrando Joaquim Filipe Nogueira, Mané Nogueira Pinto, Ernesto Neves ou António Portela de Morais entre outros. 

O ano de 1967 leva o Team Palma ao Brasil com Augusto Palma como Team-Manager inscrito nas Mil Milhas de Interlagos e participações na pista de Jacarépaguá. Então, parecia que os pilotos do Team faziam um certo “furor” em entrevistas para os media por causa dos resultados (as equipas alinhavam Nogueira Pinto-Posser de Andrade Villar em Porsche 911 S – terceiro lugar na geral em Interlagos; Manuel Palma – António Peixinho em Ford Cortina Lotus e Carlos Santos – Luís Fernandes em Lotus 47).

Chegam depois os Ford Escort 1600 “Twin Cam”, nesse período de 1967 e, para anos 70, surge o Chevrolet Camaro com que o Néné tanto faz corridas e depois um Ford Capri 3000. Nessa altura, por 1970, A Palma e Morgado fica com a firma A. Mendes e Almeida, representante da Jaguar e passa a representar a marca em Portugal. Em 1972, Ernesto Neves corria com um GRD do Team um dos dois que vieram para cá em 1972, o outro foi para o “Lumaro”. Em 1973, fim de Julho, morre Manuel Palma e pode-se dizer que o Team Palma tem aí o seu epílogo. 

No ano de 1974, com os problemas no pós-Abril onde toda a clientela de automóveis desportivos desaparece do circuito, deixam de haver clientes, instala-se a crise numa empresa que comercializava marcas de prestígio tais como Lotus, Jaguar e Jensen. As corridas também se alteram e, embora mantida até início dos anos 80, a Palma e Morgado Lda., e o seu Team que tanto haviam dado ao meio do automóvel e automobilismo nacionais, nunca mais seriam os mesmos. Os tempos ditaram o final de épocas de glória de que agora apenas nos ficam as imagens. Algumas de muitas outras que este artigo revela. 

Nos Box, Porto, anos 60 Manuel Palma de braçadeira com Jaime Rodrigues, Pinto Bastos e José Videira.

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